apolo e jacinto, 17

apolo e jacinto, 17.

quando teófilo abriu os olhos, uma luz forte o cegava. a janela estava aberta. não chovia mais. procurou alio. estava sentado à mesa. aproximou-se, enrolado.
você saiu da cama…
alio sorriu. não estava com sono.
teófilo enfiou a mão dentro do cobertor, acariciou os pelos do peito de alio.
de repente, parou de chover.
podemos passear por aí.
alio, sabia que… nunca… tinha acontecido antes?
não, não… eu sempre pensei que… os senhores…
fossem todos uns veados, não é?
não quis dizer isto, não gosto dessa palavra.
desculpe. eu também não. é uma ovelha negra que escapuliu.
ah! sorriu.
o que foi?
você falou em ovelhas negras, quando estava bêbado.
teófilo sorriu. abraçou-o. beijou-o na testa.
estou sentindo uma estranha tristeza… não compreendo. na verdade, estou muito assustado com o que aconteceu…
alio nada falou.
minha roupa está seca. pedirei a roupa que dei pra arrumarem pra você.
vestiu-se. vou descer e trazer suas roupas. sairemos por aí. a pé. estou morto de fome. desceu.
alio se enrolou um pouco mais. não sabia que sensação era aquela, Algum aviso distante, não sei o que é. colocou-se à janela e se esqueceu, perdido no meio da paisagem clara e azul. teófilo voltou.
vista-se.
alio desnudou-se. ao levantar o olhar, deu com os olhos de teófilo. baixou a cabeça.
o que acontece?
não sei.
está chateado.
não, não… acho… acho que estou. não sei por quê.
Continue lendo “apolo e jacinto, 17”
Visitas: 212

apolo e jacinto, 16

apolo e jacinto, 16.

uma catarata começou a cair lá longe. com um barulho de chuva. ficou assim um infinito, mas, à custa da repetição, sempre igual, não demorou mais que um minuto. foi o resto que demorou. aquela luz, de onde provem esse brilho?, que se apaga, mal fere a Minha consciência. chamados pairavam no ar, como pássaros feiticeiros, ora imóveis e suspensos, ora vertiginosos e desequilibrados, como se dançassem a dança da loucura. algo em seus corpos se acendia, agora uma impressão fugidia, depois um arrepio e um esquecimento completo. teófilo queria perguntar quem é você?, o que procura no meu corpo?, por que me puxa contra si?, mas ao precisar a primeira palavra da pergunta, os pássaros, suspensos como balões, estouravam ou começavam a voar furiosos, soltando gargalhadas. alio queria se concentrar na existência de algo que se plantara dentro de suas coxas, mas sentia a cabeça rolando sozinha no espaço, em meio a pequeninas explosões coloridas. Parece que há u’a mão que me acaricia, mas onde está ela e por que estes rumores estranhos? Sinto que uma perna enche meu corpo, mas, como descobri-la?,  se o único que me envolve são estas brasas derretidas… Quero acordar, acho que sonho, há alguém apertando meu peito pra me matar mas não tenho forças pra acordar… Quero acordar, acho que sonho, há alguém segurando minha bunda, não tenho forças pra acordar…
Continue lendo “apolo e jacinto, 16”
Visitas: 193

apolo e jacinto, 15

apolo e jacinto, 15.

alio parecia ter mil braços, teófilo parecia ter mil pernas, eram duas brasas que, ao se tocarem, provocavam a subida de faíscas de ouro e cada beijo era o desencadear de carrilhões sonoros, bronzes cujo soar permanecia ofendendo os ouvidos. teófilo puxou alio pra cima de si e o respirar de um entrou no outro e os lábios de alio se colaram pra sempre e teófilo sentiu que o esmagavam, era uma pedra que talvez o atingisse e era preciso acordar e um gigante se apossava dele e o cobria e eram solavancos confusos e ele já se lembrava que era alio, o moço de olhos macios, o jovem criado que estava sobre ele, em movimentos rápidos, não sabia porque, uma mãozinha ferida se plantou na sua memória mas de repente a mão saiu voando e outra mão réptil segurou seu sexo e brotou de seu corpo uma fonte que espirrava ovelhas brancas, sempre ovelhas brancas, que se transformavam em peixes pegajosos que eram esmagados por um ventre duro que vinha e ia e voltava e recuava e todo o corpo era um tremor e cada vez que alio baixava e comprimia a barriga contra seu corpo e o peito contra seu peito e as coxas batiam fortes nas suas, o sino tocava dentro dele e continuava ressoando louco até que outra pancada mais forte fazia de novo soar o bronze que era ele e apenas a boca colada permanecia colada porque todo o resto era um incessante vir e ir do corpo aflito de alio.
Continue lendo “apolo e jacinto, 15”
Visitas: 180