canção 23. coro das criancinhas…

Canções Diversas 07: CORO DAS CRIANCINHAS DO GUIA (*).

(Ele)
Um pouco reumático,
Às vezes, asmático,
Com problema hepático,
Mas sempre simpático.

Ando fatigado,
Não tenho audição.
Mas a minha alma se agita.
Bem descompassado
O meu coração.
Mas ele ainda palpita.

(Ela)
Me chamam lunática,
Sou só sistemática.
Meio sorumbática,
Mas sempre simpática.

Com o corpo cansado,
Já me treme a mão.
Mas a minha alma se agita.
Vai debilitado
O meu coração.
Mas ele ainda palpita.

(Um outro)
Vigor problemático,
Às vezes apático.
Um tanto homeopático.
Mas sempre simpático.

Todo enferrujado,
Com pouca visão.
Mas a minha alma se agita.
Tenho safenado
O meu coração.
Mas ele ainda palpita.

(Uma outra)
Sou melodramática
E nada pragmática.
Talvez problemática,
Mas sempre simpática.

Sempre com cuidado
Com a alta pressão.
Mas a minha alma se agita.
Quase aposentado
O meu coração.
Mas ele ainda palpita.

(Todos)
Bem policromáticos,
E muito aromáticos,
Nunca dogmáticos,
Nós somos simpáticos.

Nosso requebrado
Tem muita emoção,
Pois nossa alma se agita.
Gritamos num brado:
Viva o coração!
Pois ele ainda palpita.

* GUIA: Grupo União de Irbiários Aposentados: Associação dos, como eu, aposentados do IRB-Brasil Re. A canção foi feita para uma peça infantil, em 1985. Fiz atualizações.

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dante alighieri – vita nova 01. a ciascun’alma…

Dante Alighieri – Vita Nova 01.
A ciascun’alma presa e gentil core… (sonetto)

Nota: O livro Vita Nova (Vida Nova) de Dante Alighieri (1265-1321) é considerado por muitos o primeiro romance italiano, ainda que não tenha a tradicional trama romanesca. Apresenta uma sequência de 31 poemas entremeados por comentários e explicações sobre cada poesia, enquanto o autor narra como conheceu Beatriz, ela com oito anos, ele com nove, até a morte dela. Na verdade, Dante só a viu duas vezes. Tanto ele como ela se casaram com outra pessoa. O amor de Dante é, portanto, absolutamente platônico, repete o idealismo dos poetas provençais, para quem a dama amada é uma figura inatingível. Dante pertencia a um grupo de poetas “modernos”, que criara o “dolce stil nuovo”, doce novo estilo, com o qual pretendiam um equilíbrio formal, sem excessos nem artifícios.
    Ao final do livro Dante diz ter tido uma visão maravilhosa sobre a qual deve se calar. E acrescenta que levará o resto da vida preparando-se para falar de sua dama “o que jamais foi dito de nenhuma outra”. Com efeito, no seu prodigioso poema cósmico A Divina Comédia, Beatriz é quem o conduz na parte final do Purgatório e nas paisagens do Paraíso.

a. A Morte (retrato)
b.
    A ciascun’alma presa e gentil core
nel cui cospetto ven lo dir presente,
in ciò che mi rescrivan suo parvente
salute in lor segnor, cioè Amore.
    Già eran quasi che atterzate l’ore
del tempo che onne stella n’è lucente,
quando m’apparve Amor subitamente,
cui essenza membrar mi dà orrore.
    Allegro mi sembrava Amor tenendo
meo core in mano, e ne le braccia avea
madonna involta in un drappo dormendo.
    Poi la svegliava, e d’esto core ardendo
lei paventosa umilmente pascea:
appresso gir lo ne vedea piangendo.

(canta Kowalski)

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canção 22. o país de cocanha

A ditadura da burrice 11: O PAÍS DE COCANHA

País de Cocanha, palcos deslumbrantes,
E luzes, matizes, e um som de quermesse.
Imagens que iludem gentes delirantes
Que nascem e crescem e morrem e estão
De acordo em tudo com a televisão.
Mas atrás do vídeo o que é que acontece?
E o que é que se vê, descendo ao porão?

O pobre jornalista Don Quixote, amordaçado.
O cabelo comprido empapado de sangue.
Rasgada a túnica, com bordados indianos.
A caneta quebrada num canto da sala.
E por sob os colares de conchas,
vestígios da tortura.
Ele é obrigado a escutar
a voz de bruxo do delegado a ranger,
como um odre gordo, cheio de vinho azedo:
nós não somos moinhos de vento;
e isto vai sempre acontecer
a cada vez que você
tentar socorrer, com sua pena do diabo,
menores ladrões, bichas e prostitutas.
Seu hippy idiota, eu não gosto
dessa sua bondade
mas o que mais me enfurece
é essa sua liberdade
de sair por aí, como quer,
e poder defender aos que ama.

E amanhã, como será?
Será ele torturado ainda uma outra vez
em algum outro lugar?

País de Cocanha, o estádio repleto.
Bandeiras ao vento, foguetes sem conta.
Platéias em fúria, o herói predileto,
O arcanjo ultrapassa terrível barreira
E é o gol que redime a fé brasileira.
Mas fora do estádio, o que é que se encontra?
E o que é que se vê, se é segunda-feira?

O professor Galileu Galilei,
famoso em todo o mundo civilizado,
encerrado numa cela vadia
por querer blasfemar, afirmando
que o que interessa não é nem o sol
nem a lua nem toda a tecnologia.
Mas tão somente o homem
e é em torno do homem
que gravita o universo de todos os atos
da humanidade.
Ele teve que se retratar e dizer
que é o progresso que se movimenta
e é o progresso que não pode parar;
conforme ensinou o filósofo Aristóteles Onassis.
E o senhor Galileu, um homem qualquer,
é impedido de ir por aí.

E amanhã, como será?
Será ele confinado ainda uma outra vez
em algum outro lugar?

País de Cocanha, em luz a avenida,
Nas arquibancadas o pasmo estrangeiro.
Pandeiros e surdos, eis o show da vida.
E brilhos e plumas e a mulata diaba.
O enredo, enaltece, a percussão, desaba.
E a vida no mês que não fevereiro?
E o que é que se faz quando a festa acaba?

Encerrado num lugarejo afastado
nos montes do Cáucaso
o professor Prometeu
que pretendeu, ousadia sem nome,
ensinar a ler o que não é escrito,
ensinar a desvendar a palavra enganosa
e a entender o mau cheiro escondido
nas brilhantes promessas da oratória.
Isto seria como dar fogo a crianças
que não estão preparadas para votar,
falou o ministro passarinho,
puxa-saco do Zeus das quatro estrelas.
E o professor Prometeu é visitado
diariamente por uma águia fardada
que vai lhe bicar com o bico podre
as mesmas perguntas de sempre.
O professor já está até sofrendo do fígado.

E amanhã, como será?
Será ele insultado ainda uma outra vez
em algum outro lugar?

País de Cocanha, pinheiros com neve.
Amor, o sagrado, de lado, o profano.
Mensagens de paz, o espírito leve.
Papai Noel nas lojas, comprar com vantagem.
Não mais pessimismo e nem malandragem.
Mas como é o amor no resto do ano?
Se não é natal, como é a mensagem?

Uma carta sofrida, chegada de fora.
Um tal de Gregório de Matos a assina.
Diz que tem saudades, quer voltar
e aguarda resposta ao seu pedido.
Mas o censor burocrata, homem inteligente,
que até conseguiu fazer
o primeiro ano do segundo grau,
sorri desdenhoso e vomita:
esse aqui, se depender de mim,
vai apodrecer no estrangeiro.
É desses músicos indecentes
que canta o que quer
e cada canção
tem mais palavrão
que palavras.
Além do quê, tem mania
de falar mal do patrão.
Não, não, não, não, não, não,
não, não, não, não e não.

E amanhã, como será?
Será ele exilado ainda uma outra vez
em algum outro lugar?

País de Cocanha, desfile da história.
Canhões, estandartes, vigor, galhardia.
Crianças a ouvir, discursos de glória.
Garboso uniforme. A espada dourada.
E o hino da pátria  que a fileira brada.
E eu pergunto: O dia da Pátria é só um dia?
Que coisas encobre o fulgor da parada?    

A cabeça de Tomás Morus, assassinado!
Suicidado na prisão.
Teria ousado um golpe de estado
o bom servidor da Constituição?
Saiu no jornal
que ele tentou contra a Lei
de Segurança Nacional.
Mas o que fez, realmente,
foi cometer o grave pecado
de se opor às decisões
do tirano zangado.
E divulgar os mistérios poltrões
da numerosa corte brasiliana.
E tudo se fez claro, como uma grande noite de corrupções.

E amanhã, como será?
Será ele assassinado ainda uma outra vez
em algum outro lugar?

Curitiba, 26.02.1981

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