Resumo:
O rei: D. Manuel. A rainha: D. Maria. A noite: 07 de junho de 1502. O príncipe João, que será o rei João III de Portugal, nasceu ontem. Agora, com a corte reunida, Gil Vicente, vestido de vaqueiro, apresenta-se com o seu Auto da Visitação. Sua entrada já é teatral: levou, do lado de fora, umas porradas de uns criados mas conseguiu bater pelo menos num deles. Admira a câmara, dirige-se à rainha e elogia o príncipe e seus parentes. Anuncia que outros companheiros do povo trazem presentes simples e, baseado em sua experiência, eles também terão arrancados os seus cabelos.
GV001. Vaqueiro (fala)
Pardiez! siete arrepelones
Me pegaron á la entrada,
Mas yo dí una puñada
Á uno de los rascones.
Empero, si yo tal supiera,
No veniera,
Y si veniera, no entrára,
Y si entrára, yo mirára
De manera,
Que ninguno no me diera.
Mas andar, lo hecho es hecho:
(fala: Jorge Teles)
Comentário:
Eis criado o teatro em Portugal, “por ser cousa nova”. Temos já aqui elementos que aparecerão em toda a obra vicentina: a corte inserida na peça, o elemento popular e o cômico. Falta o elemento religioso, que virá logo a seguir. A rainha velha, Dona Leonor, tia do rei Don Manuel e viúva do rei anterior, Don João II, gostou muito dessa pequena manifestação teatral de Gil Vicente. Pediu a ele que a repetisse nas matinas do natal. Como o tema era específico para o nascimento do príncipe, Gil Vicente preparou sua segunda peça, esta já com um enredo mais elaborado, ainda que curta.
Observe-se que o texto é em espanhol, a língua da corte na época.