GIL VICENTE 02. AUTO PASTORIL CASTELHANO (1502)

o anjo

Resumo:

Pastores guardam seu gado. Quando estão dormindo, um anjo aparece a um deles e anuncia o nascimento do Redentor. Um pastor explica aos companheiros as profecias sobre o nascimento do menino. Vão-se ao presépio, oferecem seus presentes e saem cantando.

GV002. Gil

Menga Gil me quita el sueño,

Que no duermo.

(canta Geovani Dallagrana)

GV003. Anjo

Ha pastor!

Que es nacido el Redentor.

(canta Jaqueson Magrani)

GV004. Todos

Aburremos la majada,

Y todos con devocion

Vamos ver aquel garzon.

Veremos aquel niñito

De agora recien nacido.

Asmo que es le prometido

Nuestro Mexias bendito.

Cantemos a voz en grito.

Con hemencia y devocion,

Veremos aquel garzon.

(cantam Geovani Dallagrana, Gerson Marchiori e Graciano Santos)

GV005. Todos

Norabuena quedes, Menga,

Á la fe que Dios mantenga.

Zagala santa bendita,

Graciosa y morenita,

Nuestro ganado visita,

Que ningun mal no le venga.

Norabuena quedes, Menga,

Á la fe que Dios mantenga.

(canta João Batista Carneiro)

GV006. Todos

Laus Deo

(canta Kátia Santos)

Comentário:

Esta seria realmente a primeira peça de Gil Vicente, com personagens definidos e um pequeno enredo. Há o pastor solitário e sonhador, que conhece as profecias e citações em latim, há o que gosta das festas da aldeia. Ainda é em castelhano. Aqui também já percebemos uma das características vicentinas: a introdução de frases em latim, algumas delas com palavras modificadas, ora por causa da rima, ora da métrica. Um exemplo:

“Porque este es el cordero

qui tollis peccata mundo (mundi),

el nuestro Adan segundo,

y remedio del primero.”

Nesta peça também Gil Vicente introduziu pequenos trechos de canções conhecidas na época, algumas encontradas na íntegra em Cancioneiros famosos.

Há um interessante momento cômico, quando Silvestre fala da família de sua recém esposa, onde todos têm sobrenomes engraçados, quase puro deboche, e do dote que recebeu.

lulkanto por ĉiuj homoj 

dormu, panjo, dormu,

nun, en mia paco.

zorgos mi pri via

senkompata laco. 

 

dormu, paĉjo, dormu,

en mia sereno.

mi vin gardos kontraŭ

mortiga ĉagreno. 

 

dormu vi, amiko,

en mia fervoro.

mi protektos vin

de l’ monda doloro. 

 

kunulino, dormu,

en mia intimo.

mi vin vartos pro

nia malproksimo. 

 

dormu, filo, dormu,

dormu vi, amato.

mi preferas vin

pli ol filo, frato. 

 

dormu, forestanto,

sen ia deziro.

mi vin vekos ĉie

per mia sopiro. 

 

dormu, kanto mia,

en mia poemo.

kaj nestigu min

en via dormemo.

o cabra cabrez

ana eduarda

 O CABRA CABREZ

(esta pecinha foi apresentada com fantoches no aniversário de 5 anos do Bruno; agora, 2009, Ana Eduarda ilustrou)

                                        ana eduarda

MOSQUITO (todo machucado, canta acompanhado do violão):

  A vida é dura
  E fez-se noite escura;
  A luz foi presa
  No gatilho do forte.
  A espada fura,
  E  leva à sepultura;
  Canta a tristeza
  O estribilho da morte.

  São os donos do medo.
  Os donos do enredo.
  Os donos do degredo.
  Do brinquedo.
  Do arremedo
(sai).

COELHO (entra): Como vão, meus amiguinhos?
  Mas que dia mais bonito!
  Sabem por que estou aflito?
  Recebo hoje uns vizinhos

  Que eu resolvi convidar.
  Por isso vou à cidade
  E uma grande quantidade
  De comida vou comprar.

  Pão, azeite, ovos, vinho,
  Cenouras, alface, sal.
  Vou no Mercado Central
  Que lá é tudo fresquinho.

  E quando a noite chegar
  Vai ser grande a agitação.
  Pois ao som do violão
  Todo mundo vai dançar.

Continue lendo “o cabra cabrez”