GIL VICENTE 32. COMÉDIA  SOBRE A DIVISA DA CIDADE DE COIMBRA (1527)

Resumo:

Um Peregrino anuncia que a peça vai explicar fatos sobre Coimbra e o seu brasão, que apresenta uma Serpente, um Leão e uma Princesa saindo de um cálice. Um nobre está na serra, vivendo como pastor. A conselho de um Ermitão, seus filhos gêmeos Celiponcio e Liberata, saem para viver de caça. E o Ermitão se dá a conhecer: É o Rei Ceridon; um selvagem chamado Monderigon escravizou seu filho e sua filha Colimena (Coimbra) com quatro damas. Estando só, Liberata canta. O selvagem a ouve e se apaixona. Volta da caça o irmão Celiponcio e conta que encontrou uma serpente e um leão e que estes ficaram seus amigos. Monderigon, o selvagem, quer levar Liberata. Ela o repele e ele ameaça o irmão. Este, ajudado pela serpente e o leão, vem a matar Monderigon. Os prisioneiros são liberados. As damas explicam algumas linhagens da cidade de Coimbra, cujas familias possuem sobrenomes como Castro, Silva, Souza, Pereira e outros.

… Liberata (este trecho de canção tem o número GV084 e aparece em Dom Duardos)

Soledad tengo de ti,
O tierras donde naci.

(canta Graciano Santos)

 

Comentário:

Esta peça foi apresentada ao rei D. João III em Coimbra, estando a corte nesta cidade para fugir da peste que grassava em Lisboa. Típica comédia palaciana, nobres disfarçados, prisioneiros de um selvagem, animais simbólicos que se tornam amigos do protagonista.
Para explicar através de um drama as figuras do brasão, Gil Vicente faz uma curiosa junção de lendas, heráldica e alguns nomes que envolvem a cidade de Coimbra. Interessante observar que o autor não se preocupou com a tradição. Segundo algumas lendas, a figura feminina que surge no brasão, seria a filha de um rei bárbaro, Ataces, em cuja bandeira figurava um leão dourado. Com seus soldados, ele destruiu a cidade de Conimbriga, cujo rei era Hermenerico e em cujo emblema havia uma serpente. Hermenerico fundou uma nova cidade às margens do Mondego. Ataces resolveu vingar-se e novamente venceu a guerra. Para celebrar um tratado de paz, o rei vencido concedeu ao vencedor a mão de sua filha, Cindazunda. O brasão da cidade juntou os emblemas dos dois brasões, incluindo a figura da princesa saindo de um cálice.
Gil Vicente criou sua própria narrativa. Muitas das explicações são fantasiosas, outras apenas cômicas. É mencionado que na sala onde se faz a apresentação morreu Inês de Castro.

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