Monteiro Lobato – O Saci
O SACI
Capítulos 25, 26, 27 e 28 (fim)
25 – O pingo dágua
A cólera da Cuca foi medonha. Deu um urro de ouvir-se a dez léguas dali, tamanho e tão horrendo que por um triz Pedrinho não disparou na corrida. E outro urro, e outro, e mais de cem.
— Berre, demônio! — gritou o saci.—Berre até rebentar. Pingo d’água não tem ouvidos, nem tem pressa. Esse que botei pingando nessa horrenda caraça vai divertir-se em pingar no mesmo lugarzinho por cem anos, se for preciso. Sei que Cuca é bicho duro, mas quero ver se pode com um pingo d’água que não tem pressa nenhuma, nem tem outra coisa a fazer na vida senão pingar, pingar, pingar…
A dor que a queda de um pingo atrás do outro já estava causando nos miolos da bruxa começava a crescer ponto por ponto. Cada novo pingo era um ponto mais de dor. Naquele andar ela não suportaria o suplício nem um mês, quanto mais os cem anos com que a ameaçara o saci.
— Parem com esse pingo d’água! — berrou a bruxa. Continue lendo “Monteiro Lobato – O Saci”
Monteiro Lobato – O Saci
O SACI
Capítulos 21, 22, 23 e 24
21 – Más notícias
Parece que a mula-sem-cabeça tem a propriedade de afugentar os outros duendes da floresta, porque depois da sua passagem tudo por ali ficou deserto de seres. Só uma hora mais tarde é que os sacizinhos foram reaparecendo, um por um e ainda ressabiados. Mas reapareceram todos, afinal, e recomeçaram as travessuras, apenas interrompidas pela passagem da Porca dos Sete Leitões e do Caipora.
A Porca dos Sete Leitões é uma misteriosa porca alva como paina, que passeia acompanhada dos seus sete leitõezinhos, fossando o chão em procura de um anel enterrado. Só quando achar esse anel poderá quebrar o encanto e virar na baronesa que já foi. Por suas maldades no tempo em que havia escravos, um feiticeiro negro transformou-a em porca e virou seus sete filhos em leitões.
O Caipora é um duende peludo, meio homem, meio mono, que costuma cavalgar os porcos-do-mato e deter os viajantes para exigir fumo. Continue lendo “Monteiro Lobato – O Saci”