desenho de Ricardo Garanhani
Nota: Este interessantíssimo conto amoral que minha avó contou, certamente junta pedaços de diversas histórias. As três primeiras peripécias parecem sair das aventuras de um Pedro Malasartes ou um Till Eulenspiegel. A última aventura, a do palácio, é bem mais intrigante, com uma intromissão de uma feiticeira negra, provavelmente uma interpolação feita no Brasil. Esta historinha foi a verdadeira causa de eu ter resolvido anotar os contos. A última parte eu nunca tinha lido em lugar nenhum e achava que seria uma perda não fazer o registro. Em 2008 tive uma gratíssima surpresa, ao ler um livro importantíssimo para a História da Humanidade e encontrando a versão que, com toda certeza, é a original.
Como o conto é meio longo, dividi-o em três partes. Ao final vou apresentar, como quarta parte, uma tradução do texto antigo. Um pouquinho de suspense vai ser bom.
Era uma vez um homem que tinha três filhos e algumas filhas.
Aí um dia ele chamou os três filhos e falou:
– Meus filhos, estou ficando velho, não somos ricos e vocês estão em idade de trabalhar. Cada um vai escolher um oficio e vou mandá-los pelo mundo e vocês voltarão quando souberem trabalhar.
O mais velho falou:
– Meu pai, eu quero ser alfaiate.
O velho falou:
– Então, você vai seguir por esse caminho e no fim do caminho tem uma casa onde mora um alfaiate e ele vai te ensinar.
O filho pegou suas coisas, a mão fez uma matutagem e enrolou num pano. Ele foi embora.
O segundo filho falou:
– Meu pai, eu quero ser padre.
Aí o velho falou:
– Então, você vai levar um cabrito pro padre e vai dizer que eu mandei você até lá, pra aprender a rezar missa e batizar e crismar e confessar.
O filho pegou suas coisas, a mãe fez uma matutagem e enrolou num pano. Ele foi embora, levando também o cabrito.
Só sobrou o terceiro filho e ele falou:
– Meu pai, eu quero ser ladrão.
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