Resumo:
Amadis e seus três irmãos conversam sobre a vida de aventuras, para adquirir-se a glória. Amadis fala que não combate pela glória mas porque serve a Oriana, “formosura soberana”. Os irmãos se separam, em busca de grandes proezas. Entra o rei Lisuarte, da Inglaterra, com a corte. Um arauto anuncia que sete reis inimigos estão se preparando para atacá-lo. Surge o nome do donzel do mar, o cavaleiro perfeito, Amadis de Gaula, para combater em sua defesa. Oriana, a filha do rei, se afasta com sua dama e pede que o arauto entregue a Amadis uma carta, marcando uma entrevista. Amadis e Oriana tem um encontro, onde ele jura eterno amor e serviço a sua dama. Quando Amadis está longe, realizando suas façanhas, defendendo uma princesa ultrajada, vem um anão, seu criado, e fala a Oriana que o herói está servindo a outra dama. Oriana, indecisa a princípio, acredita e manda outra carta a Amadis, rompendo sua relação. Em desespero por ter sido considerado infiel, Amadis esconde-se na Penha Pobre e vive como ermitão. Don Dorin, que estava presente quando Amadis se desfez das armas e vestiu a túnica de ermitão, fala a Oriana sobre a fidelidade do herói. Oriana pede que Dinamarca, donzela de sua corte, vá até Amadis e o peça para voltar. Com o mal-entendido esclarecido, Amadis anuncia sua volta à Oriana.
GV132. Amadis (fala) – Sinfonia Amadis.
1º. Movimento: Triste, “ma non troppo”:
Oh mis angústias mayores!
Que entre dolor y dolor
Me nacen outros dolores.
2º. Movimento: Mais triste, “ma molto meno di più”:
Porque el mundo en que me daño
Nunca fue para mi mundo
Sino una mar de engaño.
3º. Movimento: Quase em fuga, “comunque senza paura”:
Oh mundo de engaño!
Ardido seas en fuego.
(fala: Jorge Teles)
Comentário:
Amadis de Gaula é o mais antigo e o mais famoso livro sobre cavaleiros andantes. Sua mais antiga versão é em castelhano mas muitos estudiosos o consideram como sendo de origem portuguesa. O herói é muito citado por Dom Quixote como o mais perfeito de todos (sendo caricaturalmente imitado, como no episódio da Sierra Morena). Ao levar este tema para o palco, Gil Vicente inaugurava uma nova vertente para o teatro ocidental, logo logo transformada em dramas de capa e espada. Já era um escritor cônscio de seu talento. A linguagem da peça é tipicamente palaciana, retórica e bem distanciada daqueles falares espontâneos de muitos dos personagens vicentinos. Isto não lhe diminui a graça mas concede à obra um outro tipo de graça. Há uma quantidade de citações sobre o amor.
Dois aspectos dessa peça são estranhos aos nossos olhos de hoje. O anão, que criou todo o mal-entendido entre os apaixonados, com uma mentira, não reaparece para algum tipo de punição. Esta preocupação não escaparia a um autor mais moderno. E o final da peça é brusco, porque Amadis simplesmente anuncia a volta, já que assim ordenou sua dama. O reencontro emocionante não acontece.