apolo e jacinto, 12.
Não aguento mais, não posso sacrificar furacão. Alio deve estar perdido por aí, daqui a quanto tempo chegará com a comida? Pobre furacão, está cansado! vamos até a beira do rio. Não devo beber agora, estou suado. Não devo beber agora. Não sei o que farei pra passar o tempo, pra esperar que ele chegue. Não queria pensar em nada. Não adianta fechar os olhos, eu só vejo na minha frente aquele rostinho contraído e molhado de lágrimas por que foi que eu não fiquei lá com ele?, mas como?, que desculpa?, aí, sim, hans ia desconfiar. Estava tudo tão bem preparado e eu não esqueci a bolsa com os estiletes e meu menino se feriu com o meu punhal, com o meu punhal!, maldição!, eu dei quando o conheci, aliás eu já o conhecia mas só o notei naquele dia em que hans o pôs a vigiar meu sono, não é notar, é descobrir que ele existe, também não é bem isto, é como se uma pessoa que a gente conhece nascesse de novo, na mesma pele, com o mesmo olhar, o mesmo corpo, a mesma voz, mas não é aquela antiga pessoa, é alguém saído da espuma do mar, como a bela deusa da mitologia. Eu acordei e ele conversou comigo e eu saía dum pesadelo terrível em que só aquele monstro existia dentro ele continua vivo fora e dentro de mim a me atormentar e os outros estão enforcados parecia que ele era meu filho querido que nunca tive parecia que ele era eu há tanto tempo já e descobri de repente que alguma coisa estava acontecendo quando eu descobri já era tarde porque já tinha acontecido, não sei por que eu aceitei as coisas assim, não me entendo, numa hora qualquer eu descobri que não adiantava porque eu já estava apaixonado eu não sei se devo falar apaixonado mas não existe outro termo porque o que sinto é amor exatamente como o amor que senti quando me casei e nem era tão forte assim e nem era tão bonito e agora parece que eu entendo melhor aquelas profundas admirações que eu sentia por alguns amigos não sei se seria de fato a mesma coisa penso até que já me apaixonei por hans quando o conheci mas eu pensava que ele era meu pai mas com luis não foi assim acho que foi aquele ladrão assassino que tocou punheta e eu vi depois o guarda comendo o outro e tiraram a roupa dele e ele tem um pau enorme mas eu prefiro o meu amiguinho porque eu o amo e sei bem que se ele viesse a mim eu ia chorar de arrependimento e não era nisso que eu queria estar pensando porque tenho a alma presa, amarrada, amordaçada, não sei o que faço…
furacão pastava. que labirintos, Que porões, que precipícios existem e o animal indiferente nunca terá a felicidade de conhecê-los. Meu pobre cavalo, queria que luis tivesse vindo comigo, porra!, podia ter cortado a mão depois! Toda a viagem planejada, ele mesmo pediu a hans, eu nunca ousaria, e aquela sangueira e quase minha boca encostou na dele e se o maldito hans não estivesse lá eu chuparia a sua linguinha mas quem sabe foi melhor ele não vir ele é tão pequeno, tem pouco cabelo, agora é que começa a ficar mais denso. Não, não é tão pequeno, quando ele me abraçou deu pra sentir o tamanho na hora eu não senti nada depois foi que eu lembrei que senti que estava duro, e eu nunca pensei antes que fosse gozar só porque um rapazinho ia se esfregar em mim mas estava muito bom, na verdade não tem a ver com a esfregação mas com este sentimento que sinto, é a alma que goza, não o corpo, não sei o que era melhor, sentir seu pau durinho na minha barriga, sentir o tamanho daquele abraço totalmente fora de controle, a alma dele virando uma fogueira dentro da fogueira que era a minha alma, os dentes dele tremiam, a mãozinha escorregava ligeira e até acho que ele passou a mão na minha bunda e foi nessa hora que senti que ele aumentou o ritmo de seu ventre e num gemido eu senti que também ia gozar e não vi mais nada porque eu estava entrando em convulsão e nenhuma mulher me deu tanto prazer e me levou tão longe e ele é muito pequeno e eu acho que não tenho o direito de pensar assim e não queria continuar pensando nisto…
começou a soprar uma brisa. Está começando a soprar um vento mais frio, hans falou que vai chover semana que vem. Filho da puta!, se ele não tivesse falado nada, eu ficava mas ele podia desconfiar, foi bom que eu vim. O céu está escurecendo de repente. Não sei se aquela poeira é ele. Acho que é. Deve estar com medo da chuva. Bem disseram que a chuva ia chegar antes, foi por isso que hans adiou a caçada, será que foi por isso que hans adiou a caçada?, nem sei, ninguém mais falou nada a respeito. Não sei se estou com fome. Sinto um aperto no coração. Está um dia esquisito. Esta escuridão não estava prevista. Acho que vai passar depressa. Estas árvores não vão ser abrigo suficiente. Deve ser pela chuva que furacão está inquieto. Poderia voltar ao castelo, não vale a pena. Eu diria que a chuva me atrapalhou, seria uma desculpa boa, hans não poderia falar nada e luis ia ficar bom e quando mudasse a estação ele já saberia copiar e ficaria comigo a primavera toda no mosteiro, acho que vou voltar, ah!, finalmente ele apareceu.
venha, furacão, ho!, ho!, calma, amigo. venha, venha.
quando alio já se aproximava, de repente, desabou um temporal violento, ventos fortes e um barulhão ensurdecedor. ele veio gritando:
há um abrigo ali, atrás daquelas árvores. não é melhor ir pra lá?
e fez meia volta.
sim, vamos pro abrigo. Depois que a chuva passar, voltaremos. Vou voltar, está resolvido.
apesar da escurridão crescente, teófilo sentiu uma luz brotando dentro dele, ou uma fonte de água cristalina que escapava do areal em borbulhas, era um fio, era um regato, era um rio, era um oceano e ele se afogava feliz no meio daquelas águas: Sim, está decidido, vou voltar!
entraram na cabana de pedra, alojaram os cavalos. uma galinha saiu apavorada. com um galho, alio limpou as teias de aranha.
poderia ir procurar fogo por perto. as roupas já ficaram molhadas.
não é preciso. quando a chuva parar, voltaremos ao castelo.
sim, senhor.
ajeitou os cavalos. acocorou-se num canto.
o senhor quer comida?
qualquer coisa.
o criado abriu o embornal, estendeu pão e um pedaço de carne.
essa chuva não passa tão cedo.
como sabe?
a vó falou.
quando vai passar?
ela disse que, se começasse hoje, ia ser uma semana sem parar. até mudar a lua.
porra! olhou o jovem que baixou os olhos.
o oceano começou a diminuir.
será que acharemos pousada por aqui?
tem uma taberna na aldeia próxima. fica atrás da colina.
é verdade. quanto tempo?
com essa chuva, meia hora. não vi casa nenhuma por aqui. acho que abandonaram este abrigo.
não podemos voltar?, então!
se chover mais um pouco, aquela ponte pequena vai ser coberta pela água.
o fio d’água começou a secar.
se a gente voltasse já, talvez desse tempo.
o senhor corre muito. mas a carga me atrasa. se quiser ir pela montanha… mas chegaremos lá à noite.
não há mais ladrões.
nunca se sabe.
calou-se e se afastou.
Não poderei esperar que a chuva pare. Talvez seja melhor ir até a taberna e, amanhã de manhã, voltar. Se subíssemos a colina, o tempo encurtava. se subíssemos a colina, não chegaríamos mais depressa?
não conheço este caminho.
acha que vamos ter que ficar aqui?, então!
acho que temos que ir até a taberna. se demoramos, a chuva enche o rio e cobre a estrada.
vamos ter que enfrentar tudo isto?
o senhor é que sabe.
mas o quê que você acha?
vamos ter que sair daqui porque a chuva vai alagar a estrada e entrar aqui. talvez tenham abandonado isto aqui por causa das enchentes.
teófilo olhou pela porta. é!, o rio já começou a subir. vamos!
sim, senhor. enrolando o pão no pano, acomodando as coisas no cavalo.
ninguém me disse que ia chover hoje. puta que pariu!
o senhor hans discutiu com minha avó. ele disse que até a mudança da lua, era garantido que não chovia.
e como ela sabia que ia chover?
ela nunca fala. ela diz que a natureza avisa.
lá fora era um barulho infernal. o vento entrou violento pela porta. os animais se agitaram.
ponha sua capa!
não tenho.
vai enfrentar a chuva assim?
sim, senhor.
então, tome a minha.
mas o senhor se molha.
vou a galope. chego antes.
o cavalo não está cansado?
é verdade! porra! que merda! mas é o jeito. tome a capa. atirando-a sobre o jovem assustado. eu vou correndo na frente.
montou e se atirou dentro do aguaceiro. não olhou para trás.
Poderia voltar direto mas mataria meu pobre furacão. Depois, tem também aquela ponte de que ele falou, não me lembro onde fica.
chicote e espora. furacão, excitado pelo frio, começou a galopar. em poucos minutos, teófilo estava encharcado. parou o animal, tirou a túnica que pesava, cheia de água, e acomodou-a sobre o pescoço do cavalo. de camisa apenas, colada na pele, retomou o galope. logo avistou a pequena aldeia e já encontrou a taberna. bateu. demoraram a abrir. ao deparar com o senhor, a mulher do taverneiro arregalou os olhos, correu a chamar o marido. teófilo entrou, estava quentinho, o dono também arregalou os olhos, quase se ajoelhou, pegou-o pela mão e o levou escada acima, feliz e envergonhado.
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