PROMETEU – Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)
Cubra, Zeus, o teu céu
Com nuvens de vapor!
E como um menino
Que corta os cardos
Exercite-se em carvalhos e montes.
Mas a minha terra,
Deixe-a em paz.
E minha cabana,
Feita, não por você,
E o meu fogão,
Por cujas brasas
Você me inveja.
Sob o sol não conheço quem seja
Mais pobres que vocês, deuses.
Cheios de aflição, vocês nutrem,
Com o tributo de vítimas,
E orações suspiradas,
A sua Majestade,
E sentiriam fome
Se não houvesse crianças e mendigos
E tolos cheios de esperanças.
Quando eu era menino,
Nada sabendo, ingênuo, inconsciente,
Levantei o meu olhar errante
Até o Sol, como se acima houvesse
Ouvido para ouvir o meu lamento
E coração como o meu,
Para ter piedade de minha dor.
Quem me ajudou
Contra a arrogância dos Titãs?
Quem me livrou da morte
E da escravidão?
Não foi você sozinho quem isto cumpriu?,
Coração de santo ardor!
E assim ardendo, jovem e bom,
Traído, ainda agradeceu
Ao que dorme lá em cima?
Honrar a você? Para quê?
Você alguma vez aliviou
A dor do angustiado?
Você alguma vez fez secar
O pranto do aflito?
Quem forjou em mim o Homem
Não foi o Tempo onipotente
E o Fado eterno?,
Senhores de mim e de você!
Então você acha
Que eu deva odiar a vida
E fugir para um deserto
Só porque nem todas as ilusões
Se realizaram?
Aqui eu me sento e faço homens
À minha imagem,
Numa linhagem que seja igual a minha,
Para sofrer, chorar,
Gozar e ser feliz,
E ignorar você,
Como eu faço.