Monteiro Lobato – Viagem ao Céu

Viagem ao Céu

 Capítulos 16, 17 e 18

 

16 – Aparece o burro

Quanto tempo estiveram desmaiadas lá em cima do cometa grande? Ninguém sabe. Só se sabe que em certo momento Narizinho estremeceu e foi lentamente abrindo um olho. Depois abriu o outro. Depois arregalou os dois — e viu pendurado sobre o seu rosto um focinho com duas ventas pretas. Apesar da tonteira em que ainda estava, reconheceu naquilo uma cara de burro. E súbito um clarão lhe iluminou o cérebro. O Burro Falante! Aquelas ventas, aquele focinho, aquelas pontas de orelhas só podiam ser do Burro Falante, porque o Burro Falante é que havia rolado pelo éter e na opinião de Pedrinho devia andar enganchado nalguma cauda de cometa.

O animal permanecia imóvel, de cabeça pendida. Com certeza estava naquela posição já de muito tempo, à espera de que a menina acordasse — e de tanto esperar dormiu também. Sim. O Burro Falante estava dormindo!

— Emília! — gritou Narizinho sacudindo a boneca desmaiada. — Acorde! Parece que estamos salvas e com o Burro Falante aqui às nossas ordens.

A boneca arregalou os olhos e esfregou-os. Continue lendo “Monteiro Lobato – Viagem ao Céu”

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Monteiro Lobato – Viagem ao Céu

Viagem ao Céu

 Capítulos 13, 14 e 15

 

13 – Proezas da Emília em Marte

Os meninos quedaram-se calados e imóveis atrás da pedra enquanto Emília se afastava. Meia hora depois já estavam inquietos.

— Fomos muito egoístas, Pedrinho, deixando que Emília saísse com o seu lampeirismo por este mundo desconhecido. Se ela nunca mais voltar, vai ser uma tristeza lá no sítio.

— Não tenha medo — animou Pedrinho. — Emília é uma danada.

E tinha razão de pensar assim, porque logo depois a boneca reapareceu, com cara alegre.

— Estamos salvos! — foi dizendo muito lambeta. — Os marcianos não nos podem ver. Fiz todas as experiências. Passei rentinha duma porção deles. Cheguei até a puxar o chicotinho de um. O coitado levou um susto, mas não me percebeu. Podemos passear por aqui sem medo de nada.

E assim foi. Saíram dali sem medo nenhum e, sempre guiados pela Emília, andaram por toda parte como se estivessem na casa da sogra. Como os dois nada pudessem ver, tinham de contentar-se com as informações da Emília.

— Estamos num maravilhoso palácio — disse ela em dado momento. — Deve ser o palácio do governo dos marcianos. Lá está o rei no seu trono, todo batatal, como se fosse o dono dos mundos… Continue lendo “Monteiro Lobato – Viagem ao Céu”

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Monteiro Lobato – Viagem ao Céu

Viagem ao céu

Capítulos 10, 11 e 12

10 – Mais vistas da Terra

Horas depois a vista daquela enorme Terra pendurada no céu já estava completamente mudada, e Pedrinho retomou as suas lições de geografia a São Jorge.

— Lá está o continente europeu! — disse ele. — Aquelas ilhas naquele ponto (e apontava) são as ilhas Britânicas, ou Grã-Bretanha — a tal Bretanha sem nenhuma importância no tempo do seu amigo Diocleciano. Mais adiante temos a Noruega com os seus fiordes…

— E suas sardinhas também — acrescentou Emília. — As sardinhas da Noruega viajam pelo mundo inteiro nuns barquinhos, chamados “latas”.

São Jorge não entendeu, porque no seu tempo não havia latas. Pedrinho continuou:

— A tal Rússia, que o senhor queria saber onde ficava, lá está — aquele país grandão. É a terra dos russos barbudos, dos cossacos, do caviar, das danças lindas e dos sovietes. Foi onde Napoleão levou a breca.

— Quem é esse leão? — perguntou o santo. Continue lendo “Monteiro Lobato – Viagem ao Céu”

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