RAKONTU ALIAN ANJO 09. LA RUZA ŜTELISTO (unua parto)

o ladrão ladino 01

desegnaĵo de ricardo garanhani

Noto: Ĉi tiu interesega senmorala rakonto de mia avino, certe kunigas pecojn el diversaj rakontoj.  La tri unuaj peripetioj ŝajne devenas de similaj aventuroj de Pedro de Urdemalas aŭ Till Strigospegul’. La lasta aventuro, tiu ene de la palaco, estas pli perpleksiga; ĝi aperigas nigran sorĉistinon, intermetaĵo eble okazita en Brazilo. Tiu aventuro de la ruza ŝtelisto estas la vera kialo, pro kio mi decidis registri la rakontojn de mia avino. Mi neniam trovis en alia libro la lastan parton de ĉi rakonto kaj mi opiniis ke granda perdo okazos se mi ne skribu ĉion. En 2008 mi feliĉege surpriziĝis, kiam mi legis gravegan libron de la Homa Historio kaj trovis en ĝi la version, kiu, tutcerte, estas la originala.
Ĉar la rakonto estas longeta, mi ĝin dividis en tri partojn. Post ilia prezentado, mi prezentos kiel kvaran la tradukon de la malnova teksto. Tiu suspenso fariĝu interesa.
    

 Estis foje viro kiu havis tri filojn kaj kelkajn filinojn.
Iutage li alvokis la filojn kaj diris:
– Miaj filoj, mi iĝas maljuna, ni ne estas riĉaj kaj vi jam sufiĉe aĝas por labori. Ĉiu el vi elektos metion kaj mi sendos vin tra la mondo kaj vi revenos post kiam vi scipovos labori.
La plejaĝulo diris:
– Paĉjo, mi volas esti tajloro.
Parolis la maljunulo:
– Do, vi laŭiru tiun vojon kaj je la fino de la vojo estas domo kie loĝas la tajloro kaj li instruu vin.
La filo prenis siajn aĵojn, la patrino preparis lunĉon kaj pakis per tuko. Li foriris.
La dua filo diris:
– Paĉjo, mi volas esti pastro.
Kaj parolis la maljunulo:
– Nu, vi kunportu kapridon al la pastro kaj diru ke mi sendas vin tien por ke vi lernu fari meson kaj bapti kaj konfirmi kaj konfesigi.
La filo prenis siajn aĵojn, la patrino preparis lunĉon kaj pakis per tuko. Li foriris.
Kaj la tria filo diris:
– Paĉjo, mi volas esti ŝtelisto.

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canção 21. canção em ura…

A ditadura da burrice 10: CANÇÃO EM URA, COM AUTOCENSURA

Venha, menino, entre na casa escura.
Não tenha medo, tudo aqui é brandura.
Você caiu nas malhas da urdidura,
mas não te levaremos à sepultura.

Sendo compreensivo, não há agrura.
Não se deixe tomar pela desventura.
Nós só queremos tua verdade pura.
Fale tudo o que sabe e ganhe a soltura.

Tudo o que for dito, a gente apura.
É questão de rotina, a coisa não dura.
Se quer ficar calado, a essa altura
vai ter que por à prova sua bravura.

Você irá pra câmara da tonsura.
Vai saber o que é nossa desmesura.
Os portões são trancados à fechadura
e aprenda que a chave está bem segura.

O tapa, o soco, a cela e a apertura,
a agulha, o alicate e a mordedura
o choque, a água, a lata, a faca que fura.
É só uma lição, você já se cura.

Curitiba, julho.1976   

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Trilogia das Barcas, Barca da Glória (1519)

o papa

18. Auto da Barca da Glória (1519) 

Resumo:

Na parte final da trilogia, ao contrário das duas cenas anteriores, inteiramente em português, a cena da Barca do Paraíso é em castelhano. As duas barcas estão no cáis. O Diabo reclama com a Morte que esta só lhe traz “pobrecicos”, enquanto tardam os ‘”grandes e ricos”. A Morte lhe promete: “Verás que nada me escapa, desde o Conde até o Papa”. O que se segue é um majestoso ritual, próximo de uma missa de réquiem, onde cada um dos condenados, ao orar, repete lições e responsos da liturgia, alternando frases do ofício dos defuntos com textos religiosos (O Livro de Jó). O Conde, o Duque, o Rei, o Imperador, o Bispo, o Arcebispo, o Cardeal e o Papa são rejeitados pelo Anjo e condenados pelo Diabo. Ao Papa diz o Diabo: “Quanto de mais alto estado, tanto mais é obrigado a dar o melhor exemplo…”. Os Anjos anunciam a partida da barca porque as preces não foram ouvidas. Ao baixarem a vela aparece a pintura do crucifixo. De joelhos todos pedem pela última vez. Ainda assim os Anjos dão a partida. Mas vem o Cristo, estende a eles os remos da barca do Paraíso e os leva consigo.

GV040. Diabo

Los hijos de Doña Sancha…

(canta João Batista Carneiro)

Nunca fué pena mayor… (v. GV049)

 

GV041. Anjo

Vuestras preces y clamores,
amigos, no son oidas:
pésanos tales señores
iren á aquellos ardores
ánimas tan escogidas.
Desferir;
ordenemos de partir;
desferir, bota batel:
vosotros no podeis ir,
que en los yerros del vivir
no os acordastes dél.

(fala: Jorge Teles)

 

Comentário:

A concepção geral da obra é magistral. Pela primeira vez, Gil Vicente muda a tonalidade de seu texto, assumindo uma linguagem altissonante, grandiosa. Imita assim as tragédias sacras do final da idade média, das quais a mais fascinante e grandiloquente é o Auto de la Pasión (entre 1500 e 1503), de Lucas Fernandez (1474-1552), contemporâneo do dramaturgo português. Notemos, pois, com honestidade, que o teatro espanhol começou a se desenvolver antes do português. Os críticos espanhóis de hoje, todavia, por força do desenvolvimento de seu teatro posterior, consideram Gil Vicente o maior dramaturgo da península ibérica, no seu tempo.
A título de curiosidade, observemos que na citada tragédia de Lucas Fernandes há na fala de Mateus: Lágrimas, sangue e suor, para expressar o sofrimento da via crucis. Um discurso de Churchill vai tornar popular esta expressão, após a segunda guerra mundial. Com certeza estas palavras percorreram séculos, traduzidas em diversas línguas, a cada vez que o sofrimento exigisse do ser humano um esforço sobrenatural.
A Barca do Paraíso oferece algumas constatações: o povo falava o português e a corte o espanhol. Dentre as duas hierarquias, a política e a religiosa, a religiosa era mais poderosa, pelo menos em Portugal. Os mortos vão surgindo na ordem de poder, o temporal culminando com o imperador e o religioso com o papa.
Aos nossos olhos de hoje o final é bajulador e desconsidera os crimes e as maldades dos grandes, mesmo levando-se em conta que durante a peça todos são mostrados a nu e ridicularizados pelo Diabo. Cristo surge como um Deus ex machina. E os ricos e poderosos não vão pro inferno. Parece até a justiça de certos países.
Sobre a postura de Gil Vicente me vem à mente uma anedota dos tempos da ditadura no Brasil. O torturador dizia: desculpem, mas eu preciso sobreviver. Talvez a diferença entre um torturador hideputa e um grande artista seja que no rastro do primeiro há mortes e dores e no do segundo a perenidade conquistada por uma obra de arte.

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