Pequeno Peã ao Panteão…

A ditadura da burrice 10: PEQUENO PEÃ AO PANTEÃO DOS HERÓIS (marcha fúnebre)


(Para Kennedy)
  
Um féretro brilhante.
Flores e coroas.
Na catedral gigante,
Missas, prantos, loas.

Teus mortos não te seguem,
Só o abutre odiado,
De bico encharcado.

E nas florestas destruídas do Vietnã,
Silêncio.

(Para Salazar)

Nobres e reis distantes
Vão aos funerais.
Viúvas arquejantes
Desfilam seus ais.

Teus mortos não te seguem,
Só o abutre de aço
De bico devasso.
 
E sobre o chão pisoteado de Portugal,
Silêncio.

(Para Franco)

Sobre o corpo assassino
Choram mil donzelas.
Ao cortejo divino
Abrem-se janelas.

Teus mortos não te seguem,
Só o abutre armado,
De bico ensinado.

E sobre as covas perdidas da Espanha,
Silêncio.

(Para Bush)

Eis a campa erigida!
Te aguarda, tirano.
Pra engolir tua vida,
Teu fel e teu dano.

E seguirá teu corpo
O abutre obediente,
De bico insolente.

E nos céus envilecidos do mundo,
Silêncio.

Nota: “Le péan est essentiellement un chant joyex de délivrance exécuté en l’honneur d’Apollon. Mais par extension il désigne aussi le chant funèbre (θρήνσς) adressé aux divinités infernales.” Nota de rodapé em Alceste, de Eurípides, Société d’Édition “Les Belles Letres”, Paris, 1956.

Curitiba, 29.11.1977 (o último homenageado foi incluido mais tarde, claro; é ele um produto típico da democrática e honestíssima eleição americana).
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