canção 10. retrato três por quatro

A ditadura da burrice 05: RETRATO TRÊS POR QUATRO.

 

 

(triolé encadeado)

 

Você é muito bonzinho

sua bondade me espanta.

Bota pedras no caminho,

você é muito bonzinho.

Não deixa o vilão sozinho,

se ele cai, você o levanta.    

Você é muito bonzinho,

sua bondade me espanta.

 

Bota pedras no caminho

e institui a casa escura.

Mói a todos no moinho,

bota pedras no caminho.

Mata a flor mas deixa o espinho

faz florescer a incultura.

Bota pedras no caminho

e institui a casa escura.

 

 Mói a todos no moinho, 

faz da pátria o seu bordel.

Novas leis no pergaminho,

mói a todos no moinho.

Fere a ave, queima o ninho 

e liberta a cascavel.

Mói a todos no moinho,

faz da pátria o seu bordel.

 

Novas leis no pergaminho,

com congresso ou sem congresso.

Silencia o burburinho,

novas leis no pergaminho.

Doa a estopa e veste o linho,

forja na tela o progresso.

Novas leis no pergaminho,

com congresso ou sem congresso.

 

Silencia o burburinho

nos porões da inquisição.

Dá trator, mas vende ancinho,

silencia o burburinho.

Emprega o tio, o sobrinho

e empresta só ao ladrão.

Silencia o burburinho

nos porões da inquisição.

 

Dá trator, mas vende ancinho

e planta as garras da morte.

Fala aos do norte em carinho,

dá trator mas vende ancinho.

Dá o latifúndio ao padrinho,

pisa o fraco, eleva o forte.

Dá trator mas vende ancinho

e planta as garras da morte.

 

Fala aos do norte em carinho

mas emudece a imprensa.

Faz aperto ao colarinho,

fala aos do norte em carinho.

Adia o riso e o vinho,

semeia a convalescença.

Fala aos do norte em carinho

mas emudece a imprensa.

 

Faz aperto ao colarinho

e degola a liberdade.

Você é muito bonzinho,

faz aperto ao colarinho.

Gera o morcego daninho

Ratifica a orfandade.

Faz aperto ao colarinho

e degola a liberdade.

 

(canta jorge teles)

Curitiba, agosto, 1976.

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