Indice: O dia sem nome (romance)

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Nota: Este livro foi escrito em 1976. A partir de hoje, dia 09 de outubro de 2012, começo a apresentar…

o dia sem nome, 2

        O dia sem nome, 2. João já estava morto. Lá fora alguém cantava uma velha inesquecível canção…

o dia sem nome, 3

    O dia sem nome, 3.   Dacar, dia 14 de abril, 16 horas.   O funcionário começou a…

o dia sem nome, 4

O dia sem nome, 4. Quanto tempo durou tudo aquilo? O obstetra ouviu um ruído confuso, a enfermeira sentou-se, a…

o dia sem nome, 5.

O dia sem nome, 5. Varsóvia, dia 14 de abril, 17 horas Julek, quatro anos, trepado nos ombros do pai,…

o dia sem nome, 6

O dia sem nome, 6. Tudo aconteceu muito de repente. Primeiro, o funcionário percebeu um zumbido e parou de datilografar…

o dia sem nome, 7

    O dia sem nome, 7. Tóquio, dia 15 de abril, uma hora da madrugada. Mieco, quarenta e dois…

o dia sem nome, 8

    O dia sem nome, 8. O que está acontecendo com Toicinho?, perguntou a avozinha ao ouvir aquele ganido longo…

o dia sem nome, 9

O dia sem nome, 9. Getsêmani, à mesma hora. É verdade, é verdade que esta é a noite da minha…

o dia sem nome, 10

O dia sem nome, 10. O que foi que acordou Mieco?, que estranho pressentimento a fez abrir os olhos tão…

o dia sem nome, 11

O dia sem nome, 11. Sidney, dia 15 de abril, 2 horas da madrugada. John Caldwell abriu a porta do…

o dia sem nome, 12

O dia sem nome, 12. Aquele estranho zumbido não pertencia a Wagner. De onde teria surgido? O homem triste compreendeu…

o dia sem nome, 13

O dia sem nome, 13. Bengazi, dia 14 de abril, 18 horas. hoje, então, poderei dormir no terraço?, perguntou Eric…

o dia sem nome, 14

O dia sem nome, 14. A luz vermelha acendeu. John pegou no fone mas não ouviu se não um sussurro,…

o dia sem nome, 15

O dia sem nome, 15. Viena, dia 14 de abril, 17 horas. Ingrid Siegdal, viúva, cinquenta anos, sentada na cadeira…

o dia sem nome, 16

O dia sem nome, 16. Eric não acordaria jamais. Jamais seria ouvida a gravação de sua vozinha aflita e soluçante.…

o dia sem nome, 17

O dia sem nome, 17. Valparaiso, dia 14 de abril, 13 horas, hora de verão. por favor, que caminho tomo…

o dia sem nome, 18

O dia sem nome, 18. Ao ouvir o assobio Ingrid num relance pensou o aparelho enguiçou vou levá-lo amanhã mas…

o dia sem nome, 19

O dia sem nome, 19. Nova Iorque, dia 14 de abril, 11 horas. não é a toa que me chamam…

o dia sem nome, 20

O dia sem nome, 20. O carro foi parando de repente, deu uns saltos e morreu. Nenhum dos dois entendeu…

o dia sem nome, 21

O dia sem nome, 21.   São Paulo, dia 14 de abril, 13 horas. Confusão e sono. Sono e dor. Dor…

o dia sem nome, 22

O dia sem nome, 22. Baby Longfuck não mordeu o segundo naco de queijo. Parou para prestar atenção ao zumbido,…

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o dia sem nome, 23 (final)

O dia sem nome, 23 (final).
O dia sem nome.

A madrugada surgiu com a mesma ternura. Rósea e fria, primeiro aqui, depois ali, a brisa, o vermelho, o dia. O dia que não teria nome. O primeiro dia de uma série de desesperados dias iguais. Geleiras desceriam, continentes deslizariam, por que não novos Andes e novas fossas oceânicas?
Desceu sobre a terra o primeiro dia da descriação.
Não havia homem a perguntar para quem a luz foi feita ou para quem foram separadas as terras das águas.
Em volta, no buraco sem fundo, a mesma regularidade, silenciosa, desconhecida, eterna.

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Foi Wilhelm, Gaston, Sven, Ali ou Luís, aquele que queimou noites acordado, em busca da fórmula maligna?
Foi o Deus dos dez mandamentos, quem apontou seu dedo em direção ao planeta azul?, com seus míseros quatro e meio bilhões de anos!
Foi James, Mark, René, Gaspar, Giuseppe ou Vassili, o Mestre da Guerra que patrocinou a estadia de luxo aos sábios da destruição inapelável?
Foi o Deus da vitória, quem soprou a morte sobre a vidinha teimosa da poeirinha?, essa vidinha com seus três e meio bilhões de anos!
Ari ou Hector, Mulla ou John, Arnold ou Matteo, o homem que trancou à chave os papéis do projeto implacável?
Foi o Deus do dilúvio, arrependido pela segunda vez por ter criado, que resolveu descriar?
Hindu ou grego, peruano ou iraniano, belga ou coreano,
russoouamericanoouchinês?,
aquele que deu o sinal aos computadores orbitais, seguido de outros sinais por pura segurança, retaliação, vingança,
senósnosvamoselestambémsevão,
senósnãoescaparemosninguémescapará,
nadavaisobrarparacontarcomofoi
nemoquêexatamenteaconteceu…
A terra não teve chance de chorar seus mortos. Foi inútil o grito agoniado dos últimos profetas.
A qual Deus foi feito o sacrifício absoluto, idiota e fatal?
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Foi tudo de repente. Foi tudo tão de repente! O assobio e a morte. A foice degolou simultaneamente a todos os micróbios do planeta vadio. Crianças mamando, velhos apagados e semimortos, fetos e soldados, homens que lutavam e casais em êxtase orgástico.
Não houve aviso, e, exatamente por isso, não houve espera nem desespero. Ninguém tivera tempo de tecer a lamentação de Cassandra. O fim tocou de mansinho, abateu um homem assinando a ruína de todo um povo com a mesma doçura com que desmanchou o suspiro do menino apaixonado.
Chegou com a mesma brandura para o homem que acabava de escrever um livro qualquer e um qualquer outro homem que acabava de ler um outro livro qualquer.

Curitiba, 07 de outubro de 1976.
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o dia sem nome, 22

O dia sem nome, 22.
Baby Longfuck não mordeu o segundo naco de queijo. Parou para prestar atenção ao zumbido, quem sabe seria um tipo de alarme de alta frequência, o braço pendeu e seu corpo dourado e perfeito começou a se derreter, como uma estátua de Adônis nu que fundisse.
Fora dali, sempre o mesmo. Por ser em Nova Iorque, porém, o silêncio pareceu maior, porque parido por um gemido mais intenso. Os milhões de habitantes, como uma monstruosa, irreverente, escandalosa, ousada e obstinada colônia de térmites, todos eles se desfizeram com o mesmo espanto que não chegou a ser cumprido nas consciências. Houve também desastres de fogo, água, colisões, desabamentos, tudo em maior escala, mas que diferença faria agora uma maior ou menor escala?
O formigueiro tinha sido vencido, finalmente. A imensa Babilônia tinha sido arrasada então, não sendo necessário um Átila do Nada espalhar sal sobre as suas ruínas porque também os animais e as plantas dançaram breves a imensa valsa do aniquilamento da vida.
O Hamlet, sozinho e agonizante, no imenso palco, não terminou seu monólogo de angústia e delírio. Ficavam os textos. Nem traças restavam para devorar as letras, enquanto ignorassem a dor e a loucura do mundo. Torturadores e torturados misturaram-se impudicamente, a mesma massa informe, impassível e incapaz. Acabara-se a humilhação diante da força mas acabara-se também a esperança de um dia poder-se acabar com a força da força. As imensas naves dos templos fizeram ecoar por muitos anos as quedas dos objetos e dos cacos de vidro e dos pedaços de paredes. Os deuses não precisavam mais dos templos, que não mais havia homens que precisassem de deuses.
Um computador numa capital africana terminava ironicamente a contagem para indicar um primeiro presidente eleito. Eleito mas não coroado se não pela coroa da morte.
O que dizer das serpentes e dos escorpiões e das aranhas, cheios de peçonha? O que dizer dos sabiás e dos cisnes e dos esquilos? O que dizer da imensa brincadeira de guerra dos soldados noviços, amputada inesperadamente de seu troar retumbante da artilharia pesada, perigosa e idiota? O que dizer da orgia aflita dos corpos misturados às drogas e ao suor, todos tentando ser felizes num fugidio momento de orgasmo, esquecidos de que, para um grande gozo, basta um parceiro cheio de amor e confiança?
Os culpados foram desculpados, os feitos foram desfeitos, os governos foram desgovernados, os mascarados foram desmascarados. Os crentes, descrentes, os ditosos, desditosos, os acatados, desacatados, os armados, desarmados. Acreditados, desacreditados, ajustes, desajustados, infectos, desinfectados, acertos, desacertados.
Desconjunto, desnível, desnorteio, desconcerto, desconsolo, destroço, despropósito, desmantelo, desordem, desespero, descontrole.
Tudo isso era Nova Iorque. O maior vazio da terra. Do tamanho de todos os outros vazios. O maior silêncio do mundo. Como todos os outros silêncios. A grande massa esfarelada. Ferro, cimento, asfalto, ao vento, ao sol, ao que não fazia mais sentido, ao que era mas não era. Era, mas não adiantava mais ser.
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