ESPERANTO? PRA QUÊ? (5) O QUE SERIA RESISTÊNCIA CULTURAL?
(nota: Esta pequena série de textos foi feita para um “folder” com o objetivo de informar sobre o Esperanto, na ocasião em que fui presidente da Associação Paranaense de Esperanto (1988-1989). Eu achava que os textos de então eram muito sucintos. Minha intenção era divulgá-los entre pessoas mais interessadas no assunto. Observo que a parte escrita a partir da linha de asteriscos está sendo acrescentada agora.)
Quando os franceses introduziram nos países de língua portuguesa um objeto composto de uma lâmpada sobre uma base e uma cobertura para diminuir ou suavizar o impacto da luz, chamado “abat-jour”, o termo foi assumido entre aspas porque era necessário designar o objeto. Uma onda de puristas levantou-se em resistência a mais um estrangeirismo (sem se dar conta de que também “estrangeirismo” é galicismo). Foi proposta a palavra quebra-luz. Quebra-luz hoje soa velho e ridículo. Abajur é o nome do objeto.
Atualmente diminuiu muito a resistência por preservação da pureza do idioma. Não existe língua pura a não ser aquela que ficar confinada aos limites de seu povo, sem contacto nenhum. A resistência é política, porque descobriu-se que hegemonia linguística significa quase sempre hegemonia política, resultando formas abertas ou disfarçadas de colonialismo cultural.
Como resistir? Poderíamos agir de diversas maneiras: sabotar, provocando focos de terror e muitas dores, dificultando entendimentos; fingir que nada de mal acontece, deixando para nossos filhos e netos a experiência do extermínio; manter acesa a chama dos altares, ato que funcionará enquanto houver fé, podendo porém transformar-se num imperativo nacional a manutenção de uma religião já sem sentido; manter vivas as manifestações culturais, isto é, ter consciência exata do que acontece, mudando o mutável, metabolizando o que não puder ser mudado, sem contudo perder contacto com as orígens; eis uma forma muito saudável de resistência.
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Pois é isso, tudo muito difícil…
Estamos vivendo dias de verdadeira falta de ar diante da chuva vulcânica de palavras de língua inglesa. Algumas dessas palavras são estúpidas e desnecessárias, orientadas por meios de comunicação burros e submissos (claro que com intenções muito claras). Outras palavras, inevitáveis. A dificuldade não é só nossa.
A adoção de palavras novas derivadas do inglês cria problemas linguísticos de difícil solução. O maior deles é que estamos inserindo no vocabulário da língua palavras que são escritas de uma maneira e lidas de outra. Dependendo do nível escolar do falante, há aberrações que doem ao serem escutadas.
Alguns povos têm sido mais cuidadosos. Os franceses traduzem o termo “mouse” (camundongo) por “souris”, camundongo. Os portugueses dizem rato e os espanhóis, “ratón”. Os habitantes do país que mais foi campeão de futebol dizem máuse. Os portugueses chamam “laptop/notebook” de computador portátil. E dizem sítio, para “site”. Os espectadores do programa “Big Brother” dizem saite mas escrevem site. Tenho escrito em meus textos saite, blogue e linque. Descubro pela internet que Millor Fernandes escrevia saite. Que ótima companhia!
Mas isto não passa de um punhado de gotas num oceano de dificuldades.
A França possui uma “Commission Générale de Terminologie et de Néologie” para estudar as possíveis e mais adequadas formas de se transcrever uma palavra de outra língua. No Brasil, acho que isto nunca funcionaria pois aqui, no que depende do governo, “os menino pode comê os peixe, sem pobrema”.
Creio, para terminar, que o problema (sic) será resolvido aos poucos, com uma grandiosa dose de bom-senso e nenhuma pitada de servilismo. A língua vai sendo modificada e aperfeiçoada ao longo do tempo. Quem tem capacidade de ser lúcido, apresente suas sugestões e as use, para aumentar a resistência à estupidez reinante.
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