o papagaio de zamenhof

O PAPAGAIO DE ZAMENHOF

    Esta pecinha foi escrita originalmente em Esperanto. Foi apresentada com atores na Associação Paranaense de Esperanto, Curitiba, no final do ano letivo de 1987 e, com bonecos, no 25o. Congresso Brasileiro de Esperanto. em Campo Grande, em julho de 1989. Como um dos personagens só fala em Esperanto, tive que fazer algumas adaptações nessa tradução.

Cena primeira:

MACACO (entrando): Brasileiros e brasileiras!
APRESENTADOR (voz): Macaco! Macaco, onde está você? (entrando) Ah, está aqui. Está fazendo o quê?
MACACO: Nada. Estava cumprimentando o público e depois vou apresentar o teatro pra todos?
APRESENTADOR: Teatro… pra todos… pra quem?
MACACO: Pra eles.
APRESENTADOR: Eles… Você não sabe que eu não enxergo direito? Quem está aqui?
MACACO: Os esperantistas?
APRESENTADOR: Mas que esperantistas?
MACACO: Estamos num Congresso… É a hora do teatro…
APRESENTADOR: E por que não me avisou antes? Imbecil! EU vou cumprimentar o público. EU apresentarei o teatro. EU receberei os aplausos. Você, imbecil, vai passar o chapéu e recolher o dinheiro. E EU guardarei o dinheiro. (fazendo pose) Boa noite, senhores. Boa noite a todos. Música, música!… Eu apresento aos senhores o grupo de teatro de bonecos mais famoso do mundo! Nossos bonecos são estrangeiros. Estudaram nas mais famosas Universidades. Já até recusaram ofertas pra filmar nos Estados Unidos. Porque preferiram fazer esta apresentação para os senhores. (os dois saem cantando)
APRESENTADOR: Me dêem o dinheiro,
            que eu conto o conto inteiro…
MACACO:        O pobre macaquinho,
            também quer um dinheirinho…

GLORIA (entrando): Boa noite. Sou a senhorita Glória. Estou visitando este país desconhecido porque sou antropóloga. Esta região onde estou me é inteiramente desconhecida. Ainda não encontrei vivalma. Estou por aqui porque procuro um presente pro meu pai, o famoso e reconhecido professor Geraldomattos. Ele mora em Curitiba e coleciona objetos exóticos. O aniversário dele será na próxima semana. E terei que mandar o presente pelo correio porque não terei tempo de chegar em casa no dia certo. Se não encontrar o presente pro meu paizinho queridão, não sei o que farei. (ouve-se um barulho estranho). Parece que vem alguém, ouvi um barulho. (entra um Sujeito estranhíssimo, meio gente, meio robô; junto dele, o Papagaio) Em que língua devo falar com ele? O Senhor fala português?… (o Sujeito olha apenas) Do you speak English?… Parlez-vous français?… Parlate italiano?… Sprechen Sie Deutsch?… Diable, li vere nenion komprenas…
SUJEITO: Tion mi komprenas, tion mi komprenas!
GLORIA: Ôpa! Eu sem querer falei em Esperanto e ele disse que me entende. Vou perguntar de novo, pra confirmar. Ĉu vi parolas Esperanton?

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samhufo e a morte

SAMHUFO E A MORTE

Nota: Esta pecinha foi escrita originalmente em Esperanto. Ganhou o primeiro prêmio no Concurso de Artes da Associação Internacional de Esperanto (Universala Esperanto Asocio), com sede na Holanda, em 2003, na categoria Teatro.

SAMHUFO: (entrando) Olá, amigos. Eu sou Samhufo. Estou procurando meu cachorro. Cuidado, porque ele faz xixi em quem usa calça preta. É um pouco míope. Dik! Dik! Dik é o apelido dele. O nome é bem mais pomposo: Dictator Dictatoris Ditador. Calígula tinha um cavalo que era cônsul, eu tenho um cachorro ditador, que atualmente é mais importante. Mas o nome é muito comprido, por isso eu falo Dik. Dik! Cadê você? Na verdade, vou procurá-lo em outro lugar, aqui, não, porque… este muro aqui é o do cemitério… bem… eu não tenho medo, é só por precaução. Até já (sai)
MORTE: (entrando) Olá, senhores. Eu sou a Morte. Trago na mão a foice potente, com a qual eu ceifo a vida dos vivos, como se fosse uma haste de trigo. Assim! Corto a garganta dos mortais efêmeros e… adeus!, vidinha inútil e desagradável. Estou aqui pra encontrar um certo… um certo Samhufo. Consultei o livro infinito do destino e lá estava o nome. Samhufo. Os senhores o viram por aqui? Sei que ele tem o costume de andar por estas bandas. Vou continuar procurando. (sai; volta Samhufo).
SAMHUFO: Não consegui achar o cachorro. Dik! Dik! Que coisa mais chata, este muro… bem, medo eu não tenho… mas este lugar… esta escuridão… (entra Dik) Ah, cachorro do diabo. Até que enfim! Aqui, Ditador! Por que você sumiu?
DIK: Auauau!
SAMHUFO: Estava passeando, não?
DIK: Au!
SAMHUFO: Muito bem, quero que faça uma coisa.
DIK: Aauauau! Auau! Au!
SAMHUFO: Primeiro, vamos sair daqui. Este lugar é quente… e no entanto eu me arrepio o tempo todo. (alguém solta um gemido longo e alto; Dik pula no colo de Samhufo) Tá com medo de quê? Seja macho, cachorro maricas. Seja um machão, seu medroso. (de novo o gemido; Dik foge) Ah, essa agora. Por todos os santos, eu já tinha dito que esse lugar é perigoso. (mais um gemido) Rezar pra que santo?  (começa a tremer) Ainda bem que não sou medroso, se não eu estaria tremendo todo. (mais um gemido) Acho que é um fantasma gemedor. Vou falar com ele. Quem é você? (silêncio) Parece que não me ouviu. Quem é você? (silêncio) Pela torre de Babel. Lembrei agora que fantasma não tem orelha e fala de um jeito esquisito.Tenho que falar alto, na língua de fantasma. Oh, vós, respeitável autor de gemidos tais! Quem é vossa excelência?
VOZ: Eu sou e…e…e…e…u…! (Samhufo treme mais ainda)
SAMHUFO: Grande novidade! Claro que ele é ele! Porque, se ele não fosse ele, ele seria eu e eu não seria eu e sim ele. Logo, se ele fosse eu e eu ele, quando eu falasse eu não precisava falar porque o eu que era ele falava e o ele que era eu escutava e eu ou ele ou ele ou eu… ih, já não estou entendendo mais nada. (alto) E o que deseja vossa excelência, oh, digníssimo autor de tão fúnerea voz?

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o homem que queria tremer

quinto A

O HOMEM QUE QUERIA TREMER

quinto A

Nota: Esta peça foi apresentada em novembro de 1972 no Auditório da Biblioteca Pública do Paraná, por alunos da turma Quinto A, da Escola Raphael Hardy. Durante o segundo semestre, de duas aulas semanais de Educação Artística, uma era dedicada aos ensaios. Foi um interessante exercício, escrever a cada semana um episódio, que era dado aos atores responsáveis pelos papéis.
    Baseei-me em dois famosos contos dos Irmãos Grimm (1785/1863 e 1786/1859), O Homem que queria tremer (Märchen von einem, der auszog, das Fürchten zu lernen) e O Túmulo (Der Grabhügel). Informação curiosíssima: No conto O Túmulo, o Soldado menciona o personagem de O Homem que queria tremer. Que eu me lembre, isto não ocorre em nenhum outro conto dos Irmãos Grimm. Isto poderia significar que os Irmãos, que saíram pela Alemanha anotando da boca do povo os seus contos e lendas, fariam algum tipo de “literatura” em cima do material anotado?
    Ao final do texto, apresento a lista dos alunos-atores, com seus respectivos papéis.

Cena 1. Sala (Pai, Compadre, Homem).

PAI: Ah, meu Deus do céu! Onde andará esse meu filho? Passei a noite toda esperando, já amanheceu e nada dele chegar. (batem) Opa! Será que é ele?
COMPADRE (entrando): Bons dias, compadre. Vim ver se você me empresta uma galinha choca para cobrir uns ovos de galinha d’angola.
PAI: Pois não, pois não. E como está a comadre?
COMPADRE: Está bem, está bem. Espera o seu décimo sétimo filho. E o afilhado, por onde anda que há muito tempo não visita os pobres?
PAI: Ah, compadre. Está me dando aborrecimentos, este filho. Saiu ontem para vender uns patos na aldeia vizinha e não voltou até agora.
COMPADRE: Santo Deus! Pode ter acontecido alguma coisa! Há ladrões terríveis no caminho, bandoleiros desalmados. Que teria acontecido?
PAI: De ladrões e bandoleiros eu não tenho medo. Meu filho é forte, você sabe, e um murro dele derruba qualquer golias. Mas me arrepio só de pensar que ele teve que viajar à noite perto do cemitério da igreja abandonada. Estão falando que há assombrações horríveis vagando por lá.

 

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