canção 09. canção para ninar toda a gente

Canções Diversas 13: CANÇÃO PARA NINAR TODA A GENTE

Dorme, dorme, mãe,
dorme no meu braço.
Dorme, que eu velo
Pelo teu cansaço.

Dorme, dorme, pai,
dorme em minha mão.
Dorme, que eu vigio
a tua aflição.

Dorme, dorme, amigo,
dorme em meu calor.
Dorme, que eu mitigo,
um pouco, tua dor.

Dorme, companheira,
em minha constância.
Dorme, que eu corrijo
a nossa distância.

Dorme, dorme, filho,
no meu coração.
Dorme, que eu te quero,
mais que filho, irmão.

Dorme, dorme, ausente,
em qualquer cidade.
Dorme, que eu te acordo,
com minha saudade.

Dorme, canto meu,
no meu abandono.
Dorme e me carrega
dentro do teu sono.

(canta jorge teles)

Curitiba, 09.06.1982

Gil Vicente 13. O VELHO DA HORTA (1512)

a moça

Resumo:

Entra um Velho orando um pai-nosso parafraseado: após uma expressão latina Gil Vicente acrescenta uma extensão da idéia (Pater noster criador, qui es in coelis poderoso, santificetur, Senhor, Nomem tuum, vencedor, nos céus e terra piedoso). Vem uma Moça para comprar verdura. Ele se perde de amores e se declara de imediato. Ela colhe algo e parte. Vem o Parvo, a mando da Mulher, chamando-o para comer. Ele não quer comer nem beber. Ao contrário, pede que o criado traga a viola. Vem a Mulher. Discutem. Ela insinua que está com ciúmes e ele confessa sua paixão. Expulsa-a.  Canta. Vem Branca Gil, alcoviteira, também a comprar verduras. Ele fala de seu amor e ela diz que vai ajudá-lo. Quando ela descreve a mocinha, ele desmaia de emoção. Branca Gil inicia uma longa e engraçadíssima ladainha, pois que dá nome de santo e santa aos nobres que assistem e pede que favoreçam o pobre do Velho. Ele acorda e a partir daí ela começa a explorá-lo. Vai, cena após cena, pegando seu dinheiro para comprar presentinhos para a Moça. Entra o Alcaide com soldados e leva presa a Alcoviteira, para ser açoitada em público. Uma Mocinha vem fazer um pagamento e fala do casamento do Moça. O Velho se desespera e lamenta seu estado de miséria, porque perdeu a fortuna.

GV029. Moça

Qual es la niña

Que coge las flores,

Sino tiene amores.

Cogia la niña

La rosa florida,

El hortelanico

Prendas le pedia,

Sino tiene amores.

(canta Carmen Ziege)

GV030. Velho

Volvido nos han volvido,

Volvido nos han

Por una vecina mala

Meu amor tolheu-me a falla,

Volvido nos han.

(canta João Batista Carneiro)

GV031. Velho

Pues tengo razon, señora,

Razon es que me la oiga.

(canta João Batista Carneiro)

GV032. Mocinha

Hua moça tão fermosa,

Que vivia alli á Sé…

(canta Katia Santos)

Comentário:

O tema do Velho apaixonado volta à pena de Gil Vicente. Aqui retratado com pormenores até o final trágico, quando ele acaba na miséria e a alcoviteira é presa para ser açoitada (“Já fui açoitada tres vezes, enfim hei de viver!”). Novamente uma engraçada galeria de tipos: o bobo, a mulher ciumenta, o velho ridículo e a aproveitadeira. Estranho costume o de açoitar a alcoviteira, em público, com uma mitra de papelão sobre a cabeça; leva-nos a concluir que o castigo era formal já que a sociedade não podia prescindir daquele tipo de serviço.

Mais tarde, em 1534, na peça Auto da Cananéia, Gil Vicente voltará a fazer uma paráfrase do Pai-Nosso. Então, Cristo fala a primeira metade em latim e apresenta o desenvolvimento da idéia em português versificado; a seguir, a segunda metade em latim e novamente o desenvolvimento.

canção 08. samba-enredo etc.

A ditadura da imoralidade 03: SAMBA ENREDO, CANTADO PELA MAIOR ESCOLA-DE-SAMBA DO MUNDO, 200 MILHÕES, NUM DESFILE QUE DURA O ANO INTEIRO, MENOS NO CARNAVAL.

“Professor, o que é que eles vão falar? Os honestos vão falar que, infelizmente, é assim mesmo. Os desonestos vão falar em processo por difamação e calúnia”. (do livro: Elogio da Obscenidade, de Erasmus de Roter-dão).

É um grande incompetente

Um João-ninguém incoerente.
Lacaio mais que obediente
Do lobby mais que indecente.
Pesadelo permanente,
Não passa de um imprudente
Legislador delinqüente
Da pizza inconseqüente.

 

Satanás, acuda,
Seja indulgente.
Dá um jeito no Zé
Que faz leis pra gente.

 

Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Só que é difícil encontrá-los
Pois falam a fala dos santos.
Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Reconhecê-los não vamos,
Só mostram sorrisos e encantos.

 

Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
São isentos, são imunes
A figas, mandingas, quebrantos.
Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Brilham, refulgem, desfrutam,
Escondidos nos seus recantos.

 

É um macaco boçal,
Chega a ser desnatural,
É um asno habitual
Teimoso piramidal.
Uma glória nacional,
Legislador canibal,
Quanto mais irracional
Mais se acha professoral.

 

Satanás, acuda
Livra-nos do mal.
Desmancha o desfile
Desse carnaval.

 

Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Vivem de sangue e não ouvem
Lamentos, gemidos e prantos.
Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Eles se vendem, se trocam,
Se entendem com seus contracantos.

 

Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Ninguém quer apedrejá-los
Pois vestem mantos sacrossantos.
Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
São eles os responsáveis
Por vivermos dias de espanto.

 

(canta jorge teles; uivos indignados de Luvita, Abel, Abrão, Tazinha, Sudá e Oliba)

Curitiba, 13.09.1777