o dia sem nome, 19

O dia sem nome, 19.

Nova Iorque, dia 14 de abril, 11 horas.

não é a toa que me chamam Baby Longfuck, pensou Baby Longfuck enquanto apertava o nó com que amordaçara o homem.
Desde as três da madrugada ele estava naquela casa, silencioso como um réptil, mantendo tudo sob controle. Baby passou mais uma vez à sala, para verificar a rua deserta, olhou-se novamente no espelho enorme, admirou o seu corpo nu, rígido, róseo, atlético e belo, dezessete anos refulgindo em graça, deviam ser assim os deuses gregos, pensou, sorriu, ajeitou os cabelos claros e cacheados, mandou para a sua imagem um beijo soprado com os dedos.
Este era o oitavo assalto de sua vida. Baby Longfuck exultava de felicidade. Passou ao quarto dos pequenos, os dois corpinhos já mudavam de cor. Com eles, Baby tinha sido piedoso. Depois que amarrara o homem, a mulher e a empregada, deslizara para o quarto dos meninos e injetara rápido o veneno. Nenhum dos dois chegou a acordar, o pequenino apenas bateu a mão na agulha para espantar o que seria um mosquito. Baby esperou que morressem, acariciando os cabelos compridos dos pequenos. Quando tinha percebido que eles não respiravam, juntou-os numa só cama, cobriu-os com o lençol, acumulou os acolchoados num canto do quarto, beijou as duas testinhas frias e saiu. Fechou a porta, despiu-se, foi ao banheiro, lavou o rosto, penteou-se, beijou sua imagem no espelho, deixando uma marca de lábio, e dirigiu-se ao quarto da empregada.
Baby Longfuck entrara para o crime com quatorze anos. Encontrado perdido sob uma marquise por um guarda um tanto bêbado, fora ameaçado e levado a um beco escuro. O homem manifestou a intenção de sodomizá-lo, Baby fingiu aceitar, quando o guarda se distraiu levou uma cacetada na cabeça, o cacetete estava esquecido no chão. Baby amarrou-o e amordaçou-o, saiu dali e encontrou uma daquelas mulheres que constantemente se ofereciam a ele, perguntando se ele era homem ou não. Marcou encontrá-la daí a meia hora, passou em seu quarto alugado, fez um pequeno pacote, que enfiou dentro da roupa, voltou ao guarda que estava acordado, amarrado e amordaçado. Tirou todo o dinheiro da carteira do polícia, guardando os documentos sem tocá-los. Apanhou o pacote, desembrulhou-o e tirou um espeto de ferro com o qual ficou meia hora furando as carnes do guarda, ensanguentando toda a farda. Não tinha pressa. Tremia mas não queria ter pressa. Finalmente vazou a jugular do outro, cuspiu na sua cara, correu rápido a sua casa e se lavou e foi dormir com a prostituta a sua primeira noite de homem. Foi ela quem lhe deu o apelido novo, oferecendo-se para sempre, mas ele disse que não repetiria jamais uma mulher na sua cama. Ainda assim, porém, ela lhe devolveu o pagamento antecipado que ele fizera, metade exata do roubo.
Depois de mortos os meninos, Baby Longfuck torturou a empregada, usando uma faca de pão. Serrou um a um os dedos das mãos, colocando-os de maneira a que ela pudesse ver. Então, começou a serrar a veia do pescoço, até que o sangue parou de jorrar. Depois, apanhou um pano e limpou o sangue que espirrara sobre sua pele dourada. Não tinha pressa. Ainda não se decidira qual mulher escolheria para levar para a cama, desesperá-la com sua lentidão, até que ela estivesse à beira da loucura com tanto orgasmo, quando ele, finalmente, uma ou duas horas depois, se deixaria gozar violentamente.
Quando a dona da casa viu Baby entrar nu no quarto, percebeu que ia ser violentada. Aquele jovem estranho, mais deus que ladrão, mais Apolo que um assassino vulgar, não tinha pressa. Ajeitou o espelho no chão, puxou o corpo do homem amarrado e amordaçado, colocou almofadas sob sua cabeça para que, com certeza, ele conseguisse ver tudo o que aconteceria à mulher. Baby procurou uma tesoura, achou uma gilete. Rasgou lentamente a camisola da mulher, com cuidado para que ela não fosse ferida, desceu a calça e foi cortando, jogando os pedaços de pano dentro do armário. Amarrou uma corda num dos tornozelos, levando a outra ponta até o pé de um armário enorme. Amarrou outra corda no outro tornozelo, passou pelo pé da cama e juntou as duas pontas, amarrando-as. Cortou com a gilete a corda anterior que juntava os tornozelos, puxou as pontas das duas cordas e amarrou-as, fazendo com que as pernas da mulher se abrissem. Baby Longfuck calculou uma posição que não desse para abrir mais e que também não causasse dor. Levantou-se, foi ao banheiro do casal, penteou-se, colocou uma colônia no pescoço, despejou o vidro nos ombros, na nádega e nas coxas, chegou, ajoelhou-se, apalpou a parte interna da mulher e percebeu que estava tudo muito molhado. Foi até o abajur, tirou a cúpula, tirou a lâmpada, quebrou-a. Escolheu um caco pontudo, experimentou-o no braço, o sangue jorrou vermelho. Bebeu seu próprio sangue e a seguir amarrou um lenço em torno do ferimento. Deitou-se de modo a que a cabeça da mulher estivesse bem junto a seu sexo e escreveu devagar, com a ponta do caco afundando na barriga, esbarrando na cicatriz da cesárea: Tina. Tinha escolhido aquela que seria a sua oitava mulher. Sentia tremores no corpo da vítima e afundava o caco para que a pele se abrisse e se mostrasse branca, enquanto o sangue golfava. Desenhou um enorme coração em torno do nome, envolvendo o umbigo e rasgando a almofada peluda de Vênus. A mulher suava e batia todo o corpo contra o chão, num tremor convulso. Baby Longfuck perfurou sua veia, mas como ela demorava a morrer, batendo a cabeça, puxou-a pelos cabelos, retirou a almofada, colocou no lugar o pedestal de bronze do abajur e espatifou o crânio contra o metal cheio de curvas.
Enquanto tomava banho, Baby pensava no encontro. Ele chegaria e ela ia sorrir porque sabia que ele amava como nenhum homem jamais amara qualquer mulher. E sempre entregava a elas a metade do roubo, o que incluía jóias. Ele ia se demorar dentro dela tanto tempo que ela ia ficar louca. A última delas falou em quase duas horas e meia e ele dissera que da vez seguinte seria mais e melhor. Mas não esperassem nada dele, que ele não sabia qual delas escolheria e tinha dinheiro para viver tranquilo por uns seis meses. Baby Longfuck não gastava muito. Pagara quatro meses de aluguel e comida e passava as tardes estudando a futura casa que ia ser assaltada. Vez ou outra ia ao cinema. Jamais se masturbava entre uma mulher e a seguinte. Sabia que a ocasião poderia custar a chegar, mas mesmo assim ele esperava.  Algumas vezes sonhava um sonho estranhíssimo, o mesmo sonho, um rosto muito branco flutuava junto do seu, ele sentia uma imensa vontade de chorar e acordava realmente chorando e percebia que o sonho se acabava num orgasmo que o deixava todo molhado. E concluía sempre que aquele rosto tinha os traços do policial de seu primeiro crime. Mas ao se sentir de todo acordado, de nada mais se lembrava e se levantava e ia pro banho matinal. À noite lavava-se novamente antes de dormir, tomava demorados banhos, acariciava-se e, antes de dormir, despedia-se de si mesmo com um beijo na boca da sua imagem no espelho. Uma noite ou outra ele visitava o bar da esquina e as mulheres o rodeavam e Maria, a brasileira, dizia num sussurro forçado não vou te esquecer nunca. Mas ele saía, depois que cada uma delas o tivesse beijado, lavava o rosto com nojo, ia dormir.
não é a toa que me chamam Baby Longfuck, pensou Baby Longfuck enquanto apertava o nó com que amordaçara o homem. Só faltava ele. Queria levar bastante tempo. Baby demorava para matar um homem. Contava até duzentos, o tempo que sua primeira prostituta levara para sentir o primeiro orgasmo. Depois, é que voltava a ferir, docemente, para aumentar o seu prazer. Não sabia o porquê da ereção indesejada, por isso deixava os homens para o fim. Não havia de perder o controle. Algumas vezes, esperava que seu sexo se aquietasse, antes de recomeçar a contagem. Baby abriu as gavetas, já sem jóias e sem dinheiro, em busca dalgum instrumento. Olhou por muito tempo um pequeno alicate de cutícula, guardou-o de medo de alguma incontrolada ereção. Baby não era assustadiço como um rato roubando alimento. Era, bem ao contrário, tranquilo como um homem experiente fazendo amor. Ouviu o carrilhão da sala.
é uma boa idéia. vou comer, descansar um pouco e depois acabo com tudo. tenho muito tempo.
Abriu a geladeira e retirou alguma coisa.
Baby Longfuck mordeu devagar o enorme naco de queijo. Tina passou rápido no pensamento mas ele resmungou não quero pensar naquelas idiotas. 
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