apolono kaj hiakinto, 9

apolono kaj hiakinto, 9.

teofilo vekiĝis kun eksalto kaj trovis sin sola. subite li memoris pri la nokto kaj sentis fortan lumon korodantan liajn internaĵojn. la lumo iĝadis nigreco, la brilo ekdoloris kaj io kvazaŭ malproksima sono de peza sonorilo komencis marteladi dum lia tuta tago. la memoro pri la ekstrema dolĉeco ekĉagrenis kaj li volis ke ĝi  eliru el lia korpo, ĉar en lia korpo restadis la signojn de tiu plezuro malklara sed enorma. li sentadis fajrajn langojn, kiuj surveturadis sur lia brusto, li sufokiĝadis sub la forto de feraj brakoj kiuj premadis. li deliradis pro la grandega pezo kiu senmovigadis lin. tamen, pli ol ĉio, li tremeradis je la memoro de tiu senfina brakumo, kiu lasis spuron neniam plu estingotan sur lia frunto, liaj okuloj, lia vizaĝo, lia kolo, liaj ŝultroj, kaj instaliĝis ene de la propra animo. sed nun ne plu sufiĉas la revivado de la eksplodo de plezuro ĉar ne plu iras enen de li tiu trinkaĵo plena je ĝuo; kontraŭe, kiam li memoris tiun eternan brakumon kiu provokis en li eksplodon de ĝuado neniam antaŭe imagita, eniris en lian koron tre granda malĝojo kaj lia rigardo pendadis kaj larmoj furioze nestiĝis malantaŭ la okuloj, gvatante la momenton de plej granda malatento por rapidiĝi kvazaŭ sovaĝuloj en furiozo, saltante eksteren kaj preparante la embuskon. poste, jes, okazos tiu senorda konfuzo kaj tiu longedaŭra tremado kaj tiu timo, tiu angoro, tiu teruro.
ne, mi ne volas plori nun, mi ne volas plori…
forte kunpremante siajn lipojn, bridante ĉiujn muskolojn de la vizaĝo, iĝante ŝtona statuo, senmova kaj nesentema.
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apolo e jacinto, 9

apolo e jacinto, 9.

teófilo acordou num sobressalto e se viu sozinho. num repente lembrou-se da noite e sentiu uma luz forte corroer suas entranhas. a luz foi virando negrura, o brilho começou a machucar e algo como o som distante de um sino pesado principiou a martelar seu dia. a lembrança da doçura extrema começou a magoá-lo e ele queria que ela saísse do seu corpo, porque era em seu corpo que estavam as marcas daquele prazer indistinto mas imenso. sentia línguas de fogo correndo sobre o peito, sufocava sob o aperto de braços de ferro que o esmagavam. delirava com um peso enorme que o imobilizava. mais que tudo, porém, estremecia ao lembrar daquele abraço sem fim que tinha deixado um rastro jamais perdido sobre sua testa, seus olhos, sua face, seu pescoço, seu ombro, e que se tinha instalado dentro de sua própria alma. mas agora já não bastava reviver a explosão de seu prazer, pois que não mais lhe entrava por dentro aquela bebida cheia de delícias; ao contrário, imaginando aquele abraço eterno, que provocara nele a explosão de um gozo nunca antes imaginado, subia-lhe ao coração uma amargura muito grande e seu olhar pendia e lágrimas se aninhavam furiosas atrás dos olhos, espreitando o momento de maior fraqueza para se precipitarem como selvagens em fúria, saltando para fora e armando a emboscada. depois, sim, seria aquela convulsão desordenada e aquele tremor demorado e aquele medo, aquela angústia, aquele pavor.
Não, eu não quero chorar agora, eu não quero chorar…
comprimindo os lábios com força, retendo todos os músculos da face, transformando-se numa estátua de pedra, imóvel e impassível.
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vende tudo o que tens, e segue-me

A DITADURA DA BURRICE 02. VENDE TUDO O QUE TENS, E SEGUE-ME


Não era ensolarado o dia em que chegaste,
não era não, decerto, mas, todo esse frio,
quem o trouxe até nós, e quem, o desvario
plantou em nossa casa, horror que se não baste?

Não foi a nossa sorte, a sorte a que libaste,
com o vinho, sangue negro atroz, formando um rio
e a música estertor do enfurecer vadio
e os lobos no covil, comandando o desbaste!

Não foi pensando em nós que pensaste a loucura,
nem foi a defender-nos que armaste a armadura,
e nem à nossa causa empregaste o coveiro.

Tudo isso, a falcatrua, o desconsolo, a agrura,
todo esse desatino, a infecção, a tristura,
tão só por engordar teu saco de dinheiro.

Curitiba, 28.09.1977
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