CONTA OUTRA VÓ 05.AS ALMINHAS PENADAS

as alminhas penadas

desenho de Ricardo Garanhani 

Nota: De todas as historinhas contadas por minha avó, esta é a única que narra um acontecimento vivido por ela. Registrei-a por sentir que ela tem uma carga folclórica mas não acredito que o fato tenha acontecido. Deve ser mentira, dessas mentiras míticas, inventadas ingenuamente para justificar uma crença qualquer. Quem sabe?, minha vó ouviu o conto de alguém e no recontar se colocou como personagem. A mesma ideia de que se pode e se deve batizar bebês morituros, ou mesmo depois que morrem, quando não há padres à disposição, era reforçada pela vizinha de Vila Isabel, Dona Cacilda, a mãe, paraibana. Nunca li texto em que tal fato fosse narrado.

    Quando morre alguém que não foi batizado, a alma não vai pro céu nem pro inferno nem pro purgatório. Fica vagando pelo mundo, assustando as pessoas, vira alma penada. Se quem morre é uma criancinha pagã, a alminha penada fica penando até que alguém batize ela. Gente grande não pode ser batizada depois de morta. Não adianta. Vai penar pela vida afora até o dia do juízo, quando então o deus separará os bons dos maus. Mas os pequeninos inocentes podem ser batizados depois de mortos.

    Uma vez eu e duas filhas mudamos duma roça pra outra. O Anísio já tinha morrido, eu estava viúva. O Oliveira estava no Rio, tirando o tiro de guerra. Os outros filhos já estavam casados. Então, eu e a Nanísia e a Natália mudamos duma roça pra outra. Saímos com o embornal e pedimos pousada muitas noites. Antigamente a gente ganhava pousada. A dona da casa fazia um mingau de couve com linguiça e toicinho, fritava torresmo, mexia um angu gostoso, a gente comia e conversava até tarde em volta do fogão. No dia seguinte, escuro ainda, a gente levantava, levantava antes do galo. A dona da casa dava frango frito, carne, a gente pegava o embornal e caçava rumo. Na noite seguinte, a mesma coisa. A gente ficava quinze, vinde dias viajando. Aí chegamos em Manhuaçu. Fomos direto pra casa da Milota.

    Perto dali, na entrada da cidade, tinha uma casinha abandonada. Perguntamos e disseram que era uma casa mal assombrada. Crianças tinham vivido lá e morreram pagãs. Ninguém conseguia morar lá.

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canção 02. senzala e casa grande

A ditadura da imoralidade 01. Senzala e Casa Grande

SENZALA

Mãe, tem um buraco
perto da esteira,
não posso dormir
dessa maneira.
Meu filho, meu filho,
acorde não,
já foi abolida
a escravidão.

Mãe, não vou à escola,
já estou cansado.
Eu nunca sei nada,
Sempre atrasado.
Meu filho, meu filho,
desista não,
Já foi abolida
a escravidão.

Mãe, aquele guarda
tomou meu dinheiro
depois de chamar-me
arruaceiro.
Meu filho, meu filho,
não ligue não,
Já foi abolida
a escravidão.

Mãe, frio e fome
e esse cansaço,
Só querem que a gente
vire palhaço.
Meu filho, meu filho,
fale isso não,
Já foi abolida
a escravidão.

Mãe, penso que alguém
vai me dedar,
e eu acho que o tira
quer me apagar.
Meu filho, meu filho,
não tema, não,
Já foi abolida
a escravidão.

Mãe, se me procuram
eu não estou,
e nem sei dizer,
pra onde vou.
Meu filho, meu filho,
não fuja, não,
Já foi abolida
a escravidão.

Mão, falta coragem
pra te escrever,
aqui é horrível,
precisa ver.
Meu filho, meu filho,
não sofra não,
Já foi abolida
a escravidão.

Mãe, quando eu sair
eu não sei, não,
Pois tenho aprendido
cá na prisão.
Meu filho, meu filho,
não chore não,
Já foi abolida
a escravidão.

Mãe, você não vai
mais me rever,
Já foi resolvido,
vão me abater.
Meu filho, meu filho,
não morra não,
Já foi abolida
a escravidão.

Mãe, sangue, jornal,
e o chão lavado,
O dever cumprido,
tudo acabado.
Meu filho, meu filho,
me deixe não,
Já foi abolida
a escravidão.

CASA GRANDE

A casa está suja e feia,
Quebrado foi o portão.
Vazia a mesa da ceia,
O pão e o vinho no chão.

Os quartos não têm mais portas,
Em cada aposento, um cão.
Nos jarros, as flores mortas.
E os livros lá no porão.

Vassouras aposentadas
Quebrado está o escovão.
Em seu lugar, levantadas,
As armas da corrupção.

Mas nossa casa é esta.
Não adianta fingir
Que não existe a afronta.
Se a gente não protesta,
Ou não quer reagir
Eles vão tomar conta.

Nos cantos, ratos e aranhas,
E ninhos de escorpião.
E cobras de muitas manhas
Gozando da usurpação.

Areia, poeira, chuva,
Dor, fome, contravenção.
De negro, qual uma viúva,
A casa é um refúgio vão.

A vergonha foi calada.
E no Poder, o Aleijão.
Ferida e desrespeitada,
A virgem Constituição.

Mas nossa casa é esta.
Não adianta fingir
Que não existe a afronta.
Se a gente não protesta,
Ou não quer reagir
Eles vão tomar conta.

(canta jorge teles)

Curitiba, 30.09.1977

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samhufo kaj la morto

SAMHUFO KAJ LA MORTO

Noto: Ĉi tiu teksto gajnis la unuan premion en la Belarta Konkurso de Universala Esperanto-Asocio por la jaro 2003, branĉo teatraĵo.

SAMHUFO: (Venas) Saluton, gesinjoroj! Mi estas Samhufo. Mi serĉas mian hundon. Atentu vi, ĉar li pisas sur tiun, kiu portas nigran pantalonon. Li estas miopa. Dik! Dik! Dik estas la moknomo. Ĝia nomo estas pli bela: Diktatoro! Kaligulo havis ĉevalan konsulon, mi havas hundan diktatoron, kiu, nune, estas pli grava. Ĉar la nomo estas tro longa, mi vokas ĝin Dik. Dik! Kie vi estas? Vere, mi serĉos ĝin alie, ne ĉi tie, ĉar… tiuj estas la muroj de la tombejo kaj… bone… mi tute ne timas… estas nur antaŭzorgo! Ĝis revido! (Foriras)
MORTO: (Venas) Saluton, gesinjoroj! Mi estas la Morto. Mi tenas enmane la potencan falĉilon, per kiu mi falĉas la vivulojn, kvazaŭ tritiktigojn. Tiel! Mi tranĉas la gorĝojn de la efemeraj mortontoj kaj… adiaŭ! neutilaj, malŝatindaj vivetoj. Mi venas por trovi iun… Iu Samhufo. Konsultinte la infinita libro de la Destino, mi trovis lian nomon. Samhufo. Ĉu vi vidis lin ĉi tie? Mi scias ke li kutimas viziti tiujn ĉirkaŭaĵojn ĉi. Mi serĉos lin. (Foriras. Venas Samhufo).
SAMHUFO: Mi ne sukcesis trovi la hundon. Dik! Dik! Kaj granda malagrablaĵo estas tiu muro… do… mi ne timas… sed… tiu loko ĉi… tia  mallumego… (Venas Dik) Ho, infera hundo! Finfine! Ĉi tien, Diktatoro! Kial vi malaperis?
DIK: Vaŭvaŭvaŭ!
SAMHUFO: Vi promenadis, ĉu?
DIK: Vaŭ!
SAMHUFO: Bone. Sed nun, mi bezonas favoron.
DIK: Vaŭvaŭvaŭ! Vaŭvaŭ! Vaŭ!
SAMHUFO: Unue, ni devas iri tien. Tiu loko ĉi estas tre varma…tamen mi frostotremas. (Oni longe kaj laŭte ĝemas. Dik saltas sur la bruston de Samhufo) Kion vi timas? Estu vera masklo, ina hundaĉo! Estu vera viro, timulo! (Dik forkuras. Denove oni ĝemas) Kion mi devas fari? Ho, per ĉiuj Sanktuloj! Mi ja diris ke ĉi-tiu loko estas danĝera. (Denove oni ĝemas) Kiun Sanktulo mi devas alpreĝi? (Li tremas) Feliĉe ke mi ne estas timema. Kontraŭe, mi ektremus. (Denove oni ĝemas) Mi pensas ke estas ĝemanta fantomo. Mi parolos al li. Kiu vi estas? (Silento) Ŝajne li ne aŭskultis min. Kiu vi estas? (Silento) Per Babelturo. Mi memoras nun, fantomoj ne havas orelojn kaj strange parolas. Mi devas laŭte paroli fantoman lingvon. Ho, respekteginda aŭtoro de tiaj ĝemoj. Kiu estas Via Moŝto?
VOĈO: Mi estas mi…i…i…! (Samhufo tremas ankoraŭ pli)

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