as mui amigas multinacionais

A ditadura da imoralidade 04: AS MUI AMIGAS MULTINACIONAIS.

Não mais me contenho, dizer-lhes eu venho
Como uso com empenho o dinheiro que tenho:
Comprar, comprar, comprar, comprar,
Comprar, comprar, comprar, comprar…
-exaco, Oli-etti, Esso—ell, Atlan-ic,
Que chique, que chique, estou podre de chique.

Troquei a mobília, vesti a família,
Passeei em Brasília, casei minha filha.
Comprar, comprar, comprar, comprar,
Comprar, comprar, comprar, comprar…
-olkswagen, -ord, -norr, Ishikawa-ima,
Por cima, por cima, estou sempre por cima.

O carro também, (o do ano que vem),
Quando a gente tem, se sente tão bem…
Comprar, comprar, comprar, comprar,
Comprar, comprar, comprar, comprar…
-erox, Ya-aha, -argill, -ocacola,
A sacola, a sacola, é encher a sacola.

A loura platina, importados da China,
Jasmim na latrina, esvaziar a vitrina.
Comprar, comprar, comprar, comprar,
Comprar, comprar, comprar, comprar…
–evrolet, -irelli, -odak, I-T,
Pra você, pra você, só pensando em você.

Tristeza embrulhada, alegria ensacada,
Arte empacotada, vida engarrafada.
Comprar, comprar, comprar, comprar,
Comprar, comprar, comprar, comprar…
A Anderson –ayton, -ood Year, King Size,
E nada de entrada, em prestações mensais.

Curitiba, setembro.1976.
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samba enredo…

A ditadura da imoralidade 03: SAMBA ENREDO, CANTADO PELA MAIOR ESCOLA-DE-SAMBA DO MUNDO, 200 MILHÕES, NUM DESFILE QUE DURA O ANO INTEIRO, MENOS NO CARNAVAL.
“Professor, o que é que eles falam? Os honestos falam que, infelizmente, é assim mesmo. Os desonestos falam que é difamação e calúnia”. (do livro: Elogio da Obscenidade, de Erasmus Brasilianus)


É um grande incompetente,
Um João-ninguém incoerente.
Lacaio mais que obediente
Do lobby mais que indecente.
Pesadelo permanente,
Não passa de um imprudente
Legislador delinqüente  
Da pizza inconseqüente.

Satanás, acuda,
Seja indulgente.
Dá um jeito no Zé
Que faz as leis pra gente.

Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Só que é difícil encontrá-los
Pois falam a fala dos santos.
Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Reconhecê-los não vamos,
Só mostram sorrisos e encantos.

Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
São isentos, são imunes
A figas, mandingas, quebrantos.
Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Brilham, refulgem, desfrutam,
Escondidos nos seus recantos.

É um macaco boçal,
Chega a ser desnatural,
É um asno habitual
Teimoso piramidal.
Uma glória nacional,
Legislador canibal, 
Quanto mais irracional
Mais se acha professoral.

Satanás, acuda
Livra-nos do mal.
Desmancha o desfile
Desse carnaval.

Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Vivem de sangue e não ouvem
Lamentos, gemidos e prantos.
Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Eles se vendem, se trocam,
Se entendem com seus contracantos.

Filhos de puta são poucos
Mas filhos-da-puta são tantos…
Ninguém quer apedrejá-los
Pois vestem mantos sacrossantos.
Filhos de puta são poucos 
Mas filhos-da-puta são tantos…
São eles os responsáveis
Por vivermos dias de espanto.

(uivos indignados de Abel, Luvita, Noé, Sudá, Abrão e Oliba)

Curitiba, 13.09.1777
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receita de bolo

A ditadura da burrice 03: RECEITA DE BOLO
(poema do protesto inútil)

(O herdeiro da coroa francesa não foi suicidado na prisão)
 
Uma panela,
de preferência, gigante,
pra aumentar o poder.
E dentro dela,
um povo ignorante,
vai ajudar, podes crer.

Uma fornalha,
água, vinagre, pimenta,
pra cozinhar sem ferver.
Muita metralha,
porque se a coisa esquenta
preciso a ordem manter.

Dez colheradas
de ajuda americana
pra garantir e suster.
Umas pitadas
de liberal à paisana
pra popular parecer.

Raspe com espadas
o empecilho suspeito
pra ensinar o temer.
Cem toneladas
de ordem, lei e respeito
e a ilusão de crescer.

Dar colorido,
cobrir com filmes e fotos
pra o azedo esconder.
É proibido,
nesta receita, entrar votos.
Ou bolo solado vai ter.

Cachaça, cuíca,
futebol, falsa alegria,
demagogia a valer.
Bem melhor fica
se cozinhar n’água fria
e está prontim pra comer.
 

Esse bolo é meu,
não deixo ninguém tocar.
Esse bolo é meu,
e está prontim pra papar.
Esse bolo é meu,
não deixo ninguém mexer.
Esse bolo é meu,
e está prontim pra comer.
Esse bolo é meu,
não deixo ninguém bulir.
Esse bolo é meu,
e está prontim pra engolir.

Curitiba, 10.10.1977
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