GIL VICENTE 14. EXORTAÇÃO DA GUERRA (1513)

Resumo:

Um Clérigo nigromante apresenta-se e fala de suas artes em magia negra. Invoca os demônios. Manda que dois deles tragam a troiana Policena, filha dos reis de Tróia. Ela cumprimenta a corte e elogia a todos. Instada pelo Clérigo, ela discursa sobre o amor cortesão. E por que causa deve o homem ser amado? Que seja um guerreiro! Vem Pantasiléia, rainha das amazonas. Ela instiga os portugueses à guerra. Aquiles também faz o seu discurso a favor da guerra. Finalmente entram Aníbal, Heitor e Cipião. Anibal exorta os fidalgos à guerra. Todos os discursos têm dois motes: é uma guerra santa porque contra os mouros; e a nobreza e a igreja devem doar suas jóias e dinheiro para a guerra. Une-se ao discurso de Anibal um canto e uma dança, com o que termina a peça.

GV033. Annibal (fala) e Todos (canto)

Ó Senhores cidadãos
Fidalgos e Regedores,
Escutae os atambores
Com ouvidos de christãos.
E a gente popular
Avante, não refusar.
Ponde a vida e a fazenda,
Porque para tal contenda
Ninguem deve recear.

“Ta la la la lão, ta la la la lão.”

Avante! avante! Senhores!
Que na guerra com razão
Anda Deos por capitão.

“Ta la la la lão, ta la la la lão.”

Guerra, guerra, todo estado!
Guerra, guerra, mui cruel!
Que o gran Rei Dom Manuel
Tem promettido e jurado
Dentro no seu coração
Que poucos lh’escaparão

“Ta la la la lão, ta la la la lão.”

Sua Alteza determina
Por acrescentar a fé,
Guerra, guerra, mui contina
He sua grande tenção.

“Ta la la la lão, ta la la la lão.”

Este Rei tão excellente,
Muito bem afortunado,
Tem o mundo rodeado
Do Oriente ao Ponente:
Deos mui alto, omnipotente,
O seu real coração
Tem posto na sua mão.

“Ta la la la lão, ta la la la lão.”

(fala e canto: Jorge Teles)

 

Comentário:

Pode-se afirmar que é esta a única obra de Gil Vicente que declaradamente faz propaganda política. Partia para Azamor em Marrocos uma expedição bélica portuguesa, chefiada pelo duque de Bragança e Guimarães. Muitos dos que iam não voltavam e a vitória nem sempre era garantida. A peça dá ânimo aos nobres, invocando a glória das conquistas portuguesas que precisava ser sustentada e, claro, tinha seu preço, não só em dinheiro mas em vidas.

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