canção 08. samba-enredo etc.

A ditadura da imoralidade 03: SAMBA ENREDO, CANTADO PELA MAIOR ESCOLA-DE-SAMBA DO MUNDO, 200 MILHÕES, NUM DESFILE QUE DURA O ANO INTEIRO, MENOS NO CARNAVAL.

“Professor, o que é que eles vão falar? Os honestos vão falar que, infelizmente, é assim mesmo. Os desonestos vão falar em processo por difamação e calúnia”. (do livro: Elogio da Obscenidade, de Erasmus de Roter-dão).

É um grande incompetente

Um João-ninguém incoerente.
Lacaio mais que obediente
Do lobby mais que indecente.
Pesadelo permanente,
Não passa de um imprudente
Legislador delinqüente
Da pizza inconseqüente.

 

Satanás, acuda,
Seja indulgente.
Dá um jeito no Zé
Que faz leis pra gente.

 

Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Só que é difícil encontrá-los
Pois falam a fala dos santos.
Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Reconhecê-los não vamos,
Só mostram sorrisos e encantos.

 

Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
São isentos, são imunes
A figas, mandingas, quebrantos.
Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Brilham, refulgem, desfrutam,
Escondidos nos seus recantos.

 

É um macaco boçal,
Chega a ser desnatural,
É um asno habitual
Teimoso piramidal.
Uma glória nacional,
Legislador canibal,
Quanto mais irracional
Mais se acha professoral.

 

Satanás, acuda
Livra-nos do mal.
Desmancha o desfile
Desse carnaval.

 

Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Vivem de sangue e não ouvem
Lamentos, gemidos e prantos.
Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Eles se vendem, se trocam,
Se entendem com seus contracantos.

 

Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Ninguém quer apedrejá-los
Pois vestem mantos sacrossantos.
Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
São eles os responsáveis
Por vivermos dias de espanto.

 

(canta jorge teles; uivos indignados de Luvita, Abel, Abrão, Tazinha, Sudá e Oliba)

Curitiba, 13.09.1777

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canção 07. poema do protesto inútil

A ditadura da burrice 03: RECEITA DE BOLO – POEMA DO PROTESTO INÚTIL

(O herdeiro da coroa francesa não foi suicidado na prisão)

Uma panela,
de preferência, gigante,
pra aumentar o poder.
E dentro dela,
um povo ignorante,
vai ajudar, podes crer.

Uma fornalha,
água, vinagre, pimenta,
pra cozinhar sem ferver.
Muita metralha,
porque se a coisa esquenta
preciso a ordem manter.

Dez colheradas
de ajuda americana
pra garantir e suster.
Umas pitadas
de liberal à paisana
pra popular parecer.

Raspe com espadas
o empecilho suspeito
pra ensinar o temer.
Cem toneladas
de ordem, lei e respeito
e a ilusão de crescer.

Dar colorido,
cobrir com filmes e fotos
pra o azedo esconder.
É proibido,
nesta receita, entrar votos.
Bolo solado vai ter.

Cachaça, cuíca,
futebol, falsa alegria,
demagogia a valer.
Bem melhor fica
se cozinhar n’água fria
e está prontim pra comer.

Esse bolo é meu,
não deixo ninguém tocar.
Esse bolo é meu,
e está prontim pra papar.
Esse bolo é meu,
não deixo ninguém mexer.
Esse bolo é meu,
e está prontim pra comer.
Esse bolo é meu,
não deixo ninguém bulir.
Esse bolo é meu,
e está prontim pra engolir.

(canta jorge teles)

Curitiba, 10.10.1977

 

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canção 06. pássaros de ontem

Canções Diversas 04: PÁSSAROS DE ONTEM

peguei, um a um, meus sonhos dourados,
um a um, sonhos alados,
ai, cortei-lhes suas asas;
pra que não viessem voar alvoroçados,
em bandos alvoroçados,
a fazer sombra nas casas
do anseio meu.

podei-lhes, depois, as unhas agudas,
podei as unhas agudas,
ai, que são de arranhar
lembranças doídas, fantasias mudas,
doidas fantasias mudas,
de nunca se acabar
o anelo meu.

seus magos bicos eu quebrei também,
bicos eu quebrei também,
ai, calando os seus cantos
cantos da luz do amor que sempre vem,
do amor que sempre é um bem,
e de outros desejos tantos,
tormento meu.

a todos esqueci na prisão forte,
esqueci na prisão forte
ai, da fria agonia;
inertes estão à espera da morte,
sempre à espera da morte,
que é quem agora vigia
no peito meu.

(canta jorge teles)

Curitiba, 17.05.1982

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