Monteiro Lobato

Memórias da Emília

 Capítulos 4, 5 e 6

 

4 – O anjo falso. Protesto das crianças inglesas. Aparece Peter Pan. Conversas com o anjinho verdadeiro.

            A criançada inglesa, depois que o Almirante entrou na sala de Dona Benta, foi com Pedrinho para o pomar.

            – “O anjo! O anjo! – gritavam todas. – Queremos ver o anjo!…”

            Pedrinho deteve-se diante da pitangueira e apontou para a estranha figura de mãos cruzadas no peito e olhos no céu, enganchada na forquilha da árvore.

            – “Lá está ele! O anjo é aquilo.” Fez-se grande silêncio. Milhares de olhos azuis se enfocaram na figurinha. Súbito, uma das crianças exclamou: – “Que anjo feio!”, e a barulhada começou. “Não valia a pena virmos de tão longe para vermos isso”, gritou outra. E terceira: “Em qualquer casa de brinquedos em Londres temos coisa melhor”. E quarta: “Parece anjo de pau… Nem se mexe”.

            Narizinho me fez sinal, a mim, Visconde, para que me mexesse e fiz uns movimentos muito desajeitados.

            – “Quê? – berrou de repente uma menina. – Anjo de cartola? Onde já se viu isso?”

            De fato. Na pressa da arrumação os meninos esqueceram-se de tirar da minha cabeça a célebre cartolinha, de modo que lá estava o anjo de cartola na cabeça, muito branca, porque também fora polvilhada de farinha de trigo. Continue lendo “Monteiro Lobato”

Monteiro Lobato en Esperanto – 05

Memoroj de Emilja

Ĉapitroj 1, 2 kaj 3

Tradukis: Jorge Teles

 

1 – Emilja decidas verki siajn Memorojn. La malfacilaĵoj de la komenco.

         Tre ofte Emilja paroladis pri “miaj memoroj”. Sinjorino Benta decidis demandi:

         – Ĝustadire, naivulino, kion vi komprenas kiel memoroj?

         – Memoroj estas la historio de homo, kun ĉio, kio okazas de la tago de naskiĝo ĝis la tago de morto.

         – Tiuokaze – incitetis sinjorino Benta – homo povas verki memorojn nur post sia morto…

         – Atentu, – diris Emilja. – La memorverkisto verkas kaj verkadas, ĝis li sentas, ke venas la tago de morto. Do, li haltas kaj lasas la finaĵon senfina. Li mortas en paco.

         – Ĉu viaj Memoroj estos tiele?

         – Ne, ĉar mi ne intencas morti. Mi ŝajnigos min morta, jen ĉio. La lastaj vortoj devas esti tiuj: “Kaj tiam mi mortis…”, kun tri punktetoj. Sed estos mensogo. Mi skribos tion, palpebrumos kaj kaŝos min malantaŭ la ŝranko, por ke Nazulino pensos, ke mi vere mortis. Tio estos la nura mensogo en miaj Memoroj. La cetero estos vera vero, de la nediskuteblaj – solida vero, laŭ la diro de Peĉjo.

         Sinjorino Benta ridetis. Continue lendo “Monteiro Lobato en Esperanto – 05”

Monteiro Lobato

Memórias da Emília

 Capítulos 1, 2 e 3

 

1 – Emília resolve escrever suas Memórias. As dificuldades do começo.

             De tanto Emília falar em “minhas Memórias”, uma vez Dona Benta perguntou:

            – Mas, afinal de contas, bobinha, que é que você entende por memórias?

            – Memórias são a história da vida da gente, com tudo o que acontece desde o dia do nascimento até o dia da morte.

            – Nesse caso – caçoou Dona Benta -, uma pessoa só pode escrever memórias depois que morre…

            – Espere – disse Emília. – O escrevedor de memórias vai escrevendo, até sentir que o dia da morte vem vindo. Então para; deixa o finalzinho sem acabar. Morre sossegado.

            – E as suas Memórias vão ser assim?

             Não, porque não pretendo morrer. Finjo que morro, só. As últimas palavras têm de ser estas: “E então morri…”, com reticências. Mas é peta. Escrevo isso, pisco o olho e sumo atrás do armário para que Narizinho fique mesmo pensando que morri. Será a única mentira das minhas Memórias. Tudo mais verdade pura, da dura – ali na batata, como diz Pedrinho.

            Dona Benta sorriu. Continue lendo “Monteiro Lobato”