canção 06. pássaros de ontem

Canções Diversas 04: PÁSSAROS DE ONTEM

peguei, um a um, meus sonhos dourados,
um a um, sonhos alados,
ai, cortei-lhes suas asas;
pra que não viessem voar alvoroçados,
em bandos alvoroçados,
a fazer sombra nas casas
do anseio meu.

podei-lhes, depois, as unhas agudas,
podei as unhas agudas,
ai, que são de arranhar
lembranças doídas, fantasias mudas,
doidas fantasias mudas,
de nunca se acabar
o anelo meu.

seus magos bicos eu quebrei também,
bicos eu quebrei também,
ai, calando os seus cantos
cantos da luz do amor que sempre vem,
do amor que sempre é um bem,
e de outros desejos tantos,
tormento meu.

a todos esqueci na prisão forte,
esqueci na prisão forte
ai, da fria agonia;
inertes estão à espera da morte,
sempre à espera da morte,
que é quem agora vigia
no peito meu.

(canta jorge teles)

Curitiba, 17.05.1982

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CONTA OUTRA VÓ 06. A BOSTA DA VACA

a bosta da vaca

desenho de Ricardo Garanhani 

Nota: Eis aqui um exemplar da ética não explicitada de toda uma época. A pobreza é fonte de virtude, a fé possibilita o milagre e o mal sempre é punido. Bem-aventurados os simples.

 

          Era uma vez uma mulher muito pobre, que tinha muitos filhos, uns oito, e era viúva. Trabalhava na casa de uma mulher muito rica e muito má. A pobre trabalhava na cozinha da rica. Fazia pão, fazia biscoito, fazia bolo, fazia broa.

          Naquela época as filhas casavam e continuavam morando com os pais. Então as casas eram enormes e cheias de filhos e filhas e genros e netos e netas e avô e avó e bisavô e bisavó e tataravô e tataravó. Essa mulher rica era também viúva e na casa dela vivia uma gentarada que só de pão era uma fornada enorme. Era a mulher pobre que fazia aquela pãozeira. E sempre sobrava muita massa no tacho ou na bacia ou no alguidar. Cada vez que terminava uma massa, a mulher pobre pegava uma colher de pau e rapava toda aquela rapa e botava numa gamela e de tarde levava pra casa dela. Aí ela encontrava os filhinhos chorando de fome e assava no fogão de lenha aquela rapa de massas e virava uma broa bonita e os filhinhos comiam e paravam de chorar e até já estavam gordinhos.

          Todos os dias ela fazia isto.

          Aí, num domingo, a rica estava passeando e encontrou os menininhos da pobre, limpinhos e gordinhos. Achou muito esquisito e resolveu espiar.

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canção 05. mais clareza por fineza

A ditadura da imoralidade 02: MAIS CLAREZA, POR FINEZA


Chego cedo no trabalho
Pra poder ler meu jornal.
Procuro o noticiário,
Diz que está tudo legal.
E publicam com destaque
A fala do Maioral.

Não sei se entendi direitim…
O texto era bem assim:

“Bola  esmão pro  povolsa
oto é vido garantisto
ou  passeatro var quanos
mas já vrono tara o polto”.

Na hora do meu almoço
Ligo logo o meu radinho.
Quero ver o que há de novo
Cruzando no meu caminho.
Ouço a fala do ministro
que discursa com carinho.

Não sei se entendi direitim…
A fala era bem assim:

“A evonomia cai bem
brasisco o baixo é ril
amos vaumentosto o impar
pra enbolso o nosso cher”.

No nosso lanche de hoje
Fizeram reunião.
Todo mundo liberado,
Todo mundo no salão.
O diretor nos mostrou
Os novos planos de ação.

Não sei se entendi direitim…
O plano era bem assim:

“Os acionigem existas
precisar mais trabalhamos
se aumental o capitar
vovão cês chupedo o dar”.

De noite, ao chegar em casa,
Fico em frente da tevê.
Eles sempre apresentam
De todo fato, o porquê.
A notícia era boa,
Vou transmitir a você.

Não sei se entendi direitim…
A nota era bem assim:

“Tosso nal carnavaemos
A cachol e o futebaça.
Til azudo no Brasul
O paões dos bobalhis.

(Canta jorge teles; vozes: Léo, Felipe, Bruno e Carolina)

Curitiba, 23.11.1977

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