Monteiro Lobato – Caçadas de Pedrinho

MONTEIRO LOBATO

 Caçadas de Pedrinho

Capítulos 9 e 10

 

9 – Emília vende o rinoceronte

               Emília tratou de procurar outro freguês. Foi à cozinha e propôs o negócio à Tia Nastácia. A negra, que estava depenando uma galinha, nem a ouviu no começo; depois, como Emília amolasse, disse apenas, em tom de brincadeira:

               – Era só o que faltava, esse bicho de nome esquisito aqui para meter medo na gente! Se fosse uma chocolateira eu fazia negócio, porque a minha está vazando.

               Para Dona Benta era inútil oferecer. A pobre senhora tinha horror a bichos, sobretudo depois que teve de meter-se em pernas de pau no dia do assalto das onças.

               O Visconde seria capaz de aceitar, porque os fidalgos adoram as grandes caças – mas o pobre Visconde pertencia à classe dos fidalgos arruinados que só possuem o seu título de nobreza. Nunca teve de seu nem sequer um tostão furado.

               Narizinho… Rabicó…

               Estava Emília na maior indecisão quando a Cléu apareceu. Continue lendo “Monteiro Lobato – Caçadas de Pedrinho”

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 Capítulos 7 e 8

 

7 – O assalto das onças

               Depois de tomado o café com farinha de milho, Pedrinho pendurou o Visconde no galho mais alto duma árvore próxima, armado do binóculo de Dona Benta, para dar aviso da chegada das onças. O nobre fidalgo, porém, sempre tivera o costume de acordar tarde, ali pelas dez horas, mais ou menos. Em vista disso resolveu dormir no seu galhinho, certo de que só lá pelas dez horas as onças viriam. Dormiu e, portanto, não pôde dar aviso da chegada das onças, que já estavam bem perto. Quem percebeu a aproximação delas foi a Emília, que tinha um faro maravilhoso.

               – Estou sentindo no ar um cheirinho de onça! – exclamou, em certo momento. Por força da sugestão ou porque de fato andasse pelo ar algum cheiro de onça, todos ergueram o nariz e sentiram um forte cheiro de onça. Como é então que o Visconde não dava nenhum aviso?     Pedrinho correu ao terreiro e gritou:    

               – Avise duma vez, palerma! Não vê que as onças já estão chegando? O pobre fidalgo acordou com o berro e ainda cheio de sono espiou pelo binóculo, mas em sentido contrário, de modo que viu as onças muitíssimo longe. Continue lendo “Monteiro Lobato – Caçadas de Pedrinho”

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Capítulos 5 e 6

5 – A defesa estratégica

         – Eles mataram minha esposa! – clamava com voz trêmula de cólera um enorme onção (como dizia a Emília). – Estou viúvo da minha querida onça por artes daqueles meninos daninhos do sítio de Dona Benta. Mataram-na e levaram-na de arrasto, amarrada com cipós, até o terreiro da casinha onde moram. Tiraram-lhe a pele, que depois de esticada e seca ao sol está servindo de tapete na varanda. Ora, isto é crime que pede a mais completa vingança. Guerra, pois! Guerra de morte a essa ninhada de malfeitores.

         – Guerra! Guerra! – exclamaram as jaguatiricas e suçuaranas e cachorros-do-mato e irarás ali reunidas (como queria a Emília).

         O onço agradou-se daquele entusiasmo.

         – Combinemos o seguinte – disse ele. – Amanhã de manhã cercaremos a casa de modo que ninguém escape. As irarás e cachorros-do-mato guardarão os lados e nós, onças, atacaremos pela frente.

         – Bravos! Bravos! Assim o faremos! – gritaram, em coro, as feras. Continue lendo “Monteiro Lobato – Caçadas de Pedrinho”

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