Monteiro Lobato

Fábulas

Fábulas 36, 37, 38, 39, 40, 41 e 42

 

36 – A mosca e a formiguinha

         – Sou fidalga! – dizia a mosca à formiguinha que passava carregando uma folha de roseira. – Não trabalho, pouso em todas as mesas, lambisco de todos os manjares, passeio sobre o colo das donzelas – e até me sento no nariz. Que vidão regalado o meu…

         A formiguinha arriou a carga, enxugou a testa e disse:

         – Apesar de tudo, não invejo a sorte das moscas. São malvistas. Ninguém as estima. Toda gente as enxota com asco. E o pior é que têm um berço degradante: nascem nas esterqueiras.

         – Ora, ora! – exclamou a mosca. – Viva eu quente e ria-se a gente. Continue lendo “Monteiro Lobato”

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Fábulas

Fábulas 29, 30, 31, 32, 33, 34 e 35

 

29 – O sabiá na gaiola

         Lamentava-se na gaiola um velho sabiá.

         – Que triste destino o meu, nesta prisão toda a vida… E que saudades dos bons tempos de outrora, quando minha vida era um contínuo pular de galho em galho à procura das laranjas mais belas… Madrugador, quem primeiro saudava a luz da manhã era eu, como era eu o último a despedir-me do sol à tardinha. Cantava e era feliz…

         – Um dia, traiçoeiro visgo me ligou os pés. Esvoacei, debati-me em vão e vim acabar nesta gaiola horrível, onde saudoso choro o tempo da liberdade. Que triste destino o meu! Haverá no mundo maior desgraça?

         Nisto abre-se a porta da sala e entra o caçador, de espingarda ao ombro e uma fieira de pássaros na mão. Continue lendo “Monteiro Lobato”

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Fábulas

Fábulas 22, 23, 24, 25, 26, 27 e 28

 

22 – A Morte e o lenhador

         Um velhinho, muito velho, vivia de tirar lenha na mata. Os feixes, porém, cada vez lhe pareciam mais pesados. Tropicava com eles, quase caía, e um dia caiu de verdade, perdeu a paciência e lamentou-se amargamente:

         – Antes morrer! De que me vale a vida, se nem com este miserável feixe posso? Vem, ó Morte, vem aliviar-me do peso desta vida inútil.

         Tentou erguer a lenha. Não pôde e, desanimando, invocou pela segunda vez a Magra.

         – Por que demoras tanto, Morte? Vem, já pedi, vem aliviar-me do fardo da vida. Andas pelo mundo a colher criancinhas e esqueces de mim que te chamo…

         A Morte foi e apareceu – horrenda, escaveirada, com os ossos a chocalharem e a foice na mão. Continue lendo “Monteiro Lobato”

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