canção 06. pássaros de ontem

Canções Diversas 04: PÁSSAROS DE ONTEM

peguei, um a um, meus sonhos dourados,
um a um, sonhos alados,
ai, cortei-lhes suas asas;
pra que não viessem voar alvoroçados,
em bandos alvoroçados,
a fazer sombra nas casas
do anseio meu.

podei-lhes, depois, as unhas agudas,
podei as unhas agudas,
ai, que são de arranhar
lembranças doídas, fantasias mudas,
doidas fantasias mudas,
de nunca se acabar
o anelo meu.

seus magos bicos eu quebrei também,
bicos eu quebrei também,
ai, calando os seus cantos
cantos da luz do amor que sempre vem,
do amor que sempre é um bem,
e de outros desejos tantos,
tormento meu.

a todos esqueci na prisão forte,
esqueci na prisão forte
ai, da fria agonia;
inertes estão à espera da morte,
sempre à espera da morte,
que é quem agora vigia
no peito meu.

(canta jorge teles)

Curitiba, 17.05.1982

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canção 05. mais clareza por fineza

A ditadura da imoralidade 02: MAIS CLAREZA, POR FINEZA


Chego cedo no trabalho
Pra poder ler meu jornal.
Procuro o noticiário,
Diz que está tudo legal.
E publicam com destaque
A fala do Maioral.

Não sei se entendi direitim…
O texto era bem assim:

“Bola  esmão pro  povolsa
oto é vido garantisto
ou  passeatro var quanos
mas já vrono tara o polto”.

Na hora do meu almoço
Ligo logo o meu radinho.
Quero ver o que há de novo
Cruzando no meu caminho.
Ouço a fala do ministro
que discursa com carinho.

Não sei se entendi direitim…
A fala era bem assim:

“A evonomia cai bem
brasisco o baixo é ril
amos vaumentosto o impar
pra enbolso o nosso cher”.

No nosso lanche de hoje
Fizeram reunião.
Todo mundo liberado,
Todo mundo no salão.
O diretor nos mostrou
Os novos planos de ação.

Não sei se entendi direitim…
O plano era bem assim:

“Os acionigem existas
precisar mais trabalhamos
se aumental o capitar
vovão cês chupedo o dar”.

De noite, ao chegar em casa,
Fico em frente da tevê.
Eles sempre apresentam
De todo fato, o porquê.
A notícia era boa,
Vou transmitir a você.

Não sei se entendi direitim…
A nota era bem assim:

“Tosso nal carnavaemos
A cachol e o futebaça.
Til azudo no Brasul
O paões dos bobalhis.

(Canta jorge teles; vozes: Léo, Felipe, Bruno e Carolina)

Curitiba, 23.11.1977

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canção 04. vende tudo que tens e segue-me

A ditadura da burrice 02: VENDE TUDO O QUE TENS, E SEGUE-ME

Não era ensolarado o dia em que chegaste,
não era não, decerto, mas, todo esse frio,
quem o trouxe até nós, e quem, o desvario
plantou em nossa casa, horror que se não baste?

Não foi a nossa sorte, a sorte a que libaste,
com o vinho, sangue negro atroz, formando um rio
e a música estertor do enfurecer vadio
e os lobos no covil, comandando o desbaste!

Não foi pensando em nós que pensaste a loucura,
nem foi a defender-nos que armaste a armadura,
e nem à nossa causa empregaste o coveiro.

Tudo isso, a falcatrua, o desconsolo, a agrura,
todo esse desatino, a infecção, a tristura,
tão só por engordar teu saco de dinheiro.

(canta jorge teles)

Curitiba, 28.09.1977

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