(Nota: Até os 6-7 anos, Leonardo e Bruno só tiveram uma tia disponível, vizinha. Todos os outros moravam longe. Era uma tia especial. Não porque fosse a única, porque exclusividade não é virtude mas circunstância. Era especial porque era exatamente como era. Essas coisas não precisam de explicação. Era mais do que especial, era imprescindível. E assim ficou sendo até hoje. Depois que ela se mudou para São Paulo, homenageei-a em duas pecinhas de fantoche (os teatrinhos viraram rotina dentro dos aniversários). Aí vão as duas. A segunda peça é uma mostra do que fazem os povos quando sob o tacão de cavalgaduras: debocham da besta-fera a portas fechadas.)
O BRIGADEIRO INVISÍVEL
PERSONAGENS: TIA MARINA, LEONARDINO, BRUNINO, TOURO (o cachorro), SACI, CUCA, IARA.
TIA MARINA: Bom dia! Boa tarde! Boa noite! Como vão vocês? Eu sou a tia Marina. Vim a Curitiba, para visitar filhos, sobrinhos, e encontrar o meu coração. Porque, mesmo morando em São Paulo, meu coração fica em Curitiba. Preciso encontrar o Leonardino e o Brunino, meus sobrinhos muito levados. Quero contar para eles as histórias que li quando fiz uma pesquisa na USP. Leonardino! Brunino! Onde estão vocês? Acho que estão aqui. (abaixa-se) Ai, minha coluna! Não posso fazer estes movimentos extravagantes. Leonardino! Brunino!
LEONARDINO: Quem que tá chamando?
BRUNINO: É a tia Marina!
TIA MARINA: Olá, sobrinhos! Quero contar para vocês umas histórias que li.
LEONARDINO: Conta, então…
TIA MARINA: A primeira história é a do Saci. Conhecem o Saci?
BRUNINO: O Saci é um pretinho que tem uma perna só.
LEONARDINO: E tem um chapeuzinho chamado carapuça.
BRUNINO: E fuma cachimbo.
LEONARDINO: E gosta muito de enganar as pessoas.
TIA MARINA: Credo! Vocês contaram tudo que eu ia contar! Mas de uma coisa vocês não falaram.
BRUNINO: O quê?
TIA MARINA: O Saci, quando está cansado, senta numa pedra e cruza as pernas.
LEONARDINO: Oh, tia Marina. Qual perna que ele cruza em cima da outra?