O dia sem nome, 8.
O que está acontecendo com Toicinho?, perguntou a avozinha ao ouvir aquele ganido longo e terrível. Correu ao quarto de Julek e viu o cão tremendo, com os olhos parados, agora uivando baixinho. Foi então que ela percebeu o assobio, aquele zumbir penetrante e agudo. Julek abriu os olhinhos, franziu a testa, a avozinha surgiu diante dele, curva, diminuindo, ele sentiu afundar-se dentro do cachorro, Toicinho esticou uma patinha que derreteu, o corpo da avó já era uma gelatina perdida no meio das roupas, Julek e Toicinho se fundiram num emaranhado de panos e pelos.
O sudário da morte cobriu Varsóvia e todas as outras cidades do mundo. A tela da tevê mostrou a olhos que se desmanchavam a simultânea e lenta diluição dos dançarinos. As luzes continuaram acesas, o programa continuou no ar, um programa vazio, roupas coloridas amontoadas, formando um grande círculo. A tela não se moveu mais, até quando, muito tempo depois, a luz foi cortada por se ter incendiado uma das centrais de energia.
A água corria, alguma chama lambia pedaços isolados de um grande sepulcro.
Varsóvia finalmente se apagou, depois que os últimos fogos acabaram. As noites voltaram a ser escuras, voltaram a ser escuras as noites. E caladas.
Igual, exatamente igual, em todas as cidades daquele espaço a que tínhamos chamado Polônia. Igual no resto. Onde só o vento e o frio e a chuva e a neve e o sol imenso… iluminando um grande nada…
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