Alma desdobrada, capítulos 53, 54, 55, 56, 57 e 58.
053.
quando eu tinha medo, rezava: ave-maria e pai-nosso.
depois, por influência do protestantismo a que me fizeram aderir (eu, ligeiramente teimoso, recusei a profissão de fé até o dia em que não mais ousaram sugeri-la), eu, depois, me contentava com o pai-nosso. qualquer situação de ameaça de pânico, o pai-nosso brotava livre e solto dentro de mim.
eu tinha pesadelos, demônios e monstros que me perseguiam a maciez do sono: acordava e desabava dentro do silêncio da alma aflita aquela fileira de pais-nossos até que o sono…
deu-se que mudei de opinião e deus deixou de me machucar. parei de rezar, na intenção de passar a contar comigo mesmo. mas, curioso!, percebi que, quando tinha pesadelos, acordava já no meio da reza, eu principiava a rezar dentro ainda do sonho.
se não acredito de verdade, porque rezo? me perguntei.
nunca mais acordei rezando, após este questionamento. acordava do pesadelo, abria os olhos e olhava o escuro. não orava. às vezes, não tinha coragem para abrir os olhos.
quantas crianças habitam cada homem? quantas?
eu não orava.
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