Monteiro Lobato

Memórias da Emília

 Capítulos 7, 8 e 9

 

7 – Emília descobre o segredo de Popeye.

          Emília foi à cozinha pedir a Tia Nastácia que pusesse uma porção de folhas de couve no pilão e amassasse tudo muito bem, fazendo uma pasta. Nastácia perguntou para quê.

            – “Não é da sua conta” – respondeu a diabinha.

            Tia Nastácia também suspirou. Mas fez a pasta de couve pedida, com a qual a boneca encheu uma latinha. Embrulhou-a num jornal e, muito segura de si, foi ter com Popeye.

            – “Eu sei do seu segredo, Senhor Popeye – disse ela inocentemente. – Chama-se: espi-na-fre. Sem espinafre o senhor vale tanto como um homem qualquer.”

            Popeye fez – pu! pu!

            – “Mas eu também sei – continuou Emília – que o seu espinafre só faz efeito por quinze minutos. Passados quinze minutos o senhor está bambo outra vez.”

            Popeye riu-se grosso, rosnando:

            – “Dobre os quinze minutos e terá acertado. Pu! pu!”

            Emília afastou-se. Era justamente aquilo o que ela desejava saber: quanto tempo durava nos músculos do marinheiro o efeito do espinafre. Correu a conferenciar com Pedrinho. Continue lendo “Monteiro Lobato”

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Memórias da Emília

 Capítulos 4, 5 e 6

 

4 – O anjo falso. Protesto das crianças inglesas. Aparece Peter Pan. Conversas com o anjinho verdadeiro.

            A criançada inglesa, depois que o Almirante entrou na sala de Dona Benta, foi com Pedrinho para o pomar.

            – “O anjo! O anjo! – gritavam todas. – Queremos ver o anjo!…”

            Pedrinho deteve-se diante da pitangueira e apontou para a estranha figura de mãos cruzadas no peito e olhos no céu, enganchada na forquilha da árvore.

            – “Lá está ele! O anjo é aquilo.” Fez-se grande silêncio. Milhares de olhos azuis se enfocaram na figurinha. Súbito, uma das crianças exclamou: – “Que anjo feio!”, e a barulhada começou. “Não valia a pena virmos de tão longe para vermos isso”, gritou outra. E terceira: “Em qualquer casa de brinquedos em Londres temos coisa melhor”. E quarta: “Parece anjo de pau… Nem se mexe”.

            Narizinho me fez sinal, a mim, Visconde, para que me mexesse e fiz uns movimentos muito desajeitados.

            – “Quê? – berrou de repente uma menina. – Anjo de cartola? Onde já se viu isso?”

            De fato. Na pressa da arrumação os meninos esqueceram-se de tirar da minha cabeça a célebre cartolinha, de modo que lá estava o anjo de cartola na cabeça, muito branca, porque também fora polvilhada de farinha de trigo. Continue lendo “Monteiro Lobato”

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Memórias da Emília

 Capítulos 1, 2 e 3

 

1 – Emília resolve escrever suas Memórias. As dificuldades do começo.

             De tanto Emília falar em “minhas Memórias”, uma vez Dona Benta perguntou:

            – Mas, afinal de contas, bobinha, que é que você entende por memórias?

            – Memórias são a história da vida da gente, com tudo o que acontece desde o dia do nascimento até o dia da morte.

            – Nesse caso – caçoou Dona Benta -, uma pessoa só pode escrever memórias depois que morre…

            – Espere – disse Emília. – O escrevedor de memórias vai escrevendo, até sentir que o dia da morte vem vindo. Então para; deixa o finalzinho sem acabar. Morre sossegado.

            – E as suas Memórias vão ser assim?

             Não, porque não pretendo morrer. Finjo que morro, só. As últimas palavras têm de ser estas: “E então morri…”, com reticências. Mas é peta. Escrevo isso, pisco o olho e sumo atrás do armário para que Narizinho fique mesmo pensando que morri. Será a única mentira das minhas Memórias. Tudo mais verdade pura, da dura – ali na batata, como diz Pedrinho.

            Dona Benta sorriu. Continue lendo “Monteiro Lobato”

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