Monteiro Lobato – Viagem ao céu

Viagem ao céu

 Capítulos 1, 2 e 3

 

1 – O Mês de Abril

Era em abril, o mês do dia de anos de Pedrinho e por todos considerado o melhor mês do ano. Por quê? Porque não é frio nem quente e não é mês das águas nem de seca — tudo na conta certa! E por causa disso inventaram lá no Sítio do Pica-Pau Amarelo uma grande novidade: as férias-de-lagarto.

— Que história é essa?

Uma história muito interessante. Já que o mês de abril é o mais agradável de todos, escolheram-no para o grande “repouso anual” — o mês inteiro sem fazer nada, parados, cochilando como lagarto ao sol! Sem fazer nada é um modo de dizer, pois que eles ficavam fazendo uma coisa agradabilíssima: vivendo! Só isso. Gozando o prazer de viver…

— Sim — dizia Dona Benta — porque a maior parte da vida nós a passamos entretidos em tanta coisa, a fazer isto e aquilo, a pular daqui para ali, que não temos tempo de gozar o prazer de viver. Vamos vivendo sem prestar atenção na vida e, portanto, sem gozar o prazer de viver à moda dos lagartos. Já repararam como os lagartos ficam horas e horas imóveis ao sol, de olhos fechados, vivendo, gozando o prazer de viver — só, sem mistura?

E era muito engraçada a organização que davam ao mês de abril lá no sítio. Com antecedência resolviam todos os casos que tinham de ser resolvidos, acumulavam coisas de comer das que não precisam de fogão — queijo, fruta, biscoitos, etc, botavam um letreiro na porteira do pasto:

A FAMILIA ESTÁ AUSENTE.

SÓ VOLTA NO COMEÇO DE MAIO.

e depois de tudo muito bem arrumado e pensado, caíam no repouso.

Era proibido fazer qualquer coisa. Era proibido até pensar. Os cérebros tinham de ficar numa modorra gostosa. Todos vivendo — só isso! Vivendo biologicamente, como dizia o Visconde. Continue lendo “Monteiro Lobato – Viagem ao céu”

Monteiro Lobato en Esperanto – 03

Ĉasadoj de Peĉjo

Ĉapitroj 11 kaj 12 (lasta)

Tradukis Jorge Teles

 

11 – La lineo estas inaŭgurata

            La telefona lineo estis konstruata kun la tuta lukso, kiel kutime en registaraj verkoj. La fostojn ili eĉ farbis! Ĝi estis la plej mallonga lineo en la mondo: cent metrojn longa kaj nur du fostoj, unu en la korto de la domo kaj la alia en la ĉasista tendaro. Unu fosto estis verda, la alia flava (*). Tamen en la malferma tago okazis neatendita evento: la rinocero ne aperis por kuŝiĝi ĉe la pordego je la kutima horo. Ĝi ankaŭ ne aperis la sekvan tagon, nek la tutan semajnon. La ĉasistoj starigis tendojn kaj pacience atendadis, ke ĝi decidu reveni.

            Kial tio? Ĉar estus strange malfermi la lineon sen ke la rinocero okupu la pordegon. Sen rinocero ili povus eniri en la korto tuj kaj paroli rekte al la posedantino de la domo. Sed ili bezonis pravigi la konstruadon de la lineo, do ili decidis atendi la revenon de la monstro.

            Antaŭ tiu problemo, Emilja decidis interveni. Ŝi iris al la Granda Figujo por peti al la rinocero ke li ne desapontu la homojn de la registaro kaj daŭre dormu ĉe la pordego. Oni ne scias, kiajn argumentojn uzis la pupo; oni nur scias, ke la sekvan tagon, ekzakte je la tria posttagmeze, la rinocero pigreme venis, por kuŝi ĉe la pordego.

            Estis ĝojo pro entuziasmo en la ĉasista tendaro. Finfine ili povos inaŭguri la lineon. Continue lendo “Monteiro Lobato en Esperanto – 03”

Monteiro Lobato – Caçadas de Pedrinho

MONTEIRO LOBATO

 Caçadas de Pedrinho

 Capítulos 11 e 12

 

     11 – Inaugura-se a linha

               A linha telefônica foi construída com todo o luxo, como é de costume nas obras do governo. Os postes foram até pintados! Era a mais curta linha do mundo: com cem metros de comprimento e dois postos apenas, um no terreiro da casa e outro no acampamento dos caçadores. Um poste foi pintado de verde, outro de amarelo. No dia da inauguração, porém, aconteceu um fato imprevisto: o rinoceronte não veio deitar-se à porteira na hora do costume. Nem apareceu no dia seguinte, nem durante toda a semana. Os caçadores tiveram de armar barracas e ficar ali esperando, pacientemente, que ele se resolvesse a voltar.

               Por que isso? Porque ficava sem jeito inaugurarem a linha sem o rinoceronte atravessado na porteira. Sem rinoceronte poderiam entrar duma vez no terreiro e falar diretamente com a dona da casa. Mas precisavam justificar a construção da linha, e por isso resolveram esperar que o monstro voltasse.

               Vendo as coisas assim encrencadas, Emília resolveu intervir. Foi à Figueira Brava pedir ao rinoceronte que não desapontasse a gente do governo e continuasse a ir dormir na porteira. Não se sabe de que argumentos a boneca usou; o que se sabe é que no dia seguinte, exatamente às três da tarde, o rinoceronte veio de novo, pachorrentamente, deitar-se de atravessado na porteira.

               Houve vivas de entusiasmo no acampamento dos caçadores. Podiam, enfim, inaugurar a linha. Continue lendo “Monteiro Lobato – Caçadas de Pedrinho”