A ditadura da imoralidade 04: AS MUI AMIGAS MULTINACIONAIS.
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A ditadura da imoralidade 04: AS MUI AMIGAS MULTINACIONAIS.
A ditadura da burrice 05: RETRATO TRÊS POR QUATRO.
(triolé encadeado)
Você é muito bonzinho
sua bondade me espanta.
Bota pedras no caminho,
você é muito bonzinho.
Não deixa o vilão sozinho,
se ele cai, você o levanta.
Você é muito bonzinho,
sua bondade me espanta.
Bota pedras no caminho
e institui a casa escura.
Mói a todos no moinho,
bota pedras no caminho.
Mata a flor mas deixa o espinho
faz florescer a incultura.
Bota pedras no caminho
e institui a casa escura.
Mói a todos no moinho,
faz da pátria o seu bordel.
Novas leis no pergaminho,
mói a todos no moinho.
Fere a ave, queima o ninho
e liberta a cascavel.
Mói a todos no moinho,
faz da pátria o seu bordel.
Novas leis no pergaminho,
com congresso ou sem congresso.
Silencia o burburinho,
novas leis no pergaminho.
Doa a estopa e veste o linho,
forja na tela o progresso.
Novas leis no pergaminho,
com congresso ou sem congresso.
Silencia o burburinho
nos porões da inquisição.
Dá trator, mas vende ancinho,
silencia o burburinho.
Emprega o tio, o sobrinho
e empresta só ao ladrão.
Silencia o burburinho
nos porões da inquisição.
Dá trator, mas vende ancinho
e planta as garras da morte.
Fala aos do norte em carinho,
dá trator mas vende ancinho.
Dá o latifúndio ao padrinho,
pisa o fraco, eleva o forte.
Dá trator mas vende ancinho
e planta as garras da morte.
Fala aos do norte em carinho
mas emudece a imprensa.
Faz aperto ao colarinho,
fala aos do norte em carinho.
Adia o riso e o vinho,
semeia a convalescença.
Fala aos do norte em carinho
mas emudece a imprensa.
Faz aperto ao colarinho
e degola a liberdade.
Você é muito bonzinho,
faz aperto ao colarinho.
Gera o morcego daninho
Ratifica a orfandade.
Faz aperto ao colarinho
e degola a liberdade.
(canta jorge teles)
Curitiba, agosto, 1976.
desenho de Ricardo Garanhani
Nota: Há dois aspectos curiosos neste conto de minha avó. O primeiro é sobre suas variantes mais antigas; conheço duas, uma derivada da outra. A história do homem que faz uma aposta sobre a virtude de sua mulher aparece primeiro no Decameron de Boccaccio (1313/1375), na nona novela da segunda jornada. E serve de modelo para um dos episódios de uma tragédia romanceada de Shakespeare (1564/1616), Cimbelino. Nos dois casos o sedutor entra no quarto da mulher dentro de uma arca. No conto de minha avó, o sinal da mulher, que serve como prova de que o sedutor descobrira a sua nudez, é escandalosamente exagerado, beirando o surrealismo.
O segundo aspecto é o estratagema usado pela mulher, para desmascarar o sedutor. É de muita imaginação. Nunca encontrei nada semelhante em outros livros.
(Bagunça)
Se não ficarem quietos, eu não conto nada.
(Bagunça)
Era uma vez uma vaca amarela. Cagou na panela, três mexeram, três lamberam. Quem falar primeiro, come a bosta dela.
(Silêncio)
Era uma vez uma linda mulher, cheia de virtude. Era bela e rica, pois seu marido era um mercador bem sucedido. Viviam bem, tinham tudo o que precisavam e gostavam um do outro.
A mulher era invejada por todas as outras por ser tão rica e bem casada. O homem era invejado por todos os outros por ser rico e feliz e ter uma mulher tão virtuosa.
O homem sempre fez muito alarde da virtude da mulher. Sucedeu que numa grande festa, depois de muitos e muitos copos de vinho, começaram os homens a falar de suas mulheres. O marido da mulher virtuosa, quase bêbado, gritou bem alto:
– Pois todos sabem que nenhuma mulher se compara com a minha porque ela é a única de quem ninguém pode falar nada.
Então um jovem novo na cidade falou:
– Pois uma mulher virtuosa só é virtuosa até o dia em que deixa de ser.
Todos riram e o marido, desfeiteado, falou:
– Pois a minha será até a morte. Daria a minha vida para provar isto que falo.
O outro gritou:
– Elas não merecem metade da vida de um homem.
– A minha merece.
– A vida?
– A vida.
– Pois podíamos fazer uma aposta!
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