Monteiro Lobato – Viagem ao Céu

Viagem ao Céu

 Capítulos 13, 14 e 15

 

13 – Proezas da Emília em Marte

Os meninos quedaram-se calados e imóveis atrás da pedra enquanto Emília se afastava. Meia hora depois já estavam inquietos.

— Fomos muito egoístas, Pedrinho, deixando que Emília saísse com o seu lampeirismo por este mundo desconhecido. Se ela nunca mais voltar, vai ser uma tristeza lá no sítio.

— Não tenha medo — animou Pedrinho. — Emília é uma danada.

E tinha razão de pensar assim, porque logo depois a boneca reapareceu, com cara alegre.

— Estamos salvos! — foi dizendo muito lambeta. — Os marcianos não nos podem ver. Fiz todas as experiências. Passei rentinha duma porção deles. Cheguei até a puxar o chicotinho de um. O coitado levou um susto, mas não me percebeu. Podemos passear por aqui sem medo de nada.

E assim foi. Saíram dali sem medo nenhum e, sempre guiados pela Emília, andaram por toda parte como se estivessem na casa da sogra. Como os dois nada pudessem ver, tinham de contentar-se com as informações da Emília.

— Estamos num maravilhoso palácio — disse ela em dado momento. — Deve ser o palácio do governo dos marcianos. Lá está o rei no seu trono, todo batatal, como se fosse o dono dos mundos… Continue lendo “Monteiro Lobato – Viagem ao Céu”

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Monteiro Lobato – Viagem ao Céu

Viagem ao céu

Capítulos 10, 11 e 12

10 – Mais vistas da Terra

Horas depois a vista daquela enorme Terra pendurada no céu já estava completamente mudada, e Pedrinho retomou as suas lições de geografia a São Jorge.

— Lá está o continente europeu! — disse ele. — Aquelas ilhas naquele ponto (e apontava) são as ilhas Britânicas, ou Grã-Bretanha — a tal Bretanha sem nenhuma importância no tempo do seu amigo Diocleciano. Mais adiante temos a Noruega com os seus fiordes…

— E suas sardinhas também — acrescentou Emília. — As sardinhas da Noruega viajam pelo mundo inteiro nuns barquinhos, chamados “latas”.

São Jorge não entendeu, porque no seu tempo não havia latas. Pedrinho continuou:

— A tal Rússia, que o senhor queria saber onde ficava, lá está — aquele país grandão. É a terra dos russos barbudos, dos cossacos, do caviar, das danças lindas e dos sovietes. Foi onde Napoleão levou a breca.

— Quem é esse leão? — perguntou o santo. Continue lendo “Monteiro Lobato – Viagem ao Céu”

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Monteiro Lobato – Viagem ao Céu

Viagem ao céu

 Capítulos 7, 8 e 9

 

7 – Coisas da Lua

— Quem é você, criaturinha? — perguntou São Jorge parando diante dela.

— Eu sou a Emília, antiga Marquesa de Rabicó, sua criada — respondeu a boneca, muito lampeira e lambeta.

O santo ficou na mesma. E ainda estava na mesma, sem compreender coisa nenhuma, quando viu aparecerem Pedrinho e Narizinho com Tia Nastácia atrás, de mãos postas, rezando atropeladamente quantas orações sabia.

— Como conseguiram chegar até aqui? — perguntou ele. Isto me parece a maravilha das maravilhas.

— Foi o pó de pirlimpimpim que nos trouxe — respon­deu Pedrinho — e dessa vez São Jorge ficou na mesmíssima.

— Não conheço semelhante droga — disse ele — mas deve ser das mais enérgicas, porque a distância da Terra à Lua é de 64.000 léguas — um bom pedaço!

Pedrinho riu-se e respondeu numa gíria que o santo não podia entender:

— Para o nosso pó essa distância é a canja das canjas. Num pisco devoramos essas 64.000 léguas como se fossem uns biscoitinhos de polvilho dos que derretem na boca. Continue lendo “Monteiro Lobato – Viagem ao Céu”

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