as alegres comadres…. – shakespeare

AS ALEGRES COMADRES DE CAMPO LARGO

Tradução livremente adaptada de The merry wives of Windsor, de William Shakespeare (1564-1616), para um grupo de estudantes.

PERSONAGENS:
JOÃO FALSTAFF, libertino.
FENTON, um jovem.
ROBERTO SHALLOW, um cidadão.
SLENDER, seu primo, meio idiota.
SR. FRANK FORD, homem rico.
COMADRE ALICE FORD, sua mulher.
SR. JORGE PAGE, homem rico.
COMADRE MEG PAGE, sua mulher.
ANINHA, jovem filha dos Page.
GUILHERME, menino, filho dos Page.
PROFESSOR HUGO EVANS, professor inglês.
DOUTOR CAIUS, médico francês.
BARDOLFO, PISTOLA, NYM, empregados de Falstaff.
ROBIM, menino de recado de Falstaff.
SIMPLES, empregado de Slender.
RUBI, empregado do Dr. Caius.
SENHORA APRESSADINHA, empregada do Dr. Caius.

Criados, empregados, fadas e fantasmas fantasiados…

Uma rua em Campo Largo. Uma das entradas do palco é a porta da casa dos Page.

ROBERTO SHALLOW: Não adianta, Professor Hugo. Não tente me convencer. O senhor João Falstaff não zombará mais de mim. Vou aos tribunais!
SLENDER: Aos tribunais… Aos tribunais…
ROBERTO: Isto mesmo, primo. Professor, tenho uma família honrada. Não admito.
SLENDER: Não admito… Não admito…
ROBERTO: Isto mesmo, primo. Preciso honrar meus antepassados. Foram dos primeiros a morar em Campo Largo.
SLENDER: Em Campo Largo… Em Campo Largo… Têm até brasão.
ROBERTO: Isto mesmo, primo. Há mais de trezentos anos.
SLENDER:  Trezentos anos… É o mesmo escudo que usavam os descendentes que nasceram antes e será usado pelos antepassados que ainda vão nascer.
PROFESSOR HUGO (com sotaque inglês): Ser muito bom ter um escudo no família. Melhor ainda quando són muitos escudos. Gostaria de fazer o reconciliamento para acabar com toda a ofensividade. Vocês devem fazer os pazes. Quanto a você, jovem Slender, tenho um sugestionamento. Conhece o menina Aninha?
SLENDER: A menina Aninha Page? Tem cabelos escuros e é bonita.
PROFESSOR: Penso que você deve pedí-la em namoro. Ela herdou do avô um fortuna e se juntar com o seu fortuna, vocês dois serón muito felizes. Vou chamar o Senhor Jorge Page e resolvemos tudo.
ROBERTO: Falstaff estará aí?
PROFESSOR: Claro! Eu não estar mentindo. Detesto quem diz o mentira e também detesto quem não diz o verdade (Palmas).
JORGE PAGE: Quem bate?
PROFESSOR: O Professor Hugo! E Roberto Shallow, que tem um brasón e o jovem Slender, que quer falar com o seu filha!
SLENDER: O Senhor é que vai falar… O Senhor é que vai falar…
JORGE (entrando): Bom dia.
PROFESSOR: Pretendo fazer os pazes entre Roberto e Falstaff. Ele está aí?
JORGE: Está lá dentro. Mas vejam, aí vem ele. (Entram Falstaff, Bardolfo, Pistola e Nym).
ROBERTO: Sr. João Falstaff! O Senhor me ofendeu.
FALSTAFF: Eu ofendi o Senhor?
ROBERTO: Vai ter que responder ao Concelho Municipal.
FALSTAFF: Ouça o meu conselho. Pronto, já respondi.
ROBERTO: Estes seus empregados! Levaram-me a um bar, me embebedaram e me roubaram.
FALSTAFF: Pistola, você roubou a carteira deste senhor?
PISTOLA: Claro que não. Juro pelos senadores que nunca mentem.

FALSTAFF: Nym, foi você?
NYM: Claro que não.
ROBERTO: Da próxima vez que me embriagar, vou me embriagar com gente honesta.
PROFESSOR: Muito bom decisón, Senhor. (Entram Alice Ford, Meg Page e Aninha, está com uma jarra de vinho).
JORGE: Aqui não, Aninha. Beberemos lá dentro.
FALSTAFF: Comadre Alice! Chega em boa hora. (Beija-a no rosto).
JORGE: Senhores, o jantar está servido. Eu convido a todos. Vamos entrar. (Saem todos, menos Roberto, o Professor e Slender).
ROBERTO:  Vamos entrar. E você falará de namoro com a Aninha.
SLENDER: O Senhor falará… O Senhor falará… (Volta Aninha).
ANINHA: Meu pai espera que os Senhores entrem. Por favor. (Entram Roberto e o Professor). Você não vem comer?
SLENDER: Perdi a fome. Ah, perdi também o meu caderno de versinhos.
ANINHA: Caderno de versinhos…
SLENDER: Quando estou na frente de uma moça bonita e não sei o quê falar, eu leio um versinho e pronto.
ANINHA: Não se lembra de algum?
SLENDER (faz pose): Ela é verde e amarela.
            Mas é muito tagarela.
            Eu vou dar um tapa nela.
            Meu coração por ti gela.
ANINHA: Tigela? Tigela?
JORGE (entrando): Jovem, estamos à sua espera. Venha.
SLENDER: Depois de vocês. Por favor! (Saem o pai e a filha. Depois Slender, deslumbrado. Escuro.  A seguir, entram o Professor e Simples).
PROFESSOR:  Estou mandando este cartinha à jovem Aninha. Vá até a casa do Doutor Caius, o francês. O empregada dele conhece a moça e vai entregá-la. (Saem. Entram Falstaff e os três empregados).
PISTOLA: Senhor, hoje é dia de pagamento e estamos há três meses sem salário.
FALSTAFF: Paciência, paciência. Sabem que estou numa fase ruim. Pelo menos vocês têm comida.
BARDOLFO:  Mas queremos nossos salários.
FALSTAFF: Eis o meu plano. Viram que casa rica! Pois vou revelar a vocês que medidas eu vou tomar.
PISTOLA: Dois metros de cintura.
FALSTAFF: Deixa de trocadinhos. Sei que sou gordo mas isto não impediu que as duas comadres me devorassem com os olhos. Vocês não viram porque estavam se empaturrando de vinho. Olhadinhas, sorrisinhos, piscadelas… Sei que agradei em cheio. Pois eis meu plano. Vou namorar as duas e tirar dos maridos algum dinheiro. Você entrega esta carta à comadre Alice e você entrega esta à comadre Meg.
PISTOLA: Eu é que não entro nessa.
BARDOLFO: Nem eu.
FALSTAFF: Pois eu passo sem vocês. Robim! Robim! (Entra Robim) Leve estas duas cartas… (Cochicha no ouvido do garoto, apontando a casa dos Page e saem).
PISTOLA: Safado. Eu vou contar tudo pro Senhor Jorge Page.
BARDOLFO:  E eu vou contar pro Senhor Frank Ford. (Saem. Entram a Senhora Apressadinha e Rubi).
APRESSADINHA: O Doutor Caius ficou de me encontrar aqui para que eu leve as compras que ele fez. Vai por aquela rua e vê se o encontra. (Sai Rubi e entra Simples).
SIMPLES: A Senhora é que é a empregada do Doutor Caius?
APRESSADINHA: Sim. O que quer?
SIMPLES:  Meu patrão pediu pra Senhora entregar esta carta a Aninha. Diz que a Senhora a conhece.
APRESSADINHA: E quem é o seu patrão?
SIMPLES: O jovem Slender. E pede que lhe dê este presentinho. E isto é pra Senhora. Pode ser?
APRESSADINHA: Me dê a carta. Não deixe que ninguém veja… (Entra o Doutor Caius).
DOUTOR: Querro esta carta! Querro esta carta! (Lê a carta). Trraiçón. A Senhorra me prrometeu que ia falar com a Aninha parra ela namorrar comigo. E quem é o garroto que trrouxe esta carta? (Sacode Simples).
SIMPLES: Socorro! O Senhor é maluco?
DOUTOR: Maluco de amor. Quem escrreveu esta carta?
SIMPLES: O Professor Hugo.
DOUTOR: Ah, aquele inglês! Diga a ele parra ir até a prraça da Matrriz que querro dar uma surra nele. Aquele inglês safado! Senhorra Aprressadinha, diga à menina Aninha que qualquer dia vou visitá-la. Me recomende a ela. (Dá-lhe dinheiro e sai).
APRESSADINHA: Que confusão! Dois querem namorar a menina Aninha mas ela quer um terceiro.
SIMPLES:  Como assim, Senhora? (Entra Fenton).
FENTON: Senhora Apressadinha, preciso de um favor. Entregue este bilhetinho à Aninha. Ela já sabe do que se trata. (Entrega o bilhete e um dinheiro).
APRESSADINHA: Conheço a menina Aninha melhor do que qualquer um em Campo Largo. Sei de quem é o seu coração. Vá, rapazinho, dê o recado do encontro na Matriz. (Saem, cada um para um lado. Entra a Comadre Meg, lendo uma carta).
MEG: Essa agora. É realmente incrível! Quando moça quase nunca recebi cartas de amor. O que pensará este louco? Não sabe que sou casada? Vamos continuar: A senhora deve saber que não existe motivo para o amor. A Senhora não é jovem, mas também eu não sou. Sou apenas um velho soldado apaixonado. Não peço que tenha piedade de mim, que um soldado nunca pede piedade. Apenas peço que me ame.
            Do teu soldado
            Tão perturbado
            Mas iluminado!
            Por amor, fadado
            Ao lutar cansado.
    Mas que espécie de Herodes será esse? Teria eu dito algo que o fizesse encher-se de esperança? Conversou comigo duas ou três vezes! Quero vingar-me dessa carta estúpida. (Entra a Comadre Alice).
ALICE: Comadre, ia agora mesmo à sua casa.
MEG: Eu digo o mesmo, ia agora à sua casa. Mas o que aconteceu? Não se sente bem?
ALICE:  Realmente. Veja o que recebi. Que tempestade trouxe até Campo Largo essa baleia recheada de gordura. Minha honra está em jogo. Receber uma carta estúpida dessas me compromete. Exijo vingança. Já viu algo igual a isto?
MEG: Sim. Absolutamente igual, com a diferença que na minha ele escreveu Comadre Meg e na sua Comadre Alice. Aposto que tem centos dessa carta já impressa e só muda o nome da Comadre. Veja.
ALICE: Mas são idênticas! A mesma letra, o mesmo versinho idiota, o que pensa que nós somos?
MEG: Precisamos nos vingar. O que poderíamos fazer?
ALICE: Veja, ali vem o meu marido, o teu e os empregados dele. Vamos entrar na sua casa e encontrar o mais terrível dos planos de vingança. (Saem. Entram Frank, Pistola, Bardolfo e Nym).
FRANK: Tem certeza de que isto é verdade?
PISTOLA: A mais verdadeira das verdades verdadeiras. Está cortejando a sua mulher. Cuidado com a testa, Senhor!
FRANK: E o que tem minha testa?
PISTOLA: Ainda não tem, mas se não vigiar bem a sua mulher, vai ter, oh nome odioso!
FRANK: Que nome odioso?
PISTOLA: Chifres, Senhor. Mas não se preocupe pois não seria o primeiro cidadão de Campo Largo a exibí-los. Passe bem. (Saem os três empregados).
JORGE: Sujeitinho atrevido. Não dê atenção ao que ele disse.
FRANK: Mas, e se ele estiver dizendo a verdade? (Entram as Comadres).
MEG: Querido! Vai entrar já?
JORGE: Daqui a pouco, querida.
ALICE: Querido, está com a cara tão zangada!
FRANK: Vamos já para casa, vamos.
ALICE: Ainda não. Eu e a Meg vamos dar uma voltinha. Meg, vamos… (Afastam-se as duas e conversam).
MEG: Veja quem vem ali. Vamos precisar dela para os nossos planos. Senhora Apressadinha! Veio visitar a Aninha?
APRESSADINHA: Sim. Ela passa bem?
MEG: Sim. Vamos entrar. Temos muito a conversar. (Saem as três).
JORGE: Então, Frank?
FRANK: Você ouviu o que aquele empregado falou.
JORGE: Ora, são uns desocupados! Falstaff os despediu e eles estão se vingando.
FRANK: Isto não me deixa mais tranquilo. Veja, aquele não é o dono da pensão onde ele mora?
JORGE: Sim, sim. Agora preciso entrar. Vemo-nos mais tarde. (Sai pela porta que seria a de sua casa. Entra a seguir o dono da pensão).
FRANK: Senhor, não é o dono da pensão ali da esquina?
DONO: Sim, sim. Mas com toda a certeza o Senhor não quer se hospedar lá.
FRANK: Não. É apenas uma brincadeira. Dou-lhe duas caixas de cerveja se o Senhor me apresentar ao senhor Falstaff como se eu fosse um certo senhor Fontes.
DONO: Apenas uma brincadeira! Claro, por que não? (Entra Roberto Shallow).
ROBERTO: (Ao dono) Senhor, está na hora. Precisamos ir lá para assistir. (A Frank) Venha, também, Senhor Frank. O dono da pensão marcou uma briga entre o professor inglês e o médico francês, só que marcou um lugar diferente para cada um.
DONO: Vamos, vamos. Venha também, Senhor… Fontes! (Saem)
FRANK: Já estou indo. Tenho um plano em mente. Vou sondar minha mulher. Se ela estiver sendo honesta, não perderei meu tempo. (Sai. Entram a seguir Falstaff e Pistola).
FALSTAFF: Não adianta, não tenho dinheiro e não darei um centavo.
PISTOLA: Nem cem reais?
FALSTAFF: Nem cinquenta!
PISTOLA: Trinta?
FALSTAFF: Nem quinze.
PISTOLA: Dez? (Entra o pequeno Robim).
ROBIM: Senhor, aquela senhora quer falar com o Senhor. (Entra Dona Apressadinha).
APRESSADINHA: Boa tarde, Senhor. Poderia lhe falar… em particular? (Afastam-se). A comadre Alice Ford… Quer dizer, a comadre…
FALSTAFF:  O que tem a comadre Alice Ford?
APRESSADINHA: Oh, Senhor, ela é uma boa criatura. O Senhor é mesmo um grande sedutor.
FALSTAFF: Mas, minha Senhora, não encompride a coisa…
APRESSADINHA: Então aí vai o curto da questão. Ela está perdidamente… apaixonada! Pede que vá visitá-la entre dez e onze horas porque o marido não estará em casa.
FALSTAFF: Entre dez e onze… Diga-lhe que não faltarei. (Ela estica a mão, ele dá-lhe dinheiro).
APRESSADINHA: Tem mais, Senhor. A Comadre Meg… oh, o Senhor deve ter mel no olhar. Pediu que lhe dissesse que não faltará ocasião para um encontro a sós.
FALSTAFF: A Comadre Meg? Diga-me, por acaso uma teria conversado com a outra sobre…
APRESSADINHA: Teria graça! Uma me deu o recado há pouco e a outra quando eu já estava a procurá-lo. (Estica a mão. mais um dinheiro). A Comadre Meg pediu-lhe um favor. Que o Senhor lhe empreste o empregadinho Robim, porque o acha muito simpático.
FALSTAFF: Claro, claro. Robim! Vá com esta senhora…
APRESSADINHA: Senhorita!
FALSTAFF: … Senhorita… e seja por algum tempo o menino de recados da Comadre Meg. (Saem Robim e Apressadinha. Entram Frank e o dono da pensão).
DONO: Senhor Falstaff. Ia mesmo procurá-lo. Quero apresentar-lhe o senhor Fontes.
FALSTAFF: Em que posso ser útil, Senhor? (Frank olha o dono da pensão).
DONO: Fiquem à vontade. Estou organizando uma gozação com o professor inglês e o médico francês. Com licença. (Sai).
FRANK: Senhor Falstaff. Tenho até vergonha de falar o que vou falar. Mas a sua fama de sedutor irresistível foi tão longe que venho pedir-lhe um favor. Antes quero que aceite esta bolsa de dinheiro.
FALSTAFF:  Ah, o dinheiro é o melhor soldado do mundo, vai sempre na frente de tudo!
FRANK: Vou ser breve. Estou apaixonado por uma senhora casada. Mas sou acanhado e temo que ela me recuse. Dou-lhe presentinhos às escondidas mas ela não me dá atenção. O Senhor deve conhecê-la. A Comadre Alice Ford.
FALSTAFF: Alice Ford? O Senhor lhe dedica afeicão?
FRANK: Mas veja o que acontece: já me disseram que a maneira com que se comporta comigo não é normal. Que com os outros ela é, digamos, dada.
FALSTAFF: Dada?
FRANK: Sim, dada. Eis o meu plano. Dou-lhe esse dinheiro e o Senhor vai cortejá-la. Eu vou ficar na espreita. Se o Senhor conseguir seduzí-la, eu chego até ela e faço uma chantagem, dizendo que vou contar tudo ao marido.
FALSTAFF: Pois chegou na hora certa. Acabei de marcar um encontro com essa comadre entre dez e onze horas, que o marido dela não estará em casa.
FRANK: Entre dez e onze horas? Daqui a pouco, então. Tem certeza?
FALSTAFF: Absoluta. Acabamos de combinar.
FRANK: Conhece o marido dela, Senhor?
FALSTAFF: Nem quero conhecer. Chifrudo duma figa. O pobre que se enforque. Aliás, falo pobre mas dizem que vive nadando em dinheiro. Para mim ela será a chave para abrir o cofre desse grande ciumento imbecil.
FRANK: Era bom que conhecesse o senhor Frank, Senhor, para evitá-lo caso se encontrassem.
FALSTAFF: Não passa de um chifrudo. Vá a pensão à noitinha e lhe conto como foi tudo. (Sai).
FRANK: Sujeito safado! E ela? Ah, o que farei com esses dois! Chifrudo duma figa! Grande ciumento imbecil… (Sai. Dr. Caius e Rubi, num canto do palco.)
DOUTOR: Que horras son, menino?
RUBI: Já passou da hora, doutor. Acho que o professor ficou com medo.
DOUTOR: Medrroso. Foi combinado na frrente da igrreja e non veio. Esse prrofessor non merrece a senhorrita Aninha. Querria matá-lo. Fique parrado que vou te mostrrar como vou matá-lo. (Avança).
RUBI: Socorro, Doutor Caius, não sei lutar. (Sai correndo).
CAIUS: Volte aqui, garroto. Vou apertar o seu pescoço prra mostrrar como vou matar o prrofessor. (Perseguição. Saem. No outro canto do palco entram o Professor Hugo e Simples).
PROFESSOR: Simples, por onde procurou o Doutor Caius?
SIMPLES: Por toda Campo Largo, senhor. Só não procurei na frente da Igreja Matriz.
PROFESSOR:  Procure lá também. Medroso. Marcou comigo atrás do igreja e nón veio. (Simples sai. O professor canta).
        Junto às cascatas muito formosas
        Cantam em bandos as passarinhas…
        Nos meus canteiros de belas rosas
        Há mil perfumes e mil cheirinhas…
    Piedade, Senhor, este canção me dá vontade de chorar…
        Junto dos rios do Babilônia… (Entra Simples).
SIMPLES: Professor, ali vêm eles.
PROFESSOR: Está armado?
SIMPLES: Não, senhor. (Entram o Doutor Caius e Rubi e ficam olhando de longe).
PROFESSOR: Segura o meu casaco. (Entram Jorge Page, Roberto Shallow e Slender).
ROBERTO: Então, Professor. Está preparado para a luta?
SLENDER: Ah, Aninha!…
PROFESSOR: Aquele medroso nón quis vir ao encontro.
JORGE: Acho que não. Mas veja, Professor, ali está ele.
PROFESSOR: Ah, se fosse no tempo de William Shakespeare, eu pegaria um espada e abriria o seu barriga!
DOUTOR: Querro apertar o pescoço dele até os olhos saírrem parra forra!
SLENDER: Ah, Aninha!…
PROFESSOR: No tempo dos gladiadores eu pegaria uma tridente para pendurá-lo com os perninhas balançando!
DOUTOR: Vou enfiar a minha mom na sua boca e puxar a língua até aparrecerrem as trripas! Purquá ficou com medo de lutar?
SLENDER: Ah, Aninha!…
PROFESSOR: O Senhor é um covarde! Fugiu do local do luta!
DOUTOR: Digam vocês, meus amigos, eu non fui ao local combinado? Non fui?
DONO: Calma, meus amigos. Calma, Professor. Calma, Doutor. Um cuida da alma e o outro do corpo. Precisamos dos dois. Fui eu que zombei de vocês marcando a briga em lugares diferentes. Queremos que façam as pazes.
DOUTOR: Zombarron de nós.
PROFESSOR: Vamos, vamos, senhores. Agora está tudo bem.
SLENDER: Ah, Aninha!… (Saem todos. Vem pelo corredor do auditório Meg Page e o pequeno Robim. Enquanto isto contra-regras montam no palco uma pequena sala).
MEG: Venha, Robim. Vamos visitar a Comadre Alice. (Entra Frank Ford).
FRANK: Bom dia, Comadre. Está passeando?
MEG: Ia justamente à sua casa, visitar a Comadre Alice.
FRANK: E esse garoto? Nunca o vi antes.
MEG: É um simpático menino que trabalha para o senhor… Como se chama seu patrão, rapazinho?
ROBIM: Senhor João Falstaff.
FRANK: Falstaff?
MEG: Nunca lembro do nome. É amigo do meu marido. Me emprestou o garoto para passear comigo. Bem, vamos andando. Até! (Saem ela e o pequeno).
FRANK: Onde o Jorge está com a cabeça? Esse moleque bem pode ficar levando recadinhos daqui prali, dali praqui. E vão visitar minha mulher!… Com certeza há algo por trás disto. São quase nove horas. (Entram Jorge Page, Professor Hugo, Slender, o Dono da Pensão, Roberto Shallow, Doutor Caius e Rubi).
DOUTOR: Bom dia, senhor Frank!
FRANK: Que ótimo encontro, Há festa lá em casa daqui a pouco e quero que me acompanhem.
PROFESSOR: Oh, senhor Frank, estamos indo ao casa da Aninha…
SLENDER: Porque ele vai pedir a Aninha em namoro para mim. Isto é, se o senhor Jorge concordar.
JORGE: Bem, eu até concordo mas estou sabendo que minha mulher prefere o Doutor Caius.
DOUTOR: E minha emprregada Aprressadinha disse que a menina me prreferre.
DONO: Mas eu ouvi dizer que a menina gosta do jovem Fenton.
JORGE: Ah, esse não. Tem boa família mas ele mesmo é um esbanjador. Não, com o meu consentimento.
FRANK: Senhores, vai ser rápido. Há em minha casa um animal raro que quero que conheçam. Depois vou pagar uma rodada de cerveja a todos.
JORGE: Nesse caso, vamos acompanhá-lo. (Dirigem-se todos ao fundo do auditório. O palco já é uma pequena sala. Entram Alice e Meg).
ALICE: João! Roberto! Rápido!
MEG: O cesto está pronto? (Entram empregados com um grande cesto).
ALICE: Prestem atenção! Quando eu gritar: Rapazes, rápido, o cesto de roupa suja!, vocês entram e levam o cesto até o ponto do rio em que estào as lavadeiras.
JOÃO: Sim, Senhora. Vamos. (Saem).
ALICE: Agora, nós. Quando eu disser bem alto: Tenho que cuidar da minha reputação!
MEG: Eu entro e começamos a comédia.
ALICE: Vamos dar uma lição naquela abóbara aguada. (Entra Robim).
ROBIM: Senhora, o meu patrão está lá fora e pede para entrar.
ALICE: Mande-o entrar. (Sai o garoto). Esconda-se, Meg. (Meg se esconde de modo a ser vista pelo público. Entra Falstaff).
FALSTAFF: Oh, minha jóia celestial. Nem acredito que estamos sós.
ALICE: Oh! Oh!
FALSTAFF: Oh, minha pombinha de marfim. Estamos sós.
ALICE: Oh! Oh! Receio que o senhor esteja apaixonado pela Comadre Meg.
FALSTAFF: Aquilo? Gosto tanto dela quanto de uma prisão. Você é que é a minha gatinha. (Barulho e vozes na “rua”. Meg vai olhar e entra apavorada em cena).
MEG (teatral): Comadre Alice! Oh, senhor Falstaff. Comadre Alice, receio que a presença deste senhor possa comprometer a sua reputação. Como eu me enganei a seu respeito.
ALICE: Não é nada disto que você está pensando.
MEG (realista): Aconteceu algo terrível. Seu marido está vindo pra cá com Campo Largo inteira.
ALICE (continuando o “teatro”): Meu marido? Oh, senhor Falstaff, ele vai matá-lo. É doido varrido quando está com crise de ciúmes.
FALSTAFF: Oh, onde posso me esconder?
MEG: Neste cesto de roupa suja. Rápido. (Mal ele entra no cesto, entram Frank e todo o bando).
FRANK: Senhores, entrem. Vou lhes apresentar uma baleia muito rara. Alice! Nós vamos revistar a casa inteira. O doutor Caius fica aqui para que ninguém saia.
MEG: João! Pedro! Roberto! (Entram 3 ou 4 empregados). Levem este cesto daqui até o rio, onde estão as lavadeiras. (Eles saem, arrastando o cesto).
FRANK: Entrem, senhores. Podem revistar tudo.
ALICE (novamente teatral): Senhores, eis meu marido numa grande cena de ciúmes. (Entram alguns nos bastidores e já voltam).
DONO: Senhor, mas não há ninguém aqui.
JORGE: Frank, você tem estado muito nervoso.
MEG: Compadre Frank, não tem vergonha de expor assim a honra da comadre?
FRANK: Perdoe-me, querida. Bem, senhores, como eu prometi diversão, vamos ao bar da esquina que eu pago uma rodada de cerveja. (Saem todos para o auditório. As duas entram nos bastidores. Entram Fenton e Aninha, num canto do palco).
ANINHA (lendo):     Meu coração não tem olhos
            Mas está cego de amor.
        Você mesmo escreveu?
FENTON: Sim. Pensando em você.
ANINHA:        Meu coração não tem olhos
            Mas está cego de amor.
            E mesmo sem se mover
            Irá onde você for.
        Oh, é tão lindo. Mas tenho medo de te namorar. Minha mãe pode descobrir.
FENTON: Precisamos convencê-la. E seu pai?
ANINHA: Meu pai quer que eu namore o bobão da tigela.
FENTON: Tigela?
ANINHA: Deixa pra lá. Vamos, vamos (Saem. No auditório vêm Falstaff e Bardolfo).
FALSTAFF: Bardolfo, vamos tomar uma cerveja. Ah, ser atirado dentro do rio no meio daquela roupa suja. E o pior era o cheiro. Lençóis, cuecas, meias, pra não dizer outras peças… (Entra dona Apressadinha).
APRESSADINHA: Senhor, a Comadre Alice pede desculpas!
FALSTAFF: Pede desculpas! Depois de me enfiar num cesto e me jogar no rio?
APRESSADINHA: O marido dela é muito desconfiado. Mas ela quer vê-lo ainda hoje, entre as oito e as nove. O marido não estará lá. (Estica a mão. Recebe um dinheiro).
FALSTAFF: Bem, já que é assim. O que não faz um homem apaixonado? (Ela sai. Entra Frank). Bardolfo, vai indo que já te alcanço. Então, senhor Fontes?
FRANK: Eu é que pergunto, senhor. Conseguiu o que queria?
FALSTAFF: Quase, Senhor Fontes.
FRANK: Como quase? O Senhor entrou na casa dela?
FALSTAFF: Claro!
FRANK: E o marido não descobriu?
FALSTAFF: O chifrudo chegou bem na hora e atrapalhou tudo.
FRANK: E não o procurou para desmascará-lo? Parece que ele é muito ciumento.
FALSTAFF: Eu já conto. Quando eu ia conseguindo o que queria, entrou a Comadre Meg dizendo que o marido estava chegando em casa com Campo Largo inteira. Elas me esconderam num cesto de roupa suja…
FRANK:  O cesto! O cesto de roupa suja! (contendo-se) O cesto! Que inteligentes, hein?
FALSTAFF: Mas já está tudo resolvido. Hoje à noite entre as oito e as nove eu volto lá. O chifrudo do marido vai sair novamente.
FRANK: Ah, o chifrudo do marido vai sair novamente…
FALSTAFF: Então, amanhã eu lhe contarei tudo. Não teria um dinheirinho pra me adiantar?
FRANK: Han? Ah, um dinheirinho. Aqui está, aqui está. (Sai Falstaff). No cesto de roupa suja! Bem me lembro que os empregados puxavam com dificuldade. E eu ali, a bancar o palhaço. Ah, mulheres! (Sai. No auditório passeiam Meg, Apressadinha e o menino Guilherme).
APRESSADINHA: Estou lhe dizendo. O jovem Fenton é um ótimo rapaz e parece que a menina Aninha gosta dele.
MEG: Não adianta. Meu marido quer que ela namore o jovem Slender e eu prefiro o Doutor Caius. Oh, ele fala francês! (Entra o Professor Hugo).
PROFESSOR: Bons dias, meus Senhoras. Então, menino, como vón os estudos?
GUILHERME: Já decorei tudo o que o senhor me ensinou.
MEG (para Apressadinha): Ele está aprendendo inglês.
PROFESSOR: Se eu te perguntar os horas. Que horas són?
GUILHERME: Faltam dois para as duas… Two to two.
APRESSADINHA; Tututu. Deve ser um tutu com três colheres de farinha.
PROFESSOR: Viu, Comadre, como ele sabe tudo? Como se diz bastante?
GUILHERME: Too much!
APRESSADINHA: Bem, já que tem tutu é bom mesmo um tomate. Só falta a linguiça.
COMADRE: Ia mesmo à sua casa, professor. Hoje é o dia de pagamento.
GUILHERME: Sei como se diz dia de pagamento em inglês!
PROFESSOR: Guilherme, nón precisa dizer!
GUILHERME: Pay day!
APRESSADINHA: Oh, Comadre, a Senhora ainda paga para ele aprender estas coisas. Vamos, vamos. (Saem todos para o mesmo lado. Escuro. No palco entra Alice e logo a seguir Meg. Meg finge que se esconde e a seguir entra Falstaff).
FALSTAFF: Oh, minha amada pombinha. Você tem certeza de que seu marido não vai voltar já? Aquela experiência do cesto foi (apertando o nariz) horrível…
ALICE: Oh! Oh!
MEG (escondida): Comadre! Comadre!
ALICE (teatral): Oh, de novo esta tagarela! Esconda-se, esconda-se!
FALSTAFF: No cesto nunca!
ALICE: Entre neste quarto (Falstaff sai. Entra Meg).
MEG: Comadre, há alguém aqui?
ALICE (teatral): Comadre, o que está pensando de mim?
MEG: Estou pensando que de novo o seu marido vem pra cá com toda a cidade!
ALICE: Oh, Comadre, o quê faremos? Na certa vai revistar os quartos. Já sei! A tia da empregada esteve aqui para ler a minha sorte e deixou um vestido. Vamos vestí-lo para que possa sair. (Entra Falstaff).
FALSTAFF: Nunca vestirei vestido de mulher! (Vozes e barulhos no auditório). Socorro! Onde está o vestido? (Entram Falstaff e Meg. Logo a seguir entra Frank com todo o resto).
FRANK: Hoje ele não escapa! Senhores, revistem tudo! (Saem o doutor e Roberto Evans, enquanto Frank revista o cesto).
ALICE: Mas de quem está falando, querido?
FRANK: Daquela baleia bêbada que encalhou nas praias de Campo Largo.
SLENDER: Campo Largo não tem praia, senhor Frank.
FRANK: Cala a boca, idiota. Onde está ele? Tenho certeza de que há alguém aqui!
ALICE: Sim, mas não quem você pensa. Está aí a tia da empregada que veio para ler a sorte para mim e para a Meg.
FRANK: O quê? Aquela bruxa está aqui? Já disse que não quero aqui aquela feiticeira (entram Meg e Falstaff, este com um vestido preto e um grande véu sobre a cabeça). Fora daqui, feiticeira! Fora (Bate em Falstaff até que este sai de cena).
PROFESSOR: Pelo sim, pelo nón, deve mesmo ser um feiticeira. Nón gosto de mulher de barba e vi pelo véu que ela tem um barba muito feia.
DOUTOR (entrando): Prrocurramos e prrocurramos e não encontrramos a baleia!
JORGE: Frank, você está muito nervoso.
FRANK: Senhores, novamente peço desculpas. Vão até o bar e eu vou em seguida para pagar uma rodada. (Saem todos e ficam em cena os dois casais).
ALICE:  Você está cansado, querido.
FRANK: Há algo que não entendo. Seria capaz de jurar que ele esteve aqui de manhã e saiu dentro do cesto.
ALICE (rindo): E acabou de sair vestido de mulher…
MEG (rindo): … e debaixo de pancada…
FRANK: Mas o quê significa isto?
ALICE: Calma, calma. Meg, pegue as cartas. (Meg sai e volta com as duas cartas). Veja.
FRANK: Que absurdo!
JORGE: Para você também. Uma carta idêntica.
MEG: E resolvemos nos vingar daquele barril de pinga.
ALICE:  Só não entendemos como, nas duas vezes, você apareceu exatamente na hora.
FRANK: Outra hora eu explico. Me perdoa, querida? E você, Jorge, acha que a vingança foi suficiente?
JORGE: Acho que sim.
ALICE: De jeito nenhum!
MEG:  Queremos desmascará-lo diante de toda a Campo Largo.
FRANK: De que maneira?
ALICE: Deixem isto com a gente. Vamos resolver tudo e depois contamos pra vocês. (Saem as duas para um lado e os dois para o outro. Escuro. No auditório passeia Fastaff mancando).
FALSTAFF: Ai de mim! Primeiro no cesto e depois coberto de pancada. Parece até que combinaram com os maridos. (Entra Apressadinha).
APRESSADINHA: Claro que não. As coitadinhas estáo morrendo de pena do senhor. Foi só um golpe de azar. Mas agora querem recompensá-lo e resolveram um jeito de estarem as duas juntas com o senhor, ao mesmo tempo!
FALSTAFF: As duas juntas? O diabo que fique com uma e a avó dele com a outra!
APRESSADINHA: O Senhor, com todo este encanto, vai ter coragem de resistir?
FALSTAFF: Oh! Já nasci assim.
APRESSADINHA: Eis o combinado. Amanhã à noite vai haver um baile na chácara de Jorge Page. Há lá um lendário pinheiro, antigo e muito alto. Elas querem que o senhor, à meia-noite, vá até o pinheiro. Precisam apenas saber com qual animal o senhor vai se fantasiar.
FALSTAFF: Animal? Como assim?
APRESSADINHA: Todos vão com máscaras de animais.
FALSTAFF: Dizem que aquele pinheiro é mal assombrado.
APRESSADINHA: Conversa pra criança! Preciso que me diga o nome do animal.
FALSTAFF: Leão!
APRESSADINHA: O senhor Jorge vai como leão.
FALSTAFF: Touro!
APRESSADINHA: O senhor Frank.
FALSTAFF: Tigre!
APRESSADINHA: O professor! Quase todos os animais já foram escolhidos. Já sei, eu me lembro que da lista só sobrou o veado.
FALSTAFF: Veado! Isto nunca jamais em tempo algum…
APRESSADINHA: Que bobagem, senhor Falstaff. Ninguém vai saber que é o senhor e, depois, imagine o prêmio que receberá quando chegar junto ao pinheiro.
FALSTAFF: Oh, o que não faz um homem apaixonado. Até se fantasia de veado! (Sai Apressadinha. Entra Frank).
FRANK: Então, senhor Falstaff. Mas está mancando?
FALSTAFF: Levei umas chifradas. Mas não se preocupe, Senhor Fontes. Hoje à noite vá à chácara de Jorge Page e à meia-noite procure o carvalho antigo. Lá estarei eu com as duas. Hoje à noite Alice será sua. (Saem. Entram noutro ponto do auditório Jorge e Slender. No palco entram Aninha e Apressadinha e ficam escutando).
SLENDER: Então, Senhor Jorge. O quê tenho que fazer hoje à noite?
JORGE: Preste atenção. Aninha vai ser a rainha das fadas. Ela estará de branco. Você a pega pela mão e vá até a casa que lá estará esperando um juiz para casar vocês dois. (Saem. Noutro ponto do auditório entram Meg e doutor Caius).
MEG: Então está combinado. Aninha vai ser a rainha das fadas. Ela vai estar de verde. Você a pega pela mão e vá até a casa que lá estará um padre para casar vocês dois.
DOUTOR: Oh, madame, serrá uma grrande honrra casar com a querrida Aninha. (Saem).
ANINHA: Ai, Apressadinha, o quê faço? Eu e Fenton estamos noivos em segredo e não gosto de nenhum desses dois.
APRESSADINHA: Preste atenção. (Cochicha).
ANINHA: Sim, de vermelho!
APRESSADINHA: Depois… (Cochicha).
ANINHA: Sim, pro bosque!
APRESSADINHA: E aí… (Cochicha).
ANINHA: Ah, isto não!
APRESSADINHA: Eu explico… (Cochicha).
ANINHA: Sim, eles vão ter que aceitar. Vamos, vamos arrumar o vestido. (Saem. Escuro. Soa uma música etérea. Figuras mascaradas entram e saem e se juntam em bandos. Todos saem e entra Falstaff, com chifres de veado. Procura. Entra Alice).
ALICE: Veadinho! Onde está o meu veadinho de estimação?
FALSTAFF: Oh, minha corça dos olhos de mel.
ALICE: Trouxe a Comadre Meg (Meg entra).
FALSTAFF: Façam de mim uma caça. Uma pega uma metade, a outra pega a outra, a pança fica comigo, as roupas e os sapatos eu deixo pro caseiro da chàcara e os chifres pros seus respectivos maridos. (Alguém imita um ganido de cão. Falstaff se afasta para olhar e as duas desaparecem. Começam a entrar fadas coloridas e fantasmas. Falstaff se encolhe no meio do palco).
ANINHA (de vermelho): Fadas e fantasmas. Vamos revistar a floresta. É a noite das grandes virtudes. Se encontrarem alguém, belisquem forte. Se a pessoa não sentir dor é por que é honesta. Se for desonesta vai gemer e então vamos nos vingar…
PROFESSOR: Encontrei um pessoa escondido aqui! (Alvoroço. Começam a beliscar Falstaff, que resiste mas finalmente solta um gemido. Canto)
            Vamos conferir sua honestidade / Se ele for honesto de verdade / Nosso beliscar não vai doer. / Belisca que belisca / Belisca que belisca / Vamos beliscar até arder. / Belisca que belisca / Belisca que belisca / Belisca até a lua se esconder.
            (Durante o canto Slender se mostra e leva a que está de branco. O doutor a que está de verde. Fenton a que está de vermelho. Entram os dois casais. Frank bate palmas).
FRANK: Chega! Chega!
ALICE: Acho que a lição chegou ao fim.
JORGE: Vamos, Senhor Falstaff, confesse que tiramos a sua máscara.
FALSTAFF: Pelo jeito vocês me transformaram num grande asno.
MEG: Asno com chifres de veado.
FALSTAFF: Até um fantasma inglês… Bem que desconfiei mas minha culpa me fez ficar com medo. Mas o que faz aqui o senhor Fontes?
ALICE: Fontes, náo, Senhor. Frank. Frank Ford, meu marido.
JORGE:  Agora só falta chegar Slender com Aninha.
MEG: Querido, acho que você vai ter uma decepção. (Entra Slender com um rapaz alto).
SLENDER: Fui enganado! Senhor Jorge, olhe o quê eu levei. Quase me caso com isto!
MEG: Querido, não fique bravo, ele não era do gosto da Aninha. (Entra o doutor com outro rapagão).
DOUTOR: Fui trraído! Fui trraído! Minha Aninha de vestido verde não passava deste garrotón.
JORGE: Mas então quem levou a Aninha?
APRESSADINHA: Senhor, não fique zangado. É o céu que guia os apaixonados! (Entram Aninha e Fenton, de mãos dadas).
FENTON: Senhor Jorge Page. Senhora Meg Page. Nós estávamos noivos em segredo porque nos amamos. Os Senhores vão ter em mim o melhor genro do mundo.
JORGE: E o que fizeram no bosque até agora?
ANINHA: Papai!…
JORGE: Bem, já que assim resolveu o destino, vamos começar o baile e amanhã marcaremos o casamento. (Preparam-se para o baile. Falstaff tira o capacete).
FRANK: Senhor Falstaff. Me deve uma bolsa de dinheiro. Se dançar com o capacete, perdoo a dívida. (Falstaff o recoloca. Começa a valsa. Enquanto trocam de par as moças tiram o véu e penduram nos chifres de Falstaff que acaba por assumir o papel de palhaço).

Campo Largo, 03.06.2001.

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