Monteiro Lobato – Caçadas de Pedrinho

MONTEIRO LOBATO

Caçadas de Pedrinho

Capítulos 3 e 4

 

3 – Os habitantes da mata se assustam

         As cenas da caçada da onça haviam sido presenciadas por muitos animaizinhos selvagens, entre eles um intrometidíssimo sagüi. Ficou tão admirado da proeza dos meninos que levou longo tempo a piscar muito depressa – sinal de que estava pensando alguma ideia de sagüi. Por fim resolveu-se e, pulando de galho em galho, foi em busca duma capivara que morava perto, na beira do rio.

         – Sabe, Dona Capivara, o que aconteceu à onça da Toca Fria? Morreu… – disse ele, fazendo uma carinha muito assustada.

         – Morreu de quê, sagüi? – indagou a capivara. – De morte morrida ou de morte matada?

         – De morte matadíssima. Os meninos do sítio de Dona Benta mataram-na a tiros e facadas e espetadas, e depois a arrastaram com cipós até lá, ao terreiro.

         E contou por miúdo toda a cena a que havia assistido. A capivara abriu a boca. Continue lendo “Monteiro Lobato – Caçadas de Pedrinho”

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Monteiro Lobato – Caçadas de Pedrinho

MONTEIRO LOBATO

 Caçadas de Pedrinho

Capítulos 1 e 2

1 – E era onça mesmo!

          Dos moradores do sítio de Dona Benta o mais andejo era o Marquês de Rabicó. Conhecia todas as florestas, inclusive o capoeirão dos Taquaruçus, mato muito cerrado onde Dona Benta não deixava que os meninos fossem passear. Certo dia em que Rabicó se aventurou nesse mato em procura das orelhas-de-pau que crescem nos troncos podres, parece que as coisas não lhe correram muito bem, pois voltou na volada.

          – Que aconteceu? – perguntou Pedrinho, ao vê-lo chegar todo arrepiado e com os olhos cheios de susto. – Está com cara de Marquês que viu onça…

          – Não vi, mas quase vi! – respondeu Rabicó, tomando fôlego. – Ouvi um miado esquisito e dei com uns rastos mais esquisitos ainda. Não conheço onça, que dizem ser um gatão assim do tamanho dum bezerro. Ora, o miado que ouvi era de gato, mas muito mais forte, e os rastos também eram de gato, mas muito maiores. Logo, era onça.

        Pedrinho refletiu sobre o caso e achou que bem podia ser verdade. Correu em procura de Narizinho. Continue lendo “Monteiro Lobato – Caçadas de Pedrinho”

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Monteiro Lobato – O Saci

O SACI

Capítulos 25, 26, 27 e 28 (fim)

 

25 – O pingo dágua

A cólera da Cuca foi medonha. Deu um urro de ouvir-se a dez léguas dali, tamanho e tão horrendo que por um triz Pedrinho não disparou na corrida. E outro urro, e outro, e mais de cem.

— Berre, demônio! — gritou o saci.—Berre até rebentar. Pingo d’água não tem ouvidos, nem tem pressa. Esse que botei pingando nessa horrenda caraça vai divertir-se em pingar no mesmo lugarzinho por cem anos, se for preciso. Sei que Cuca é bicho duro, mas quero ver se pode com um pingo d’água que não tem pressa nenhuma, nem tem outra coisa a fazer na vida senão pingar, pingar, pingar…

A dor que a queda de um pingo atrás do outro já estava causando nos miolos da bruxa começava a crescer ponto por ponto. Cada novo pingo era um ponto mais de dor. Naquele andar ela não suportaria o suplício nem um mês, quanto mais os cem anos com que a ameaçara o saci.

— Parem com esse pingo d’água! — berrou a bruxa. Continue lendo “Monteiro Lobato – O Saci”

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