mais clareza, por fineza

A ditadura da imoralidade 02: MAIS CLAREZA, POR FINEZA 

 
Chego cedo no trabalho
Pra poder ler meu jornal.
Procuro o noticiário,
Diz que está tudo legal.
E publicam com destaque
A fala do Maioral.

Não sei se entendi direitim…
O texto era bem assim:

“Bola esmão pro povolsa
oto é vido garantisto
ou passeatro var quanos
mas já vrono tara o polto”.

Na hora do meu almoço
Ligo logo o meu radinho.
Quero ver o que há de novo
Cruzando no meu caminho.
Ouço a fala do ministro
que discursa com carinho.

Não sei se entendi direitim…
A fala era bem assim:

“A evonomia cai bem
brasisco o baixo é ril
amos vaumentosto o impar
pra enbolso o nosso cher”.

No nosso lanche de hoje
Fizeram reunião.
Todo mundo liberado,
Todo mundo no salão.
O diretor nos mostrou
Os novos planos de ação.

Não sei se entendi direitim…
O plano era bem assim:

“Os acionigem existas
precisar mais trabalhamos
se aumental o capitar
vovão cês chupedo o dar”.

De noite, ao chegar em casa,
Fico em frente da tevê.
Eles sempre apresentam
De todo fato, o porquê.
A notícia era boa,
Vou transmitir a você.

Não sei se entendi direitim…
A nota era bem assim:

“Tosso nal carnavaemos
A cachol e o futebaça.
Til azudo no Brasul
O paões dos bobalhis.”

(vozes: Leo, Felipe, Bruno e Carolina)

Curitiba, 23.11.1977
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vende tudo o que tens, e segue-me

A DITADURA DA BURRICE 02. VENDE TUDO O QUE TENS, E SEGUE-ME


Não era ensolarado o dia em que chegaste,
não era não, decerto, mas, todo esse frio,
quem o trouxe até nós, e quem, o desvario
plantou em nossa casa, horror que se não baste?

Não foi a nossa sorte, a sorte a que libaste,
com o vinho, sangue negro atroz, formando um rio
e a música estertor do enfurecer vadio
e os lobos no covil, comandando o desbaste!

Não foi pensando em nós que pensaste a loucura,
nem foi a defender-nos que armaste a armadura,
e nem à nossa causa empregaste o coveiro.

Tudo isso, a falcatrua, o desconsolo, a agrura,
todo esse desatino, a infecção, a tristura,
tão só por engordar teu saco de dinheiro.

Curitiba, 28.09.1977
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reflexão pequenininha

CANÇÕES DIVERSAS 01. REFLEXÃO PEQUENININHA


Perdido no nevoeiro
da vida mal percebida,
pensei em pensar, primeiro,
pra não errar toda a vida.

Mergulhei no contratempo
pra vencer o mundo meu.
Não queria perder tempo,
mas o tempo me perdeu.

Me achado no nevoeiro,
Eu pude entender a vida.
Fui meu próprio timoneiro
pra ter vida bem regida.

Criei o meu passatempo
Mas meu mundo envelheceu.
Queria enganar o tempo,
mas o enganado fui eu.

Curitiba, 1976
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