a galinha dos ovos de ouro

A Galinha dos Ovos de Ouro (João e o pé de feijão)

Nota: Esta pecinha foi apresentada com fantoches no aniversário de seis anos do Leo, em janeiro de 1977.

Personagens: Mãe, Joãozinho, Velha, Gigante.

MÃE: Ai, ai, ai, ai! Que dias que estou passando. Sou uma pobre viúva, não arranjo trabalho. A comida está acabando. Meu filho Joãozinho ainda é muito pequeno pra trabalhar. Não sei o que faço. Realmente não sei o que faço. (grita) João! Joãozinho!
JOÃOZINHO: (de longe) Já vou!
MÃE: Venha cá, meu filho.
JOÃOZINHO: O que é?, mãe.
MÃE: Quero conversar com você. A nossa comida está se acabando e não temos mais dinheiro. Precisamos fazer alguma coisa. Não estou conseguindo pensar, de tão nervosa.
JOÃOZINHO: Vamos pensar juntos, mãe, que sempre ouvi dizer que uma cabeça pensa melhor que duas.
MÃE: Não é assim, menino. O ditado é: duas cabeças pensam melhor que uma.
JOÃOZINHO: Mas você acabou de dizer que não está conseguindo pensar. (começam a andar um atrás do outro, pra lá, pra cá).
MÃE: Não sei o que vamos fazer. Fico querendo pensar e não consigo. Realmente, não estou tendo nenhuma idéia.
JOÃOZINHO: Mãe, se você fica falando, eu também não consigo pensar em nada. (continuam andando)
MÃE: Ai, ai, ai, ai. O que é que podemos fazer? Sem comida e sem dinheiro. Porque, se tivesse dinheiro, com o dinheiro se compra comida. Quem tem dinheiro, tem comida. Mas quem não tem dinheiro, não pode ter comida. Vai comprar com qual dinheiro? Ai, ai, ai, ai.
JOÃOZINHO: Mãe, como é que é? Você não consegue pensar, a sua cabeça não está adiantando pra nada. Fica falando e não me deixa pensar, a minha cabeça também não adianta pra nada. Temos aqui duas cabeças que não pensam mais do que nenhuma.
MÃE: Mas sempre ouvi dizer que duas cabeças pensam melhor que uma e é assim que deve ser. (a vaca muge)
JOÃOZINHO: Oba! Tive uma idéia!
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Os músicos de Bremen

OS MÚSICOS DE BREMEN

Nota: Esta pecinha se baseia no famoso conto recolhido pelos irmãos Grimm (1785/1863 e 1786/1859). Foi apresentada com fantoches em outubro de 1976. No mesmo ano Bardotti e Enriquez tinham feito uma versão italiana para teatro profissional, I Musicanti. Em 1977 Chico Buarque traduziu I Musicanti para o português, com adaptações: Os Saltimbancos. Coincidências! Para os curiosos, fiz há dias uma tradução fiel do original, que apresento ao final do meu texto.

BURRO:
Ai, que vida triste.
Tô ficando velho
cansado e doente.
Meu pelo caiu,
não tenho mais dente.
Estou tão fraquinho
que as cargas que levo
caem no caminho.
Estou chateado.
Agora que estou
fraco, acabado,
meu patrão me trata
como um enjeitado.
Não me dá comida,
não me dá abrigo.
Danada de vida!
Pensei cá comigo:
Morrendo de fome
não quero ficar!
De manhã bem cedo,
pra outro lugar
eu vou me mandar.
Vou fugir daqui!
Quero viajar.
Quando eu era novo
bem forte e matreiro
aprendi a tocar
tambor e pandeiro.
Pois vou para Bremen.
Lá, numa orquestra,
eu quero tocar.
É nisto que dá
a gente ficar
sem se aposentar.
Muito trabalhei
mas INPS
eu nunca paguei.
Eu fui reclamar
no Fundo Rural
mas lá me pediram
tanto documento!
Nem mesmo animal,
nem mesmo um jumento
pra aguentar aquilo.
Pois vou para Bremen.
Lá numa orquestra
eu quero tocar.
Está resolvido.
Amanhã bem cedo
eu vou me arrancar!
(sai)

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Tia Marina peça 1

marina

(Nota: Até os 6-7 anos, Leonardo e Bruno só tiveram uma tia disponível, vizinha. Todos os outros moravam longe. Era uma tia especial. Não porque fosse a única, porque exclusividade não é virtude mas circunstância. Era especial porque era exatamente como era. Essas coisas não precisam de explicação. Era mais do que especial, era imprescindível. E assim ficou sendo até hoje. Depois que ela se mudou para São Paulo, homenageei-a em duas pecinhas de fantoche (os teatrinhos viraram rotina dentro dos aniversários). Aí vão as duas. A segunda peça é uma mostra do que fazem os povos quando sob o tacão de cavalgaduras: debocham da besta-fera a portas fechadas.)

marina

 

O BRIGADEIRO INVISÍVEL

PERSONAGENS: TIA MARINA, LEONARDINO, BRUNINO, TOURO (o cachorro), SACI, CUCA, IARA.

TIA MARINA: Bom dia! Boa tarde! Boa noite! Como vão vocês? Eu sou a tia Marina. Vim a Curitiba, para visitar filhos, sobrinhos, e encontrar o meu coração. Porque, mesmo morando em São Paulo, meu coração fica em Curitiba. Preciso encontrar o Leonardino e o Brunino, meus sobrinhos muito levados. Quero contar para eles as histórias que li quando fiz uma pesquisa na USP. Leonardino! Brunino! Onde estão vocês? Acho que estão aqui. (abaixa-se) Ai, minha coluna! Não posso fazer estes movimentos extravagantes. Leonardino! Brunino!

LEONARDINO: Quem que tá chamando?

BRUNINO: É a tia Marina!

TIA MARINA: Olá, sobrinhos! Quero contar para vocês umas histórias que li.

LEONARDINO: Conta, então…

TIA MARINA: A primeira história é a do Saci. Conhecem o Saci?

BRUNINO: O Saci é um pretinho que tem uma perna só.

LEONARDINO: E tem um chapeuzinho chamado carapuça.

BRUNINO: E fuma cachimbo.

LEONARDINO: E gosta muito de enganar as pessoas.

TIA MARINA: Credo! Vocês contaram tudo que eu ia contar! Mas de uma coisa vocês não falaram.

BRUNINO: O quê?

TIA MARINA: O Saci, quando está cansado, senta numa pedra e cruza as pernas.

LEONARDINO: Oh, tia Marina. Qual perna que ele cruza em cima da outra?

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