o dia sem nome, 16

O dia sem nome, 16.

Eric não acordaria jamais. Jamais seria ouvida a gravação de sua vozinha aflita e soluçante. Por que Bengazi seria diferente das outras? Não. O destino de Bengazi estava escrito na mesma rota implacável das estrelas que tinham condenado todas as cidades da terra. E esse destino também se cumpriu.
A cidade se aquietou nos incontáveis dias e nas pacientes noites que se seguiram. Criminosos não foram libertados e outros tantos não chegaram a ser presos. Foi suspenso o choro infecundo dos inocentes. Os pactos de paz futura não chegaram a ser assinados, pelo mesmo motivo pelo qual pãezinhos no forno não chegaram a ser comidos. Cartomantes tinham sido pagas e não consumaram a leitura do fado triste dos esperançosos. Também não gastaram o dinheiro recebido. Ovos, larvas, crizálidas e girinos não floresceram para a sua participação na harmonia universal. Casas, ruas, cidades, desenhadas com cuidado, tiveram sustada a sua construção. Os indolentes deixaram de trabalhar e o trabalho ficaria à espera para todo o sempre. Nos hospitais desmancharam-se os tumores cancerosos e as hemorragias secaram.
Exemplares de Os Irmãos Karamázovi, em todos os idiomas do planeta, foram soterrados, foram incendiados, foram molhados, foram folheados por brisas desatentas, ventanias analfabetas, vendavais desintereessados em Ivan, que nunca mais falaria, de coração a coração, sobre o desespero do homem.
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