As Aventuras de Hans Staden
Capítulos 9 e 10
09 – Rumo à taba
A captura de Hans – continuou Dona Benta – deu-se ali pelas quatro horas da tarde, e como a taba fosse longe, resolveram os tupinambás dormir numa ilhota do caminho. Saltaram das canoas e as vararam em terra.
O pobre artilheiro achava-se em mísero estado; além de nada enxergar, pois tinha o rosto em sangue, não podia mover-se, devido ao ferimento da perna. Assim é que ficou deitado na areia, enquanto os índios preparavam o pouso. Naquela imensa aflição pôs-se a rezar um salmo, com os olhos em pranto. Ao vê-lo nesse estado, os índios escarneceram.
– Vede como chora! Ouvi como se lamenta!
Em transes idênticos os prisioneiros indígenas mostravam grande arrogância e profundo desprezo pela vida; arrostavam os seus matadores, ameaçando-os com a vingança dos amigos e parentes. Os brancos, porém, em geral se acovardavam, choravam e pediam misericórdia.
Os tupinambás acenderam fogueiras e deitaram o prisioneiro numa rede armada entre duas árvores, atando aos galhos as pontas das cordas manietadoras. Depois se acomodaram em redor, exclamando com ironia:
– Che remimbaba indé. – És meu animal doméstico. Continue lendo “Monteiro Lobato”