Memórias da Emília
Capítulos 4, 5 e 6
4 – O anjo falso. Protesto das crianças inglesas. Aparece Peter Pan. Conversas com o anjinho verdadeiro.
A criançada inglesa, depois que o Almirante entrou na sala de Dona Benta, foi com Pedrinho para o pomar.
– “O anjo! O anjo! – gritavam todas. – Queremos ver o anjo!…”
Pedrinho deteve-se diante da pitangueira e apontou para a estranha figura de mãos cruzadas no peito e olhos no céu, enganchada na forquilha da árvore.
– “Lá está ele! O anjo é aquilo.” Fez-se grande silêncio. Milhares de olhos azuis se enfocaram na figurinha. Súbito, uma das crianças exclamou: – “Que anjo feio!”, e a barulhada começou. “Não valia a pena virmos de tão longe para vermos isso”, gritou outra. E terceira: “Em qualquer casa de brinquedos em Londres temos coisa melhor”. E quarta: “Parece anjo de pau… Nem se mexe”.
Narizinho me fez sinal, a mim, Visconde, para que me mexesse e fiz uns movimentos muito desajeitados.
– “Quê? – berrou de repente uma menina. – Anjo de cartola? Onde já se viu isso?”
De fato. Na pressa da arrumação os meninos esqueceram-se de tirar da minha cabeça a célebre cartolinha, de modo que lá estava o anjo de cartola na cabeça, muito branca, porque também fora polvilhada de farinha de trigo. Continue lendo “Monteiro Lobato”