canção 14. zoologia

A ditadura da imoralidade 06: ZOOLOGIA

Meu papagaio
foi-se embora pra Brasília,
abandonou a família,
foi morar na capital.
Mandaram logo
um cachorro delinqüente
“ensiná” a língua da gente
do Distrito Federal.

Corrupi-paco, papaco,
corrupi-paco, partido,
corrupi-paco, corrupi-
corrupção.

Congressistas atrevidos
com partidos repartidos
e conchavos escondidos.
Traição!

Daí a pouco
apareceu a cabrita
pra fazer uma visita
se dizendo liberal.
O papagaio
soube todas as intrigas
e ouviu “falá” das formigas
que infestam o local.

Corrupi-paco, papaco,
corrupi-paco, partido,
corrupi-paco, corrupi-
corrupção.

Congressistas tão polidos,
nova troca de partidos.
Eis lobistas bem vestidos.
Traição!

Os dinossauros
se chamando Excelências,
só fazendo exigências
no processo eleitoral.
O papagaio
que até então era mudo
disse que, aquilo tudo,
só no reino animal.

Corrupi-paco, papaco,
corrupi-paco, partido,
corrupi-paco, corrupi-
corrupção.

Congressistas enxabidos,
com partidos convertidos,
mensalões descomedidos.
Traição!

 

(canta jorge teles; vozes: familiares Gibleski)

Curitiba, outubro.1977

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canção 13. agora e sempre

A ditadura da burrice 08: AGORA E SEMPRE

O pai, junto à hetaíra, comenta:
Ele merecia esta sorte.
A mãe, dedilhando a lira, lamenta:
Ele mesmo buscou tal morte.
O filho, acendendo a pira, proclama:
Não é bom criar problema.
O avô, copiando a Ilíada, exclama:
Não se deve contrariar
o sistema.

E Sócrates bebeu a cicuta.
Lá fora o povo aplaudia.
Sim, Sócrates bebeu a cicuta.
Afinal, isto não ocorre todo dia.

O pai, a contar denários, comenta:
Ele merecia esta sorte.
A mãe, a tecer sudários, lamenta:
Ele mesmo buscou tal morte.
O filho, a roubar dromedários, proclama:
Não é bom criar problema.
O avô, compondo a parábola, exclama:
Não se deve contrariar
o sistema.

E Cristo foi pregado à cruz.
Lá embaixo o povo aplaudia.
Sim, Cristo foi pregado à cruz.
Afinal, isto não ocorre todo dia.

O pai, a erigir papados, comenta:
Ele merecia esta sorte.
A mãe, a trançar bordados, lamenta:
Ele mesmo buscou tal morte.
O filho, a quebrar tratados, proclama:
Não é bom criar problema.
O avô, ensinando a Escolástica, exclama:
Não se deve contrariar
o sistema.

E Giordano Bruno foi queimado,
Ao redor, o povo aplaudia.
Sim, Giordano Bruno foi queimado,
Afinal, isto não ocorre todo dia.

O pai, a erguer capelas, comenta:
Ele merecia esta sorte.
A mãe, a mexer gamelas, lamenta:
Ele mesmo buscou tal morte.
O filho, a enganar donzelas, proclama:
Não é bom criar problema.
O avô, lendo o verso arcádico, exclama:
Não se deve contrariar
o sistema.

E Tiradentes foi enforcado,
Em volta o povo aplaudia.
Sim, Tiradentes foi enforcado,
Afinal, isto não ocorre todo dia.

O pai, a esconder falências, comenta:
Ele merecia esta sorte.
A mãe, a exigir decências, lamenta:
Ele mesmo buscou tal morte.
O filho, a viver carências, proclama:
Não é bom criar problema.
O avô, diante da Estatística, exclama:
Não se deve contrariar
o sistema.

Era eu, ou você, ou ele ou nós.
E a gente achando que entendia.
Sim, era eu, você, e ele e nós.
Afinal, isto nos ocorre todo dia.

 

(canta jorge teles)

Curitiba, 29.11.1977

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canção 12. minueto do cocozinho teimoso

Canções Diversas 09: MINUETO DO COCOZINHO TEIMOSO.

Cançãozinha feita para meus dois filhos.

Cocozinho teimoso,
já chegou tua hora;
eu puxei a descarga,
você não foi embora.
Você vai lá pro fundo,
fica escondidinho;
quando eu menos espero,
você volta inteirinho.

Cocozinho teimoso,
estou sem paciência.
Tô ficando irritado
com a sua insistência.
Você dá cambalhotas
que nem um palhacinho;
quando eu menos espero,
você volta inteirinho.

Cocozinho teimoso,
estou muito zangado;
joguei um balde d’água
e eis o resultado:
você desaparece,
eu me vejo sozinho;
quando eu menos espero,
você volta inteirinho.

Eu peguei uma faca
e cortei-o ao meio.
Dei de novo a descarga
pra atingi-lo em cheio.
Mas eu levei um susto
com o que vi depois.
Era um cocozinho.
E agora são dois.

 

(canta Isabela Teles)

Curitiba, 28.06.1982

 

 

 

 

 

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