CONTA OUTRA VÓ 06. A BOSTA DA VACA

a bosta da vaca

desenho de Ricardo Garanhani 

Nota: Eis aqui um exemplar da ética não explicitada de toda uma época. A pobreza é fonte de virtude, a fé possibilita o milagre e o mal sempre é punido. Bem-aventurados os simples.

 

          Era uma vez uma mulher muito pobre, que tinha muitos filhos, uns oito, e era viúva. Trabalhava na casa de uma mulher muito rica e muito má. A pobre trabalhava na cozinha da rica. Fazia pão, fazia biscoito, fazia bolo, fazia broa.

          Naquela época as filhas casavam e continuavam morando com os pais. Então as casas eram enormes e cheias de filhos e filhas e genros e netos e netas e avô e avó e bisavô e bisavó e tataravô e tataravó. Essa mulher rica era também viúva e na casa dela vivia uma gentarada que só de pão era uma fornada enorme. Era a mulher pobre que fazia aquela pãozeira. E sempre sobrava muita massa no tacho ou na bacia ou no alguidar. Cada vez que terminava uma massa, a mulher pobre pegava uma colher de pau e rapava toda aquela rapa e botava numa gamela e de tarde levava pra casa dela. Aí ela encontrava os filhinhos chorando de fome e assava no fogão de lenha aquela rapa de massas e virava uma broa bonita e os filhinhos comiam e paravam de chorar e até já estavam gordinhos.

          Todos os dias ela fazia isto.

          Aí, num domingo, a rica estava passeando e encontrou os menininhos da pobre, limpinhos e gordinhos. Achou muito esquisito e resolveu espiar.

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